TEXTOS DO AUTOR

A FÁBULA DA FÍBULA

Um acidente pra lá de bizarro e as versões multifacetadas e fabulosas da quebra da fíbula.

Algumas fatalidades parecem inexplicáveis à luz de concepções triviais que muita gente elabora. Eu tenho lá meus mecanismos de entendimento desses acontecimentos creditados muitas vezes ao "acaso". Mas não convém detalhá-los aqui....

Um sujeito de 37 anos morreu em razão de uma onda forte na praia. Esse acidente bizarro deu-se nos EUA, segundo A Tribuna da Bahia de 23.7.2019. Lee Dingle brincava com os filhos numa quinta-feira deste mês de julho quando uma onda braba o levou ao chão. O impacto foi tão grande que ele quebrou o pescoço. Levado a um hospital local, veio a óbito no dia seguinte.

Neste espaço — às vezes de desabafo — não vou me aventurar a dar sequência ao assunto do primeiro parágrafo. Já o caso do segundo parágrafo me leva a falar de minha experiência recente, também em praia — na de Porto da Barra, em Salvador. Meu amigo goiano-baiano Tonhão disse que é o local onde chegou Tomé de Sousa, mas se ele chegou, deve ter ficado em outra barraca. Não o vi naquela fatídica sexta, 19.

Mês de julho chove muito em Salvador. Porto da Barra, de praia serena, assume vulto de praia de ondas fortes em função do vento.

Acostumado a esportes radicais, naquele dia vinha eu de paraglider, aproveitando o mar agitado, quando fui interceptado por um jet ski desgovernado. Consegui dar um voo por cima da moto aquática em alta velocidade, quando dei de cara com uma jubarte. Não é de se estranhar a presença delas ali em julho, rumo a Abrolhos. Se teria relação com uso e descarte irresponsável de canudos de plástico no mar? Não! Simplesmente acasalamento. Os canudinhos de plástico prejudicam outros bichos bem menores.

Em segundos, tive ainda um insight de jogar na megassena ao lembrar do nome científico do mamífero gigante — Megaptera novaeangliae (meu raciocínio é muito rápido). Em habilidosa manobra pude evitar o monstro do mar, e roçando na sua imensa barbatana da direita, tive rompidas algumas das cordas. Isso afetou irremediavelmente o controle do paraglider.

Fui levado então à deriva até encontrar o transatlântico que chegava da Itália. Não houve como evitar o impacto. Resgatado pela tripulação, como eu estava um pouco ofegante, me deram uma batida de maracujá com vodka. Em seguida fui levado ao Hospital COT, onde foi constatada a fratura do osso mais fino da canela.

Neste ponto, percebi alguém em pé, atrás de mim, a ler meu relato com sabor de aventura na tela do computador. Era Elise. "Mentir é uma coisa muito feia. Diga a verdade sobre seu acidente. Você com seu neto na praia, a onda o pegou de mau jeito, você torceu o tornozelo de tal maneira que lhe quebrou a fíbula, enquanto seu neto era arrastado por vinte metros em direção aos guarda-sóis. Ele adorou. Mas você não gostou nem um pouco."

Quando Elise saiu, meditei e resolvi deixar as duas versões. O leitor que escolha. Não tenho a menor dúvida de que a primeira versão é mais empolgante. A segunda é bem constrangedora para um caipira de Brasília.

O melhor disso é que, felizmente, não quebrei o pescoço, como o pobre do Lee Dingle, que tinha esposa e seis filhos para criar.

Numa praia de muito vêntulo, em momêntulo de descontração e descúidulo, só quebrei a fíbula, o que levou a uma fábula. Ufa!

Aristides Coelho Neto, 26 jul. 2019

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