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Praça do Frete, bem ali, pertinho do Deck Norte

Mais para pátio de serviços do que para Praça do Deck Norte, o local é ponto de oferta de trabalho, com direito a lava-pés.

Estamos bem em frente ao shopping Deck Norte, Península Norte, Brasília. E o policial militar quase cantou Casinha Branca, ao lembrar da época em que o seu posto policial funcionava na casinha de madeira do outro lado da pista. “Ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela, para ver o sol nascer...” Bem a casa-posto não era branca, era envernizada, mas que era mais aconchegante, isso era! Agora ele trabalha num posto todo moderno, verde e branco, mas devassado e frio, plantado no canteiro central da pista... Ah! não! mil vezes o outro, deve pensar.  Pela janela se vê o lugar em que se erguia a casinha, na praça inaugurada com alarde.

Sim, chamam de praça o local da antiga casa de madeira dos policiais. Não terminava nunca a obra, mas hoje está lá. Praça. Um exemplo de devaneios insossos, dizem alguns, e de falta de planejamento, dizem outros. A placa da obra 375 declina — passeios, iluminação, bancos, pergolado, fonte d’água, bicicletário, lixeiras seletivas, pátio de exercícios. E nem uma viva alma para usufruir.

Está bem, reconheço que exagerei. As pessoas até usam as calçadas, sim. Mas passam por elas. Usam apenas como meio para chegar a algum lugar, nunca com aquele fim de usar a praça — passa-se pela praça. A iluminação é boa. Inegável. Mas quem se banha de luz na praça são só as mariposas e outros bichinhos voadores. Os bancos, resultado da Lei de Lavoisier (eram casa, agora são bancos), ninguém usa para sentar e se aboletar na falsa sombra dos pergolados.

O bicicletário, não achei, mas deve estar lá porque geralmente placa não mente. As lixeiras permanecem novinhas.  Só falta a Administração Regional do Lago Norte distribuir doses seletas de lixo para a comunidade, para que todos possam colocar nos recipientes coloridos, seletivos, imóveis, vazios. E quem sabe tristes, porque se ressentem da falta das sujeiras orgânicas e das secas. Se fossem gente, estariam em franca depressão, aposto. Querem judiar de um pipoqueiro? Botem o cara pra fazer ponto ali.

O uso da fonte d’água tem sido esporádico. Para não confundir com fonte de esperança, fonte de consulta, a placa esclarece — fonte d’água. A engenhoca por onde sai água resume-se a um simplório perfil metálico em “u”, por onde a água jorra. De vez em quando vejo um rapaz sentado na borda do laguinho. Enquanto lava o pé, olha para o movimento da Estrada Parque Península Norte.

O chamado pátio de exercícios, pintado de vermelho, concebido para ser multiuso, hoje é destinado apenas às pessoas que não precisam de exercícios. Por isso, a área passa a multidesuso — não necessita da presença de usuários.

Mas a tendência sempre é de as coisas se acomodarem. Uma lei natural essa. Quem faz frete gostou da praça e lá se instalou. O pessoal da kombi que oferece animações para festa também. O sujeito que conserta rede telefônica, da mesma forma. Quem faz poda marcou presença. O caminhão do guincho se reveza. A praça agora tem utilidade.

E o policial continua a olhar pela janela. Balbucia “Casinha Branca”. E pensa com seus botões: projeto de advogado é coisa bem diferente mesmo...

Aristides Coelho Neto, 11.9.2009


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