TEXTOS DO AUTOR

ENQUANTO O SENHOR VOLP NÃO VEM

O Novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa — VOLP, aguardado por usuários da língua e pelos grandes dicionaristas, vai ser lançado em março. Enquanto esse instrumento de dirimir dúvidas não chega, a gente vai caçando com gato.

Não vamos exagerar e dizer que a implantação do Novo Acordo Ortográfico, em vigor há 23 dias, está uma casa-da-mãe-joana. Exagero! Joana I, que viveu no século IV, como sabem, foi quem emprestou seu nome ao surgimento da expressão. Condessa de Provença e rainha de Nápoles, em 1347 regulamentou os bordéis de Avignon, onde vivia enfurnada. "Casa-da-mãe-joana" virou então sinônimo de bordel, lugar de bagunça, baderna, de falta de ordem.

E o filólogo Evanildo Bechara não quer que o assunto da consolidação do Novo Acordo tenha a ver com Joana. Atenta à questão, parece que a equipe sob o seu comando está em vias de entregar o novo VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Provavelmente, então, os grandes dicionários – como Houaiss e Aurélio – sejam lançados. Como sabem, é a finalização do VOLP que vai dirimir muitas dúvidas e os “etc.” que o texto do Acordo trouxe em seu bojo, principalmente na questão do uso do hífen. 

Só no dia 16 tentei localizar o “Escrevendo pela nova ortografia”, lançado pela Publifolha.  Mas todo mundo teve a mesma idéia naquela sexta-feira. Acho que as pessoas queriam dar uma olhada no fim de semana.  Resultado: nas grandes livrarias de Brasília estava esgotado.

Para não dizer que voltei para casa sem nada, comprei um livreto da Vestcon, chamado “Nova ortografia simplificada”.

Em livros que falam de regras de ortografia, quando aparecem erros, fica sempre a dúvida ao leitor (se ele perceber) se são conceituais ou deslizes de revisão textual.

No caso do “ultras-som”, em vez de “ultrassom”  que encontrei na p. 18, em se tratando da intensa expectativa em torno da nova grafia, a questão fica bem delicada.  Onde estava o revisor?

Se na Reforma a maior dúvida é o hífen, fixei-me nas tabelas trazidas pelo autor. Na p. 13 é dito que o hífen se usa para encadeamento de palavras. Os exemplos estão lá: “Estrada Brasília-Goiânia” e “divisa Brasil-Argentina-Paraguai”.

Já percebi por experiência própria que alguns clientes meus demoram a perceber a diferença que existe entre hífen e travessão. Alguns não enxergam mesmo. O nome antigo do hífen era traço-de-união, um sinalzinho em forma de um pequeno traço horizontal (-). Esse sinal diacrítico recebe também o nome de risca-de-união, traço-de-união ou tirete. Hífen (-) é diferente de travessão (– ou —). Hífen é o menor de todos. Cabe dizer que há quem chame o sinal (–) de meia-risca e não de travessão. Há quem o chame de travessão pequeno. Eu, por exemplo.

Quanto aos exemplos do livreto da Vestcon, especificamente “Estrada Brasília-Goiânia” e “divisa Brasil-Argentina-Paraguai”, eu recomendo travessão e não hífen. E fico com a explicação do prof. Eduardo Martins. Quando se quer ligar palavras ou grupos distintos de palavras que não formam um terceiro significado, ou seja, em que não existe um conjunto semântico, como nas palavras compostas, mas apenas encadeamentos como os que se seguem, usa-se travessão e não hífen.  É o caso das cadeias vocabulares “Estrada Brasília–Goiânia”, “divisa Brasil–Argentina–Paraguai”, “análise custo–benefício”, “relação médico–paciente”, “antagonismo capital–trabalho”, etc.

Mas há pessoas que nem com lupa vão perceber a sutileza da diferença entre hífen e travessão.

Quanto ao resto do livrinho, vou ter de olhá-lo com muita atenção, o que é recomendável a todo leitor, principalmente revisor, é claro.

“Escrevendo pela nova ortografia”, comprei pela web. Chega em nove dias úteis. E vamos aguardar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e os dicionários digitais.  Informações do Estadão dão conta que o VOLP será lançado no começo de março pela Editora Global. Com 370 mil palavras, substituirá a edição de 2004. Enquadrado nas regras do acordo ortográfico, incorporará mais de 10 mil novos verbetes.

E enquanto o VOLP não chega, vamos nos virando com o que dispomos. As tabelinhas práticas, a web, os amigos profissionais. Sem cão, a isso dá-se o nome de caçar com gato.

Aristides Coelho Neto,  23.1.2009

Comentários (3)

Voltar