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A FORÇA DO QUERER TOMAR VACINA

Uma ligação esdrúxula de vacina com novela, mas dá pra entender.

Mais um lote de vacinas recém-chegado da China. Não há quem deixe de verbalizar, cheio de contentamento, quando fica mais perto e possível o dia da imunização. "Uau! Viva!" Mesmo sem saber da perspectiva da segunda dose. E felizmente Bolsonaro parou de falar mal da vacina.

Claro que Rubens ia me perguntar se eu tomaria — virou moda perguntar se a gente vai tomar. Ora, não há a menor dúvida! É nessa hora que os negacionistas começam a ensaiar argumentos totalmente idiotas. E vêm lá com as teorias da conspiração.

Não, não, o argumento de Rubens não era dessa linha. Era simplesmente novelesco! Vou contar pra vocês. Em momento algum expôs sua intenção de tomar ou não. Apenas se sentou e suspirou, como se antes de entregar a sua tese ele precisasse muito se estender num prefácio detalhado.  Seu desiderato viria após os recursos lógicos. Quando pronunciou a frase "A força do querer", olhou para o horizonte como se enxergasse a Austrália. 

Curioso, perguntei se estava falando da novela da Globo, agora em reprise. Ele confirmou. E seguiu em frente. 

Havia um grande dilema com Ivana, que agora quer ser chamada de Ivan, por razões trans. O que  é fora do comum —  estar grávida de um relacionamento com um rapaz. Como agora quer ser Ivan, já anda tomando os hormônios,  não vê nada mais justo que ser nominado de grávido. Soa mal, certo. E confunde a gente. Principalmente a Joice.

Se a confusão fosse só essa... O Zeca, agora baleado pelo Rui, é casado com a Ritinha, e o marido da sereia só agora que soube. E acaba de atirar em Zeca, ignorando um passado que os uniu, um salvamento et cetera e tal.  Pior vai ser quando Zeca descobrir que o filho de Rui não é de Rui, mas dele próprio com Ritinha. 

Ah! Silvana! Tão boazinha e tão envolvida com jogo da pesada, enganando o inocente Eurico. Tão ingênuo ele, que acha o Nonato um exemplo de machão, sendo que na verdade é um travesti. 

A tal da Solange que não é Solange, mas Irene, já aprontou também. Até morte. E continua aprontando. Uma caninana! O que ela engendra de maldade não está no gibi. Já prejudicou o Garcia, a Elvirinha. Recentemente desengravidou, mas finge que está grávida, só para azucrinar a vida da Joice. Quer ficar com o Eugênio. Que vacilão esse Eugênio. 

Mal sabe o Dantas que sua filha, a Cibele, tem o exame de DNA do filho do Rui, que não é do Rui. As agruras de Zeca, abandonado lá no interior do Pará por conta da fuga da Ritinha com Rui, são parecidas com o que passou a Cibele, quando Rui a trocou por Ritinha, filha de boto.

Jeiza descobriu que o Caio foi noivo da Bibi... Caio que se cuide. A Bibi, essa endoidou de vez. Sabiam que foi ela que queimou o restaurante do Dantas, não? Ficou bem à vontade lá no Morro do Beco, vida irreal de dinheiro fácil do tráfico. Que susto ela passou quando deu mancada para com o Sabiá. Tremeu nas pernas. Que marido sem-vergonha o dela. Rubinho agora está se engraçando com a loirinha que quer silicone. Coitada da dona  Aurora, mãe da Bibi. Esse Rubinho não tem mais conserto, pondera Rubens. Mau-caratismo reinante. Tanto na cidade como no morro.

Bem, depois disso tudo, ficou claro que o amigo Rubens havia declinado de continuar o assunto da vacina. Mas não! Ele estava perto da sua tese.

Para minha surpresa, disse ter preparado o terreno para concluir. Eu imaginava um  gran finale.  Aí ele perguntou se eu sabia de algo, se essa trama maluca da novela era baseada em fatos reais. Alguém lhe teria dito. 

Respondi não ter a menor ideia. E não entendia qual a relevância disso.

Foi quando Rubens afirmou que, se a novela fosse baseada em fatos reais, não valeria a pena tomar a vacina. O mundo estaria perdido mesmo, afirmou grave o Rubens. Tomar ou não tomar seria a mesma coisa... 

Eu não disse nada. Imaginei que Rubens como que atirasse um bumerangue, tamanha a trajetória da filosofia. A situação na novela era realmente degradante, assustadora. Uma reviravolta em qualquer mundo aparentemente bem comportado que a gente conhece. 

Mas nada mudou, pra mim pelo menos: aguardo, sim, ansioso a vacina.  E aposto que o Rubens também. Mama mia, acho ele bem teatral.

Aristides Coelho Neto, 4 fev. 2021

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