OS DEFEITOS DE CHICO XAVIER

Na data de 2 de abril, se estivesse vivo, Francisco Cândido Xavier completaria 100 anos. Que tal alinhavarmos os seus defeitos?

Hoje, 2 de abril, se estivesse vivo, Francisco Cândido Xavier completaria 100 anos. Nesta sexta-feira do ano de 2010, há uma coincidência da data com a Paixão de Cristo, que nos leva a associar de forma irrefutável as duas figuras: Jesus e Chico.

Jesus, o Divino Mestre, divulgador da Boa Nova. Aquele que anuncia um Reino diferente, não assentado sobre premissas e valores materiais, um reino que reside no interior de cada um, mais precisamente no coração, se considerado o órgão responsável pelo sentimento. Jesus, aquele que, não reconhecido como Rei, é vilipendiado e sacrificado por quem o enxergou como ameaça aos princípios vigentes, por sinal, nada louváveis.  Chico, um fiel seguidor da doutrina de Jesus. Jesus, o Supremo Pedagogo, que nos deixou mensagem que primou pela Educação do ser humano em novas bases. Chico, o maior intermediador psicográfico entre as esferas espirituais e as terrenas que o planeta já viu, divulgando de forma humilde a mensagem de Amor daquele que, de tão importante, dividiu o calendário em dois — antes e depois Dele.

Chico Xavier e JesusA mídia, nesta data, repercute intensamente notícias de homenagens ao nosso Chico, o que me leva a tentar falar do que ninguém falou — dos defeitos de Chico. Quem sabe eu possa enveredar pelo ineditismo, diante dessa tarefa difícil de levantar as mazelas de Francisco Cândido.

Já andei testando esse alinhavar de defeitos. Quando eu disse que Chico era careca e usava peruca, já me disseram que depreciações nesse rumo  não são palatáveis. São coisas do corpo, e defeito mesmo só quando de cunho moral. E eu aceitei.

Volto-me então à madrugada de 3 de setembro de 1983 em Uberaba, quando eu e o amigo Leviston estivemos com Chico. Foi quando apertei sua mão macia e gordinha. Bem, eu poderia criticar a mão do Chico. Mas era gostosa de apertar. Não há como.

Quem sabe eu pudesse então criticar o fato de Chico não ter aproveitado a oportunidade de dizer algo sobre a luz que eu emanava na oportunidade (não é o que a gente gostaria?). Fácil de rebater essa, não? já que eu não tinha nenhuma luz a resplandecer.  Aliás, quando me lembro da conversa fiada que quis entabular com ele... naquela fila imensa... em que nos acotovelávamos para desfrutar de frações de minuto com o grande médium... O que falei com o Chico? Nem me lembrem disso. A única coisa que balbuciei é que tínhamos um amigo comum, o Arnaldo Rocha, nosso dirigente de grupo em Brasília, e que lhe mandava um abraço. Me senti um tonto.

Estive em Uberaba meramente por vaidade. Eu não tinha necessidade de comunicação com entes queridos. Ainda não havia perdido meu sogro, minha sogra, meu pai... Estava lá por pura vaidade de estar com o Chico. Talvez tão somente para falar para as pessoas.  Não doei nada, não levei cesta básica para contribuir com o evento fraterno que presenciamos no bairro pobre na periferia de Uberaba.

Chico não se casou, disseram. Isso mesmo! Passou invicto pela vida nesse aspecto. Podemos talvez imputar esse defeito a ele. Não teve filhos biológicos. E não teve sogra, disse ainda maldosamente alguém, completando que sogra seria o grande teste da vida do Chico.  Não padeceu, portanto, o que muitos padecem, dizem as incautas e más línguas. Ora, esse “defeito” é facilmente rebatido.  Todos vão dizer de cara que os grandes missionários deram-se à humanidade inteira, elegendo-a como sua família, só que aumentada à enésima potência.

Não existem santos no Espiritismo, todos sabem. Mas parece a muitas pessoas que tantas homenagens e comemorações programadas para este ano fazem parte de um projeto de “santificação” do médium. E isso seria lamentável, incompatível com os princípios doutrinários espíritas.

Mas Richard Simonetti lembra, quanto ao assunto, que “Bezerra de Menezes, Caibar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Batuíra... estão ‘canonizados’ pela opinião pública, ‘santos’ evocados frequentemente por espíritas que lhes pedem orientação e ajuda”.  E complementa de forma brilhante: “essa é a abençoada ‘sina’ dos grandes missionários”. E tento complementar eu mesmo: antes de mais nada cabe dizer que se Chico Xavier está sendo santificado ou entronizado, isso não parte dele próprio, mas das pessoas que o veem como um exemplo incomum. Aliás, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Gandhi, canonizados oficialmente ou não, já foram santificados pela opinião pública, que reconhece neles instrumentos divinos do Bem Maior.

Bem, nesse esforço hercúleo de levantar os defeitos de Chico Xavier, só me ocorre agora dizer que Chico não conseguiu se desvencilhar do hábito condenável de comer carne. Esse defeito ninguém rebate. Dizem que comer carne é sinônimo de embrutecimento. Ei, esperem! Dá pra rebater com uma observação do próprio Simonetti, de que se Chico Xavier comia seus bifinhos, bom lembrar que Hitler era vegetariano.

Já que não consegui alinhavar os defeitos, só resta consolar-me com os meus, e a minha condição de pessoa comum. Incomum mesmo era Chico Xavier, a quem envio o meu abraço – onde quer que ele esteja – e o meu reconhecimento pela influência benéfica que teve em minha vida. Jesus há de premiá-lo, já que proclamo aqui a minha incompetência.

Aristides Coelho Neto, 2 abr. 2010
(pouco antes de assistir ao filme “Chico Xavier”, na sessão das 21h20 no cine Boulevard em Brasília)

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