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BELÔ, AFEIÇÃO À PRIMEIRA VISTA

Belo Horizonte foi projetada em 1895 por comissão liderada por Aarão Reis (1853-1936). Inaugurada em 1897, tem um traçado interessante, com praças baseadas no modelo francês.

Há quem diga que adora andar de avião. Pudera, é mais rápido e mais seguro. A  obviedade da afirmação poderia levar a outra frase — prefiro filé-mignon a carne de pescoço.

Fomos de avião a Belo Horizonte. E fomos fazendo comparações. Foi-se a época dos talheres metálicos da Vasp e da Varig, que muitos levavam pra casa como suvenires.

Os locutores que anunciam os vôos no aeroporto hoje são quase taquilálicos.

Iris Lettieri, apesar da voz excelente não se enquadraria mais aos padrões hodiernos. Os novos tempos exigem velocidade. Voz pausada e sensual, ela demorava um pouco para dar o recado. 

As comissárias também já não são mais aquelas misses emplastadas de maquiagem.

Belô é cidade planejada. Traçado interessante, a malha urbana central, nos limites da avenida Contorno, é ortogonal, mas grandes artérias surgem em diagonal, formando praças. São tipos de praça que funcionam como canalizadores da dinâmica urbana das cidades, segundo Nara Freire Costa, arquiteta e urbanista. Originalmente, o que era urbano estava dentro dos limites da Contorno. Hoje essa área é apenas o centro de uma grande metrópole, a quinta em população na lista das maiores cidades brasileiras, empatando com Fortaleza, obviamente com problemas já por demais conhecidos: trânsito, violência etc.

Belo Horizonte, com seus muitos bares e restaurantes, com um centro agitado, por vezes intransitável, deixa a perceber claramente que os problemas de trânsito estão globalizados no Brasil, pedindo uma intervenção bem estudada e precisa.

Visitar Belô nos leva a perguntar se gostamos da agitação só na condição de turistas ou não a suportaríamos no dia-a-dia de morador...

Bem, é bom sair da rotina. Se bem que fico constrangido ao sair do hotel chique e o motorista de táxi pensar que estou muito bem de vida. Mal sabe ele que paguei a Bancorbrás durante um ano inteiro para estar ali por quatro dias.

E a gente acaba fingindo na maioria das vezes que algumas novidades fazem parte do nosso cotidiano mesmo. Vá querer entender...  Acreditam que, quando cruzamos com o Luis Fernando Verissimo desembarcando em Brasília para a Expo-tchê, fingimos que não o conhecíamos? E que fizemos isso também quando cruzamos com o ator Paulo José no restaurante do hotel?

Há recadinhos engraçados em Belô iguaizinhos aos de Brasília e que deixam os revisores textuais a pensar, a pensar. Vocês vão dizer que é chatice de revisor, mas sabem aquele aviso aos passageiros de elevadores “antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”?

Pois é, sempre imagino que o recado é para você prestar atenção se é o mesmo elevador que está parado ou é um outro qualquer que estava passando por ali...

Bem, não vou me estender muito. O recado mesmo é de que tive muito boa impressão de Belo Horizonte. O mineiro é hospitaleiro. Alguns até exageram, como a beijoqueira ascensorista do Mercado Central.

Embora a sensação do quero-mais-belô tenha ficado evidente, foi engraçado deparar com o livro “Fortaleza digital”, de Dan Brown na vitrine da galeria do edifício Maleta. Funcionou como incentivo o título. Foi olhar e dizer em voz alta de forma entusiasta: “Taí, agora a próxima escala é Fortaleza...” rsss

 

Aristides, em 3.6.2008

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