ORAPRONÓBIS

Das contas de rosário, dos contos de Minas Gerais

Oswaldo Costa

Onde encontrar o livro de Oswaldo Costa:

Em Anápolis (GO): Livraria Nobel – Av. Goiás, 85 – fone (62) 3099-6660 e Magazine Anápolis – Rua Manoel D’ Abadia, 84 – Setor Central.
  
Em Goiânia (GO): Livraria Cultura Goiana – Av. Araguaia, 306 – Setor Central – fone  (62) 3229-0555.

Em Paracatu (MG): Casa de Cultura e Academia de Letras do Noroeste de Minas.

DOWNLOAD de “Orapronóbis – Das contas de rosário, dos contos de Minas Gerais”

Capa e contracapa - (baixar arquivo em pdf)

Orelhas - (baixar arquivo em pdf)

Miolo (livro propriamente dito) - (baixar arquivo em pdf)

 


Orapronóbis, 17 de março de 2006

Aristides Coelho Neto (*)

Aquela sexta-feira prometia.  A cidade de Paracatu nos surpreendera, a mim e Elise, com o visual das ruas estreitas, da arte requintada do interior das igrejas e dos casarios da época da exploração do ouro.  A Casa da Cultura nos empolgava em todos os detalhes.  À solenidade comparecera muita gente. Os nomes de Oswaldo Costa, o autor de Orapronóbis, e dona Zezé, esposa e companheira há 62 anos, já haviam sido declinados para tomar lugar, chamados que foram depois de acadêmicos das letras, de representantes do executivo e legislativo municipais e da loja maçônica. Historiadores e outras autoridades não se achegaram por problemas de lugar à mesa. E eu imaginava ainda o que seria a encenação-surpresa de Orapronóbis – era muita gente se movimentando pelos bastidores do andar inferior, lá onde cruzávamos com o poço nostálgico do pátio, onde, segundo alguns, os escravos se amontoaram em tempos que já se vão. Aquele prédio era testemunha da história de Paracatu – senzala, câmara municipal, grupo escolar, agora uma repositório de obras de arte e acontecimentos, em uma cidade que já havia sido comparada a Atenas. Os pilares de aroeira, eu os comparava a Oswaldo Costa, nos seus 87 anos, que teria de ser mais firme ainda para não sucumbir a tanta emoção.
A partir do terceiro orador a quem fora concedida a palavra, comecei a me preocupar em o que dizer se fosse chamado para tal.  E fiquei imaginando uma fala de improviso.

A partir do terceiro orador a quem fora concedida a palavra, comecei a me preocupar em o que dizer se fosse chamado para tal.  E fiquei imaginando uma fala de improviso.

Diria, quem sabe, que eu era de Brasília, arquiteto de dia e revisor de noite. Valeria a pena dizer isso?  Enfim... Que fora convidado a fazer a revisão de Orapronóbis, que revisor era um chato, e que Oswaldo Costa havia sido paciente comigo... E que eu ganhara um amigo.

Para ilustrar a chatice de revisor, quem sabe, dizer que na estrada, já perto de Paracatu eu observara placas com Paracatu e placas com Paracatú (com acento). E que ficara em dúvida se entrava em Paracatu com acento ou sem acento. Se a platéia iria rir? Uma incógnita. Sempre pode acontecer de ninguém achar graça.

Falaria então das aventuras e das surpresas de última hora no processo de preparação e impressão do livro.  E tentaria me safar do caso de Anápolis com dois acentos, logo na página três. Relataria que o diagramador havia me ligado apresentando sua última dúvida: seria Brasília ou Anápolis no pé da página?  E eu ligara imediatamente para Oswaldo em Anápolis.  E ele preferira Anápolis.  E assim foi.  Só que o diagramador tascou por sua própria conta dois acentos em Anápolis.  E que ao notar a gafe no livro impresso, lamentei de forma visível. Cara! dois acentos, onde você arrumou isso? E que ele, espirituoso – não adiantava chorar o leite derramado – viera com a gracinha: ônibus, quantos acentos tem?  Eu disse: um só.  E ele emendou: pois há ônibus que tem mais de trinta e seis assentos...  E que eu tive de fingir que gostei da piada... Para garantir a descontração da platéia quanto aos trinta e seis, talvez fosse melhor eu fazer gestos pontuais com a mão quanto ao montão de assentos, que não acentos.

Bem, isso seria apenas uma preparação. 

A seguir, eu diria, talvez, que Oswaldo Costa não era um escritor até o lançamento que acontecia naquele instante.  A intenção seria criar suspense, expectativa... E tentaria explicar.  Pior se antes de explicar, alguém da família, irritado com a deselegância, me jogasse alguma coisa sólida.

E eu contaria o caso do incêndio do Ministério da Habitação, na W3 Norte, em Brasília, onde eu trabalhava na década de oitenta em projeto da ONU. O prédio queimara em vinte minutos apenas.  Perdêramos toda a nossa produção impressa. E todos os vídeos que produzíramos. Ficamos absolutamente sem nada. Nos meses que se seguiram à tragédia, conseguimos pouco a pouco muita coisa de volta. Nem tudo, porém – só conseguimos o que havíamos passado a outrem, o  que havíamos compartilhado com as pessoas.  Acho que só são realmente nossas as coisas que dividimos com os outros... Só temos aquilo que damos. Seria interessante essa linha para o público presente?

Um escritor só se consagra escritor quando compartilha seu pensamento com alguém. E compartilhar com um só não conta. É pouco.  Se temos algo de bom a passar, não podemos guardar os talentos, aludindo à passagem do Evangelho...  Há tanta gente que apresenta dificuldades para expor suas idéias!...  Quando as identifica na lavra de um escritor, suspira aliviado e diz: é isso que eu gostaria de dizer! bendito escritor!

O parto de Orapronóbis aconteceu em dezembro passado. Criança parida, o primeiro choro, o choro da vida, acontece agora. E a criança está sendo acolhida carinhosamente por muitas e muitas mãos amigas paracatuenses. Faltava Paracatu para a consagração. Paracatu é o berço de todas as reminiscências do autor.  Paracatu dos queijos e quitandas, do palavreado fluente e gostoso dos mineiros, da catiras e tapuiadas e tantas riquezas mais.  Aquele dia era então o dia glorioso do repartir o pão do saber, eu diria à platéia. Na platéia seleta, expectativa ou enfado? Quem poderá dizer...

Agora sim, Oswaldo era escritor.  Justamente na casa que o abrigara nos vários momentos de sua trajetória, compartilhava totalmente  o fruto da sua mente privilegiada e de seu coração inflado de amor pela sua terra.

Se você é um formador de opinião, você é responsável por levar às pessoas coisas que ensejem crescimento moral, ético e cultural, fortalecimento, auto-estima, pensamentos positivos, sentimentos elevados. O dom da palavra há de ser usado para construir. O planeta precisa disso, em meio a tanta miséria moral.  Orapronóbis é construção histórico-cultural pura, impregnada de rico repertório lexical, revestido da sensibilidade do autor e do seu amor profundo às suas raízes.

Ah! quem sabe um grand finale – fazer uma denúncia. Novo suspense! Denunciaria  em público que Oswaldo Costa estaria escondendo outras obras, tímido em publicá-las.

Hmmm... essa linha de raciocínio... sei não, sei não...

De tudo, na dúvida, melhor mesmo seria simplesmente ler o texto que escrevi para a orelha de Orapronóbis, e que não foi de improviso. Acho que lê-lo garantiria um melhor impacto do que estas divagações.  E os exemplares estariam ali, na mão dos leitores. Fácil acesso, só pedir um emprestado.

“Interagindo prazerosamente com o autor, esmiucei Orapronóbis, matutando, relendo, absorvendo. E aprendendo. Critiquei e sugeri, como se a obra também fosse minha. Algo além da nossa vã filosofia, alguém diria. As partes mais áridas, próprias da formação e da cultura do autor, me soaram às vezes como clarins. E as aplaudi. Outras soaram como exímia percussão. E as respeitei.

Mas, apenas leitor, me emocionei com a prosa impregnada de poesia rebuscada e fértil.  E reli muitos trechos, movido não mais pelo dever de revisar, mas por um prazer intenso, olhos turvos de lágrimas, como se presente por exemplo ao encontro emocionante de Nezinho e Urias no ribeirão lajeado e ermo, ou vivendo os devaneios do amado de Nora, que só desejava ‘voltasse ela aos seus olhos’. As palavras então de Oswaldo Costa me tocaram como se fossem violinos.

Mas outros sons a leitura de Orapronóbis nos traz. Não os distingui, porém, pela minha incompetência.  São celestiais, acima da minha compreensão.”

Observaria mais uma vez a platéia. Se eu sentisse a preleção insossa, tiraria do bolso a poesia “Quem Escreve”, de  Carmen Cinira. Pena que não estivesse comigo. É assim que Carmen se expressa:

QUEM ESCREVE
Quem escreve no mundo
É como quem semeia
Sobre o solo fecundo...

A inteligência brilha sempre cheia
De possibilidades infinitas.

Planta
Uma idéia qualquer onde te agitas,
Semeia essa idéia pecadora ou santa,
E vê-la-ás, a todos extensiva,
Multiplicar-se milagrosa e viva.

Sem tanger as feridas e as arestas,
Conduze com cuidado
A pena pequenina em que te manifestas!
Foge à volúpia das maldades nuas,
Não condenes, não firas, não destruas...
Porque o verbo falado
Muita vez é disperso
Pelo vento que flui da Fonte do Universo.

Mas a palavra escrita
Guarda a força infinita,
Que traz resposta a toda a sementeira,
Em frutos de beleza e de alegria
Ou de mágoa sombria,
Para os caminhos de uma vida inteira.

Carmen Cinira

Parabéns, Oswaldo Costa! A força infinita de Orapronóbis nos diz que o autor agora tem o corpo fechado, por ter a mente aberta.  É imortal, e paira acima de quaisquer materialidades. E parabéns também a Paracatu, a quem agradeço o carinho.

(*) Escritor, professor, arquiteto, paulista, morador de Brasília, foi revisor do livro Orapronóbis


 

Orapronóbis – Declaração de Amor a Paracatu
Eugenio Santana (**)

“Ser Mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer, é falar pouco e escutar muito, é ser diferente, é ter marca registrada, é ter história.
Ser Mineiro é ter simplicidade e pureza, coragem e bravura, fidalguia e elegância. Ser Mineiro é ver o nascer do Sol e o brilhar da Lua, é ouvir o canto dos pássaros e o mugir do gado, é sentir o despertar do tempo e o amanhecer da vida. É cultivar as letras e as artes; é ser poeta e literato.” – Fernando Sabino
Surpreendentes são estes guardados raros, oriundos das asas da memória privilegiada deste autor de vasta cultura geral, o brilhante intelectual – eternamente jovem octogenário – professor Oswaldo Costa.

Mesclando realidade e ficção – algo inédito e singular na literatura brasileira – o escritor constrói e estrutura um calidoscópio de personagens que sustentam a trama com instigante leveza. Intercalam-se, simultaneamente, romance, memória, ensaio e história.

Ressaltamos tratar-se de um rico painel de mineiridade: usos e costumes, folclore; religiosidade e originalidade da linguagem regionalista, típica das décadas de 30, 40, 50 e 60 e a riqueza de detalhes da opulenta culinária mineira. A propósito, considero oportuno e providencial o lançamento de Orapronóbis que me fez lembrar, com imensa ternura, do livro “Grande Sertão: Veredas”, do incomparável Guimarães Rosa, publicado em abril de 1956, completando, portanto, meio século da primeira edição!

Acredito, sinceramente, que dificilmente a histórica “prisioneira das distâncias” tenha sido lembrada e homenageada, com inefável carinho, da forma especial como está retratada em Orapronóbis.

Ao abrirmos a “caixa preta” das 384 páginas mágicas de Orapronóbis teremos ecos e ressonâncias impressionantes, agradáveis surpresas, descobertas e revelações de alta voltagem literária, filosófica, histórica e sentimental que resgata e testemunha um tempo de bem-aventuranças...

Quanto a mim, empreendi uma insólita viagem nas asas do tempo e mergulhei fundo nas águas do meu chão de infância – e metade da adolescência – ricamente vivenciados em Orapronóbis. Fiz minha autoterapia de vida passada e viajei – mineiro-menino – e ouvi muitas vozes de antanho: “caçando passarinho” nos brejos de buritis, pescando traíras nas verdes veredas de águas cristalinas, chupando – até o caroço – as mangas dulcíssimas do enorme quintal e as gabirobas e araticuns nos largos campos e cerrados da “Lagoa Torta”, fazenda de quatrocentos alqueires, que pertenceu à minha altruística e heróica tia-avó Bertholina Josefina de Sant’Anna que, posteriormente, legou – via generosa herança – aos meus pais Fabião Couto (em memória) e Adília Santana, que por lá permaneceram e laboraram entre 1972/80, até retornarem em definitivo para Goiás, especificamente para Anápolis, urbe na qual, coincidentemente, o dileto autor e prestigiado conterrâneo radicou-se em 1955.

 Constatei, perplexo, que a famigerada “Coluna Prestes” usava de métodos nada ortodoxos, utilizando-se, quando necessário, de extrema violência para cumprir seus “objetivos comunistas”, tendo espalhado o terror em sua efêmera e desastrosa passagem por Paracatu, deixando marcas profundas e traumáticas na índole e na alma pacífica e acolhedora dos paracatuenses.

E para minha surpresa maior, fiquei sabendo que o Toco do Pecado – cantado em verso e prosa – instalado frente à Igreja Matriz de Santo Antônio – verdadeiro tribunal de notícias, jornal verbal ou cultura oral? (sic) – já existia desde a década de 40. Incrível! Meu tio – o mais loquaz e verborrágico - Francisco de Assis Santana, participava ativamente das “rodadas de negociações” e batia “seu ponto”, com inegável assiduidade, no banco da fofoca, por volta de 1960/1980.

A simples menção das fazendas tocaram-me a alma, a mente e o coração. Algumas conheci e usufrui; outras só mesmo através do comentário de parentes fazendeiros. Ei-las: Santa Maria, Vera Cruz, Bom Sucesso, Alegria, Mundo Novo, Chapada, Água Fria, Aldeia de Cima, Poções, Quebra-Eixo, Palmital e a inesquecível Lagoa Torta... Nostálgicas saudades!

Não tenho dúvida em relação ao êxtase cósmico experimentado pelas almas-alada de alguns personagens – fictícios ou não – tais como: Sô Homero (alter ego do coronel Chico Pinheiro), Tia Teca, o genial professor Josino Neiva, Emídio (o farmacêutico), o romântico, corajoso e habilidoso vaqueiro Urias (que lembra, de certa forma, o meu pai), Nora, Nezinho (que fim trágico!), Tim Jordão, Zabé, Lázaro, Vicente, Otílio, Zé da Anta (meu vovô Zé Santana), Chico Cabaú que muito alegrou a minha infância no bairro Bela Vista; bem como o Padre Joca – que nasceu em Pirenópolis: cidade goiana que me faz recordar a nossa Paracatu do príncipe -, aonde quer que se encontrem: orai, por nós! Contritos e genuflexos e sob a Luz do Altíssimo, todos eles te agradecem, ilustre escritor Oswaldo Costa, pelo legado desta sua magnífica obra!

E qual é a missão do escritor, meu caro professor Oswaldo? Respondo com o verbo emprestado da notável Lygia Fagundes Teles: “a função do escritor? Ser testemunha do seu tempo e da sua sociedade. Escrever por aqueles que não podem escrever. Falar por aqueles que muitas vezes esperam ouvir da nossa boca a palavra que gostaria de dizer. Comunicar-se com o próximo e se possível, mesmo por meio de soluções ambíguas, ajudá-lo no seu sofrimento e na sua esperança”.

Que as bibliotecas brasileiras, especialmente mineiras, goianas, gaúchas e cariocas providenciem – com a máxima brevidade – a inserção de um exemplar deste valioso livro, catalogando-o em todas as Estantes de seus respectivos acervos. Ora pro nobis, Paracatu! Assim seja!

Anápolis (GO), 13.3.2006

(**) Eugenio Santana é escritor, poeta, jornalista, redator publicitário e relações públicas. É autor de livros publicados. Sócio-fundador da ULA – União Literária Anapolina; membro correspondente da ACL – Academia Cachoeirense de Letras (ES) e Academia de Letras de Uruguaiana (RS). Sócio da UBE/SC – União Brasileira de escritores, Florianópolis; Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cad. Nº 2. Redator-chefe da revista Cenário Goiano; membro da AMORC – Ordem Rosacruz, da ADESG (DF) e do Greenpeace (SP). É detentor de prêmios em âmbito nacional, nos gêneros conto, crônica e poesia.

E-mail: eugeniosantana@turboseg.com.br

Comentários (3)

Voltar