TEXTOS DO AUTOR

REALIDADE CRUA

Bial, Ana Maria, considerações sobre o mundo paralelo, dos privilégios, e o mundo da realidade crua.

Numa noite de junho, eu assistia ao programa Conversa com Bial. Ele entrevistava Ana Maria Braga, que falou da sua filosofia de vida, falou do problema de saúde sério que teve e que superou. Peguei só parte da entrevista. Chamou-me a atenção a fé da entrevistada e a ênfase que deu ao sentimento de gratidão que todos devemos ter em relação às pequenas coisas que nos acontecem por intervenção de outrem, seja no plano físico, seja no espiritual. Louvável! Certíssimo, palavras sábias! Reconfortantes!

Me ocorreu refletir sobre as condições de Bial e Ana Maria. Seres privilegiados pela sua competência e/ou pela sorte que tiveram de aproveitar as chances. A questão de saúde aventada por Ana Maria fez-me isolar a fé e a gratidão (por conveniência de abordagem) e fixar-me tão somente no acesso à saúde de Ana e a outros elementos básicos para o bem-estar do cidadão.

Haja o que houver, Bial, Ana Maria, Ratinho, Gugu, Cristiano Ronaldo, Neymar Jr., Jennifer Lopes, Xuxa, Trump, Bolsonaro, Rainha da Inglaterra... e por aí vai, vivem num mundo à parte do nosso. A despeito de eventuais dramas emocionais de que possam ter ou ter sido acometidos, todos têm acesso irrestrito à assistência em saúde, à segurança privada, ao ensino de qualidade, ao trabalho (consequência óbvia) — coisas a que a maioria da população brasileira não tem.

Podemos ser criativos quanto à falta de emprego (a informalidade, por exemplo), falta de segurança (você se arma, se esconde ou se previne de outra forma), de acesso à educação (você, quem sabe, pode se virar como autodidata, se tiver garra). Pode haver improvisação em tudo — menos na saúde. Em suma, você pode até sobreviver sem emprego, sem segurança, sem educação (vida intelectual vegetativa), mas sem saúde, jamais!

Nós, os privilegiados (que temos não só a crença de Ana Maria, mas temos planos de saúde — melhor dizer, que somos flagelados pelo valor exorbitante dos planos de saúde), somos seres que gozamos de prerrogativa inalcançável pela maioria da população, que morre às vezes esperando por uma consulta, morre esperando por tratamento, e mais ainda quando o tratamento exige especialização.

E vem a certeza da necessidade premente de estancar a evasão de dinheiro público pelo ralo da ignorância administrativa e da corrupção, extinguir privilégios de tantos, azeitar a máquina pública. E dar injeção de honestidade nesses parlamentares, autoridades públicas, governantes e magistrados. E ministrar muita vitamina BS, bom senso, para evitar a cegueira de quem tem o poder da caneta. Urge que se sensibilizem com a dor do outro.

Desculpe, Bial. Desculpe, Ana Maria, pelo desabafo. A fé de Ana Maria foi importantíssima para a sua cura. Mas sem o plano de saúde e o acesso facilitado aos melhores e — por isso — os mais caros especialistas, o problema por que passou seria devastador. Vocês não têm culpa de viverem num mundo paralelo, que parece imaginário, distantes de uma realidade cruel por culpa da incompetência e da desonestidade daqueles que se dizem humanos, mas agem diferente. Saúde minha, de Pedro Bial e de Ana Maria Braga deveria ser direito de todos.

Aristides Coelho Neto, 5 jun. 2019

Numa noite de junho, eu assistia ao programa Conversa com Bial. Ele entrevistava Ana Maria Braga, que falou da sua filosofia de vida, falou do problema de saúde sério que teve e que superou. Peguei só parte da entrevista. Chamou-me a atenção a fé da entrevistada e a ênfase que deu ao sentimento de gratidão que todos devemos ter em relação às pequenas coisas que nos acontecem por intervenção de outrem, seja no plano físico, seja no espiritual. Louvável! Certíssimo, palavras sábias! Reconfortantes!

Me ocorreu refletir sobre as condições de Bial e Ana Maria. Seres privilegiados pela sua competência e/ou pela sorte que tiveram de aproveitar as chances. A questão de saúde aventada por Ana Maria fez-me isolar a fé e a gratidão (por conveniência de abordagem) e fixar-me tão somente no acesso à saúde de Ana e a outros elementos básicos para o bem-estar do cidadão.

Haja o que houver, Bial, Ana Maria, Ratinho, Gugu, Cristiano Ronaldo, Neymar Jr., Jennifer Lopes, Xuxa, Trump, Bolsonaro, Rainha da Inglaterra... e por aí vai, vivem num mundo à parte do nosso. A despeito de eventuais dramas emocionais de que possam ter ou ter sido acometidos, todos têm acesso irrestrito à assistência em saúde, à segurança privada, ao ensino de qualidade, ao trabalho (consequência óbvia) — coisas a que a maioria da população brasileira não tem.

Podemos ser criativos quanto à falta de emprego (a informalidade, por exemplo), falta de segurança (você se arma, se esconde ou se previne de outra forma), de acesso à educação (você, quem sabe, pode se virar como autodidata, se tiver garra). Pode haver improvisação em tudo — menos na saúde. Em suma, você pode até sobreviver sem emprego, sem segurança, sem educação (vida intelectual vegetativa), mas sem saúde, jamais!

Nós, os privilegiados (que temos não só a crença de Ana Maria, mas temos planos de saúde — melhor dizer, que somos flagelados pelo valor exorbitante dos planos de saúde), somos seres que gozamos de prerrogativa inalcançável pela maioria da população, que morre às vezes esperando por uma consulta, morre esperando por tratamento, e mais ainda quando o tratamento exige especialização.

E vem a certeza da necessidade premente de estancar a evasão de dinheiro público pelo ralo da ignorância administrativa e da corrupção, extinguir privilégios de tantos, azeitar a máquina pública. E dar injeção de honestidade nesses parlamentares, autoridades públicas, governantes e magistrados. E ministrar muita vitamina BS, bom senso, para evitar a cegueira de quem tem o poder da caneta. Urge que se sensibilizem com a dor do outro.

Desculpe, Bial. Desculpe, Ana Maria, pelo desabafo. A fé de Ana Maria foi importantíssima para a sua cura. Mas sem o plano de saúde e o acesso facilitado aos melhores e — por isso — os mais caros especialistas, o problema por que passou seria devastador. Vocês não têm culpa de viverem num mundo paralelo, que parece imaginário, distantes de uma realidade cruel por culpa da incompetência e da desonestidade daqueles que se dizem humanos, mas agem diferente. Saúde minha, de Pedro Bial e de Ana Maria Braga deveria ser direito de todos.

Aristides Coelho Neto, 5 jun. 2019

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