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AINDA A REFORMA ORTOGRÁFICA

Em 4.2.2008 publicamos "A reforma não vingou". Mas parece que vai vingar. Surgem novidades. Entenda a pendenga. Ou não entenda. E relaxe, pois quem se aperta mesmo é o revisor. Não tem jeito.

O assunto do novo acordo ortográfico foi tratado em "Além da Revisão" de forma um tanto quanto tímida. Livro no prelo, começávamos 2008 sem saber direito dos rumos da implantação da reforma. O assunto não evoluíra por aqui, embora estivesse efervescente em Portugal.

Se o acordo vingasse mesmo, eu teria de virar Além da revisão de cabeça para baixo... tabelas, listagens de palavras, muitas adaptações. Todos sabem que basta um acento numa página para inviabilizar o fotolito inteiro. Novo fotolito, nova chapa. Antes, porém, nova revisão, claro!

Artigo recente de John Robert Schmitz, na revista Língua Portuguesa n. 30, dá notícias de aprovação em 6.3.2008, por parte de Portugal, da proposta do segundo protocolo modificativo do acordo ortográfico da língua portuguesa. A transição completa, porém, dar-se-ia em 2014, época da Copa do Mundo. Mas o Brasil já adotaria a mudança em 2010.

A ministra da Cultura de Portugal andou dizendo em novembro passado (2007) que Portugal, no entanto, pediria uma moratória de dez anos para a entrada em vigor do acordo. Chega agora o novo ministro da pasta. Defende "ser o mercado — e não uma moratória — quem deve resolver a aplicação do acordo em território português" (vide Schmitz, p.24).

Você sabia que até o final do séc. XVII só uma entre três pessoas falava português por aqui? Os portugueses chegavam, casavam-se com índias e deixavam a elas o encargo de ensinar o idioma aos filhos. Logicamente elas ensinavam o tupi. Bem, os jesuítas, para facilitar a catequização, comunicavam-se com os índios em tupi. Assim, não só aprendiam sua língua, como a sua gramática. Com a expulsão dos jesuítas e a instituição da língua portuguesa como oficial, foi se delineando a nossa história lingüística.  E vocês vão me perguntar por que estou falando isso. Bem, é que se antes um entre três falava português, hoje dois entre três faz piada de português. Calma, foi só uma piadinha...

Se Portugal continuar hesitando (dizem que a hesitação é compreensível), como o Brasil vai agir? Não sei. Esse assunto está me cansando. O principal problema não era uma unificação que atendesse à maioria dos falantes? no caso, Brasil e Portugal? Mas que angu.

Pereira Júnior, da revista Língua Portuguesa, em editorial, diz que "Portugal finalmente engoliu o acordo da unificação ortográfica", mas aventa a hipótese de o parlamento e o presidente lusitanos "darem pra trás na última hora". A hesitação de Portugal é compreensível por outros motivos que não os meus. Entra aí a vaidade (deles). Bem, para mim a reforma provoca mais estrago do que conserto. Estrago econômico. E para tanto estrago, então que fosse mais radical a reforma. Tanto investimento numa reforma de troca de uma porta? Que se derrube a parede então.

No entanto, há de se relembrar que cada país lusófono tem a sua dinâmica lingüística, pelas influências de hábitos e costumes já cristalizados. São tradições línguas regionais tão peculiares como díspares. E é nesse ponto que é difícil entender o que seja uma unificação. Unificar o que é impossível de unificar.

Enfim, parece que a reforma vem mesmo. E até a editora portuguesa Texto acaba de lançar dois dicionários em sintonia com o acordo. Como diz Schmitz, na pág. 27, mesmo discordando de ser este o momento para uma reforma: "o que está feito, está feito". E vamos assumir.  E sabem quem vai assumir primeiro?  O revisor...

 

Aristides, em 24.4.2008

 

LEIA MAIS sobre o tema

 

no blog da Dad Squarisi (13.5.2008): http://www.correiobraziliense.com.br/blog/blogdadad/

Artigo Só na Copa de 2014: http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11499

Restaurar é preciso, de Reinaldo Azevedo http://veja.abril.com.br/120907/p_098.shtml

E ainda: http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_Ortogr%C3%A1fico_de_1990#_note-Veja120907

E mais: http://www.reporterdiario.com.br/blogs/portuguesedivertido/?p=9

E aqui: http://letrasdemacarrao.blogspot.com/2007/09/o-desacordo-ortogrfico.html e http://www.secom.unb.br/entrevistas/tv0108-01.htm

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