A aula tinha sido excelente. Drogas lícitas, drogas ilícitas. O caso do cigarro e as substâncias que criam dependência — estratégia atroz de manter os dependentes pela rédea curta da química. Por isso não é fácil tirar o cigarro de uma pessoa. Caramba, mais ou menos quatro mil e quinhentos complexos químicos, como arsênico, amônia, sulfito de hidrogênio e cianeto hidrogenado. Argh! E a gente pensava que o problema era a nicotina!
E o grupo caminhava de volta pra casa.
— Caracas! câncer de pulmão, bronquite crônica.
— Doenças do coração...

— Eufizema...
— Ua, ua, uá!!! Eu fiz ema? Foi Deus que fez a ema, moleque! É enfisema.
— Câncer de boca e de laringe não é brincadeira.
— Câncer de intestino, bexiga é pior.
— Meu pai tem úlcera.
— Quantas porcarias mesmo no cigarro?
— Quatrocentas.
— Que mané quatrocentas... Quatro mil e quinhentas, cara!...
— Lembra-se da Rê? Ela disse que quando parou de fumar não conseguia nem pegar o ônibus...
— Caramba, ela disse isso?
— Disse. E eu acredito. A pessoa fica perdidona no início, quando quer largar.
— Chama-se crise de abstinência.
— Gostei da hora em que o professor falou que fumou na adolescência porque "queria ser homem". E que os mais inteligentes não precisavam de fumar. Como ele não se julgava inteligente... então usava o cigarro.
— Cigarro dava status, poder.
— Eu fumo mas não me sinto burro.
— Eu não boto minha mão no fogo por você.
— Vai ser a primeira coisa que vou dizer hoje pra tia Isabel.
— O quê?
— Que ela fuma porque quer ser homem.
— ...
Aristides Coelho Neto, 22 abr. 2009
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