TEXTOS DO AUTOR

CALÇADAS DO LAGO NORTE E CIDADANIA — noções básicas

Aprenda o que é uma junta de dilatação. Entenda o que considero falta de cuidado para com a coisa pública no Lago Norte. Se se impressionar com este caso, por que não juntar cidadania com atitude? Tomar atitude faz bem para a saúde.

Quando você faz sua caminhada pelas calçadas do Lago Norte, em Brasília, ou em qualquer outro lugar, geralmente passa por sobre umas ripas de madeira de tempos em tempos, não é assim? Calçada, ripinha, calçada, ripinha... Elas são as chamadas juntas de dilatação. Impedem que as calçadas trinquem. Quem não gosta de ripa de madeira, faz corte a disco.  Vocês já viram isso também.

Nas últimas calçadas feitas no Lago Norte, bairro de Brasília, no final de 2008 e começo de 2009, o Administrador Regional e sua equipe, não gostando das ripinhas, fizeram corte a disco. Quem fez o corte não sabia bem como era.  E fez depois que as calçadas já haviam trincado, quando fez, pois deixou de fazer em muitos lugares. E a comunidade do Lago Norte nem percebeu, ela que costuma ser exigente. Poucos notaram. O pior, ficaram quietos.

Administração Humberto Léda ç foto acnFiz muitos documentos sobre o assunto, denunciei... Ninguém ligou, pedi demissão. Não quis trabalhar lá, bem perto dessas coisas erradas.
A Administração deu de ombros, pagou as faturas e partiu pra outra. Opção clara pela quantidade. Qualidade é outro assunto.

Passados nove meses da minha demissão, sempre que ando pelas calçadas do Lago Norte ainda tenho náuseas. E me lembro desse caso de descaso.

No final de julho, resolvi caminhar no trecho de calçadas que corta o canteiro central da via EPPN, na frente do Península Shopping, em direção ao supermercado Pão de Açúcar. Sabem o que descobri? Nem juntas de madeira, nem juntas cortadas a disco. Só trincas, claro! Faturas pagas! possivelmente obra recebida. Consultando a Comissão de Recebimento de Obras agora em dezembro, constatei que o processo de recebimento se arrasta. Ainda é tempo, quem sabe...

Natural que vocês perguntem se o Administrador tem conhecimento desse fato. Bem, ele leu meus memorandos, viu minhas fotos, leu meus relatórios. Será que não entendeu os meus arrazoados? Pouco provável, e pouco elementar, meu caro Watson. Acho que todos entendem o que escrevo. Menos minha neta, claro, ainda não alfabetizada.

Dia desses, passando por lá novamente, eu estava na presença de dois engenheiros. Angustiado, narrei o fato, falei em Ministério Público, falei em Tribunal de Contas... Conjecturas...

Um deles, antes de se manifestar, contou uma história: Salim vivia angustiado por causa de uma dívida para com Mohamed. Não conseguia pagar.  E não dormia por isso. A mulher de Salim, numa noite comprida, resolveu tomar uma decisão. Ligou para Mohamed e disse que Salim não mais iria pagar a dívida.  Aliviada, virando-se então para Salim, lhe disse: “Pronto, meu bem, vê se dorme. Quem não dorme agora é Mohamed”...

Todos rimos, a piada é velha... ao que ele continuou... Me disse que diante de tantos desmandos, o melhor é esquecer tudo, para não se aborrecer com a impunidade.  “Vá dormir tranquilo, bote uma pedra em cima disso. Esqueça! Quem tem a consciência pesada é que não vai dormir.” Bem, a semelhança com a historinha do Salim é pequena, hão de convir, já que não estou devendo nada.

Mas tenho minhas dúvidas em seguir o conselho desengajado. Esquecer tudo? Não sei, não sei...  Enquanto penso, passo um conselho a vocês. Não deixem a cidadania de lado. Tudo que for reprovável não pode e nem deve ser aceito passivamente.

A aulinha rápida do início foi só de calçadas. De cidadania, todos já têm noção. Nós todos temos de pensar duas vezes antes de desistir do ato de denunciar. Falo de forma geral, sobre todo e qualquer fato ou acontecimento que possa contrariar preceitos morais ou éticos, sejam eles delitos pequenos, crimes grandes de lesa-pátria, ou que afrontem a legalidade, a boa técnica.

Acho, sim, que todos devemos botar a boca no trombone, quando nos sentirmos desrespeitados nos nossos direitos. E sempre que tivermos razão, em defesa do interesse comum, em defesa do dinheiro do contribuinte, denunciar, agir. Denunciando, a gente dorme! Quem não dorme é aquele que tem o rabo preso. Claro que vocês me entenderam.

Aristides Coelho Neto, 28.12.2009

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