— Boa tarde. O senhor tem o direito de não responder a qualquer pergunta que julgar inconveniente, professor. Mas a Comissão de Ética tem grande expectativa de que a verdade prevaleça.
— Os senhores terão todas as respostas. E sempre revestidas de lisura, honestidade e fidelidade semântica.
— !!!
— :(
— O senhor reconhece, professor e deputado, sua índole violenta ao dizer em várias oportunidades a seus desafetos que "brigava na pista e na rinha"?
— Jamais eu disse isso. Disse, sim, que sou "brigadista de carteirinha". Ser brigadista é sinônimo de respeito, de preservação da vida e da paz.
— Nas gravações telefônicas legalmente autorizadas, o senhor teria afirmado que, pressionado, "botaria a boca na corneta". Não está clara, professor, a alusão a "boca no trombone"? no sentido de dizer o que sabe de ilícitos que incriminam seus pares?
— Há um equívoco. Onde se supôs "botaria a boca na corneta" leia-se "bateria na popa da corveta". Eu falava de esporte náutico.
— O senhor, deputado, não acha falta de respeito ter afirmado — perante testemunhas, o que é pior — que o juiz tinha "espírito de porco"?
— O que está sendo traduzido como desrespeito era na verdade um elogio. Na verdade, eu dizia reconhecer naquele recinto um "espírito de poucos". Referia-me ao fato de que poucos possuíam um espírito de equipe como aquele.
— O senhor confirma ter dito que o desvio foi feito "de propósito com o gay"?
— Negativo, senhores. Eu apenas, antes de relatar o fato que comprovava a minha inocência, não dizia "de" propósito com o gay, mas "a" propósito, by the way. Como os senhores sabem, "a propósito" significa "by the way". Reforçava a ideia, senhores. Resta alguma dúvida?
— Está bem clara a sua conivência ao dizer com todas as letras ter prazer em "ir ao encontro de interesses escusos mas rentáveis".
— Nem todas as letras, senhores. Ratifico aqui em público, diante das câmeras, que me rejubilo muito de "ir de encontro a esses interesses escusos". Eu disse "de" e não "ao". Tenho a consciência tranquila. E nesse combate às ilicitudes eu sou vanguarda. E exemplo que merece ser seguido.

— Quando o senhor afirmou que "o povão tem o rabo preso", é evidente tratar-se de uma observação codificada para reafirmar que tem conhecimento das fragilidades de muitos de seus colegas de parlamento. O curioso é que seus pares não são povão...
— O que eu disse posso repetir. Não afirmei que o povão tem o rabo preso, mas que "o pavão tem o rabo teso". Caso contrário não conseguiria abrir aquele leque maravilhoso que deslumbra e conquista as fêmeas.
— ...
— :)
— Alguém tem mais alguma pergunta?
— (silêncio geral)
— O senhor está dispensado. Muito obrigado.
— (aplausos solitários do assessor)
Aristides Coelho Neto, 6 jun. 2009
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