TEXTOS DO AUTOR

MÁFIA BRASILIENSE

Agora também temos máfia própria, genuína, menor um pouco que a da esfera federal. Porém viva e atuante.

Apesar de meus avós terem vindo de lá, ainda não conheço a Itália. Me contento por enquanto em apenas morar numa península em Brasília que tem o formato de bota, como a península itálica.

Recentemente, outros fatores, que não geográficos, aproximam o Distrito Federal, lugar onde moro, da Itália. Aqui também temos máfia própria, genuína. Claro, nós todos, brasileiros, temos a do Governo Federal e Congresso. Mas nós, candangos, temos a nossa, distrital, particular, menor um pouco. Porém viva e atuante.

No entanto, igualzinho na Itália, parece que passaremos o resto de nossas vidas assistindo à mafiosa famiglia driblar a justiça e se safar das grades, no mesmo estilo do modelo maior italiano, que sobrevive na impunidade, com seus tentáculos praticamente invisíveis.

Por uma Brasília limpa!Sobre a máfia brasiliense, está disponível nas págs. 40 e 41 da revista VEJA de 30.12.2009, um excelente texto de Diego Escosteguy. Ao mencionar don Roriz, don Arruda, capo Durval Barbosa e descrever como se comporta a famiglia aqui instalada, VEJA conclui que a aceitação de Roriz — um grande mestre da bandalha, segundo o redator, com 44% dos votos hoje — "é uma triste homenagem à impunidade no mundo político".

Sem comentários à corajosa reportagem da VEJA, apenas presto um pequeno auxílio ao leitor, para que possa ler o texto integral de Entre a máfia e a máfia tanto no site da Federação Nacional dos Policiais Federais como no do Superior Tribunal de Justiça. Além de disponibilizar algo sobre a máfia, aproveito ainda para informar que butim quer dizer "produto de roubo ou pilhagem" e que pizzo significa "imposto mafioso", para que o leitor se situe melhor.

Como a prestar um serviço de utilidade pública, tenho o dever também informar que Gim Argello não me permitiu comprar a revista ISTOÉ da semana, que fazia menção à sua história de ascensão rápida. Só numa banca de jornais aqui da península não itálica, ele gastou mais de 1.000 reais, comprando os exemplares que continham a reportagem O homem de R$ 1 bilhão, que só me foi permitido ler pela web.

Como ando embasbacado, sem muito o que dizer diante do cenário brasiliense que se abriu a partir de 27.11.2009 com a operação Caixa de Pandora, só me resta entrar no ritmo das homenagens.

Neste final de 2009, portanto, minha homenagem a Durval Barbosa, delator do esquema. Se tivéssemos cinco mil durvais barbosa, tudo seria diferente. Não, eu não disse que haveria um saneamento geral no país — apenas ficaríamos por dentro de tudo, teríamos mais assunto em nossas reuniões habituais. Leve-se em conta que durvais barbosas, antes de abrirem o bico, antes de delações premiadas, fazem um grande estrago no erário.

Já a impunidade, lamentavelmente, seria mantida. Tudo como sempre, tudo como dantes. Até que as novas gerações produzam homens de bem para substituir os que estão aí.

Como produzir homens de bem? Tudo indica que o cerne da questão está na família. Nada de famiglia, capo, don, Cosa Nostra, pizzo, consigliere. Família, célula-mãe e digna da sociedade.

Aristides Coelho Neto, 29.12.2009

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