TEXTOS DO AUTOR

DIÁLOGO HIPOTÉTICO

Nisso o repórter estava certíssimo: depois da segunda, ninguém sabe mais o que está tomando... Mas o diálogo é só de mentirinha. Quem escreve tem licença poética. Por isso mente muito.

“Foram presos em Brasília quatro homens que falsificavam cerveja.  Compravam cerveja mais barata, retiravam rótulo e tampa, substituindo-os por de cerveja mais cara. Esta última ditava os preços a serem praticados. E era daí que vinha o lucro da quadrilha com a fraude.”

— Como o senhor, que é representante da Glacial, avalia o golpe aplicado pelos falsificadores? de vender Glacial por Skol?

— Bem, nós da Glacial estamos movendo um processo contra os bandidos e contra os profissionais da imprensa.

— Explique melhor, por favor.

— Não nos importa tanto a ilicitude do ato da falsificação. Importa, sim, o fato de os meliantes terem escolhido justamente a nossa cerveja. Que é mais barata. Levaram de cara o público a imaginar que nossa cerveja é ruim. Denegriram a nossa imagem. Rebaixaram o nosso produto a uma segunda ou terceira categoria. Isso é inconcebível.

— E quanto à imprensa? Por que processar os jornalistas que fizeram a cobertura do caso?

— Porque ao declinar o nome da Glacial com ênfase, e mostrar imagens, reforçaram a ideia (equivocada) de que nossa cerveja é inferior.

— E o consumidor, como o senhor acha que fica?

— Bem, não houve ninguém, eu disse ninguém, grave bem isso, que reclamasse da troca de rótulo. Não viram diferença na qualidade da cerveja.

— A não ser que depois da segunda ninguém perceba mais o que está tomando.  

— Aí é outra história...    

 

Aristides Coelho Neto, 3.3.2009

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