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Vendaval nos 50 anos de Brasília

Mal me quer, bem me quer. Sirene: esconde. Apito: sempre alerta. Par: renuncia. Ímpar: empaca. Mas que festa essa em Brasília nos seus 50 anos...

Paulo Octávio quase renunciou ontem, 18 de fevereiro. Já tinha mostrado a carta explicativa, que iria ornamentar a história do Distrito Federal, a um montão de gente. De repente: grudou na sela. E Arruda, na cela.

Caos de todo diaç, de Alexandre SantosE vieram as especulações: por que será? por que será?

Geralmente os analistas deixam para mais à noite seus arrazoados midiáticos. Pensam, pensam, ligam pros colegas, trocam figurinhas. E os assuntos vão pipocar pujantes nos telejornais notívagos, em análises mais amadurecidas e acuradas.  No entanto, os repórteres do dia têm de manter a notícia fresca, acesa, efervescente, apetitosa. E dá-lhe bobagem. Até em Paulo Octavio não “renunciou-se” falaram. E a gente se diverte com os improvisos. Pra não chorar com a verdade crua do cenário vergonhoso e delicado que Brasília apresenta.

Às vezes ficamos pasmos, por exemplo, tentando imaginar se é do protagonista ou foi inferência equivocada do repórter ou comentarista. Ao conjecturar que PO teria sentido certos sinais positivos e promissores de apoio ao adiamento do seu processo de impeachment, e por isso resolvera não renunciar, custa-me acreditar que isso não seja brincadeira, num momento tão sério da história política do DF, em que o descrédito fala mais alto, e grassa sem graça por entre nossos governantes e parlamentares. Surgem espasmos de esperança na cabeça de alguns de que a sujeira seja lançada para baixo do tapete. Teria sido um juízo de valor do repórter? Sei lá. Parece que não. Acho que esse é o pensamento geral mesmo.

E teria mesmo o Planalto não se pronunciado nem a favor nem contra a intervenção no DF por desconhecer que impacto isso teria no processo eleitoral? Inacreditável! As pessoas jamais raciocinam com olhos no interesse público. Sempre a preocupação com seu umbigo individual ou de seu grupo. Ou bando.

Está tudo muito confuso. O Distrito Federal parece ter sido acometido de uma arritmia. Os batimentos oscilam, a temperatura muda, as fofocas explodem. Tudo leva a crer que os 50 Anos de Brasília serão realmente memoráveis.

Parlamentares não dormem mais direito, com medo de vampiros, lobisomens, de policiais com seus cacetetes, caiporas, de alienígenas de planetas Pandora. Crises de pânico ao ouvir uma simples campainha. Desquites, desprezos, disfunções, descarrilamentos, decepções, desatinos, despressurizações são palavras que povoam os pensamentos e sonhos aflitivos. A consciência pesa e martela, produzindo zumbidos insuportáveis.  Pesadelos fazem parte do cotidiano noturno e às vezes diurno daqueles que se julgam acima de todas as coisas. Escândalos grandiosos passam a comezinhos nos sentimentos corroídos por desvios de conduta que tomaram conta do cotidiano dos homens públicos. Hoje simulam fios descapados, tão perigosos que são. Não sabiam onde morava o perigo até que uma luz vermelha intermitente ao som da sirene invade a sua consciência.

Eurides Brito é a única que dorme tranquila, diz ela. Mas Arruda nem dorme mais com Flávia faz uma semana. Entre eles uma porta da qual nenhum dos dois tem a chave.

Mas que quadro esse! Nesse Carnaval, parlamentares que ouviram “pandeiro” associaram a “pandora” e fizeram xixi nas calças, e depois mudaram da água pro vinho, e levantaram a bandeira do trabalho. E gritaram palavras de ordem: moralidade já! E gritaram forte, porque ninguém mais os ouve ou acredita neles.

Não, não mesmo! Brasília depois desse vendaval não será mais a mesma.  E dizem que a única diferença daqui para o resto do país é que aqui as cenas são mais bem gravadas, o que torna o cenário mais picante.

Se Durval Barbosa exportasse essa tecnologia de gravações, bem possível que o Brasil das falcatruas impregnadas tremesse. E quem sabe renascesse das cinzas sob a égide do bem.


Aristides Coelho Neto, 19 de fevereiro de 2010

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