TEXTOS DO AUTOR

POR FALAR EM CONSELHO...

Falando em conselho, veja como a passividade do Conselho Regional de Medicina do DF (CRM-DF) fez piorar a dor de coluna e influiu no desvario que terminou num bar do Núcleo Bandeirante.

— Alô! De onde fala? É do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal? CRM-DF? Boa tarde. Lá se vão catorze meses desde o dia em que resolvi fazer uma consulta aos senhores por meio de sua Ouvidoria. Eu dizia de um impasse grande com a Golden Cross. Precisava fazer uma ressonância nuclear magnética da coluna lombossacra. O hospital Santa Helena não aceita um relatório de meu médico. As atendentes tacham o relatório de  incompleto. Querem que o médico diga desde quando o paciente tem os sintomas [isso mesmo]. E batem o pé nisso. Nem passam o fax para a Golden, já barram o relatório no balcão.  Meu médico, apesar de ter consentido em refazer o relatório, diz que a Golden Cross não pode exigir o que está  exigindo.

Mete-bronca2.jpeg - Site da imagem: prasalvarjuazeiro.wordpress.comE assim, vou postergando a realização do exame. Quando liguei para vocês aí do CRM-DF, me foi indicado, de cara, procurar o PROCON. Só insistindo é que vocês aceitaram minha solicitação, por meio da Ouvidoria,  de posicionamento do CRM perante a questão. Bem, meu médico havia sido categórico em me indicar procurar os senhores quanto ao impasse. Vocês é que deveriam jogar luz nessa questão. Quando me reportei a vocês do CRM-DF, em 6.4.2010, às 13h58, aliás, eu transcrevi o relatório do médico. "Declaro, a pedido, que o paciente supra é portador de lombo-ciatalgia crônica com irradiação para membros inferiores de início insidioso e progressivo. Solicitado exame de ressonância nuclear magnética para avaliação do grau de compressão medular para tratamento específico. Encontra-se em acompanhamento ambulatorial e cumprindo programação fisioterapêutica.”

— Senhor, é que...

— Momentinho, já vou terminar, escute, por favor. Tempos atrás, um médico do CRM-DF me ligou dizendo que, realmente, nem o hospital Santa Helena nem a Golden Cross poderiam exigir a informação quanto à origem dos sintomas. Disse que estava finalizando o parecer favorável a mim... Passados catorze meses, nada do parecer! Então, no dia 6.6.2011, resolvi ir até o CRM.

— Mas não...

— Só um momentinho. Nesse dia era patente que minha paciência de esperar pelo parecer tinha chegado ao limite. Fiz duas tentativas de ligar para o CRM. Na primeira, meu telefone sem fio caiu na piscina, tão esparolado que eu estava. Na segunda, minha procura pelo celular só cessou quando vi que metade dele já havia sido roído pelo cachorro. Com o CRM na cabeça, não percebi que alguém havia deixado a porta do carro aberta. Na marcha a ré, a porta foi arrancada quando passei pelo portão eletrônico. Acabei fechando o portão como podia e arranquei, sem porta, na direção do CRM. Não demorou muito e um carro de polícia emparelhou comigo e me fez parar. Não quiseram explicações. Meu carro foi apreendido. Quando entrei no táxi e dei o endereço do CRM é que percebi que estava com um pé de sapato preto e outro marrom claro. Eu estava tão transtornado que a primeira pergunta que o motorista me fez foi se eu estava armado. Esse taxista, sabiamente, acabou me deixando em casa em vez de me levar ao CRM. Mas isso às três da manhã, imagine. Mas o motorista original do táxi não estava dirigindo, pois estava tão bêbado como eu, sentado no banco de trás cantando “Si Adelita se fuera con otro”. Disse que quem dirigia, assim em casos de necessidade, era o motorista da hora, abstêmio. O que fizemos até as três da manhã? Bebemos e bebemos, num bar do Núcleo Bandeirante. O motorista reclamava do cunhado, da mulher dele e do cachorro do vizinho.  Eu reclamava do CRM, da Golden Cross e do Santa Helena. Acordei com dor na coluna.

— E aonde o senhor quer chegar?

— Bem, na verdade quero chegar ao CRM primeiro, assim que puder. Depois, à Golden Cross. E vou além: tudo isso que relatei, claro, com um pouco de exagero, recurso que pega bem em horas assim, aconteceu por culpa do CRM também.

— Acho melhor o senhor me deixar falar.

— Fale, garota, fale!

— Aqui não é do CRM-DF, senhor. É da Padaria Santa Terezinha.

 

Aristides Coelho Neto, 24.6.2011     

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No dia 12.7.2011 recebi o of. 3379/2011-DEPES-CRM-DF, datado de 18.5.2011, registrado nos Correios sob o número RM-66390391-3-BR. Soube que minha consulta ao CRM-DF recebeu um parecer em 19.8.2010, nos seguintes termos:

“O trabalho do médico deve beneficiar exclusivamente a quem o recebe e àquele que o presta, não devendo ser explorado por terceiros, seja em sentido comercial, como os planos de saúde, ou político. Portanto, a autonomia do médico deverá ser respeitada em relação à escolha de métodos diagnósticos e terapêuticos. O médico não é obrigado a fornecer relatório médico, porque ele estará desrespeitando o sigilo profissional e está vedado a fornecer relatório a quaisquer empresas que façam essa exigência, porque implica na revelação de diagnóstico e fatos que o médico tenha conhecimento no exercício profissional. Este é o meu parecer. Conselheiro Iran Augusto Gonçalves Cardoso.” 

Tal parecer foi aprovado na 172ª reunião da Primeira Câmara do CRM-DF, em 26.4.2011.

Exatos 1 ano, 3 meses e 5 dias depois de eu ter solicitado a opinião do CRM-DF sobre  empecilho colocado pela Golden Cross, por meio do Hospital Santa Helena, em Brasília,  para a realização de meu exame, lancei “acostumar-se com a dor” no Google. Surgiram 865.000 resultados. Vou dar início a uma pesquisa quanto ao que leva a gente a se acostumar com a dor.

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