TEXTOS DO AUTOR

Piacentini, uma apreciação de conteúdo

Maria Tereza Piacentini, diz da densidade de "Além da Revisão". A maior honra foi me chamar de colega. Viva!

Foi por meio do site www.linguabrasil.com.br que conheci Maria Tereza de Queiroz Piacentini. Não tive o prazer de estar com ela pessoalmente, só por e-mail e na hora de tirar dúvidas usando o google. Basta expor uma dúvida de forma sucinta, digitar junto o nome Piacentini, e sempre se obtém, nesse site de busca, um direcionamento para algum trabalho dessa arrojada professora, que, com freqüência, traz luz às nossas incertezas relacionadas ao idioma. Ela é catarinense, professora de inglês e português, revisora de textos (revisou a Constituição de Santa Catarina), também redatora de correspondência oficial. Publica colunas semanais com temas atualizados.

Uma conversa por e-mail com Piacentini, transformei em quarta capa de “Além da Revisão”. No texto que foi para o verso do livro, menciono que acabara de ler uma obra de Maria Tereza. Aliás, ela tem várias, como “Só Vírgula – Método fácil em 20 lições” (UFSCar) e “Só Palavras Compostas – Manual de consulta e auto-aprendizagem” (UFSCar). Em 1986 publicou “Português para Redação” (ITP). Na conversa por e-mail confesso que não sou dotado de grandes teorias, mas sou criterioso, e comparo a revisão textual a uma viagem sadia pela obra – aliás, costumo dizer que revisar é varrer a rua não com vassoura, mas com pincel.  Falo da linguagem da internet, e que cai bem abrandar o rigor na hora da comunicação pela web, sem exageros porém no tal do afrouxamento. Falo do  perfeccionismo, característica dos revisores. E assinalo o fato de muitas pessoas se julgarem auto-suficientes para as revisões de seus próprios textos, o que não é verdade. Daí recomendar que se deixe o trabalho de revisão para quem está acostumado... Falo de efervescência na obra, dos textos espalhados no miolo, contendo amenidades e humor sobre a nossa língua portuguesa. 

Bem, na quarta capa, o leitor vai perceber que Piacentini praticamente não diz nada. Eu é que falo, como se estivesse diante de uma psicanalista experiente que atende um paciente que se diz revisor. E ela, sábia e prudente, escuta, escuta e escuta.

Mas agora a profa. Maria Tereza se manifesta, também por e-mail (em 8.4.2008, terça, 11h29), depois de receber um exemplar pelos correios. De forma delicada preenche o campo “assunto” com a expressão “Obra surpreendente”.

“Meu caro colega. ‘Além da Revisão’ me causou duas belas surpresas: a primeira foi a densidade (tamanho e ousadia), que embora anunciada ultrapassou minha expectativa. Acho que com ele em mãos eu até daria aulas de revisão! O teu conteúdo está ótimo (não li tudo, mas pude perceber), e os textos intermediários são fantásticos, muito bem selecionados, dá para rir. A apresentação gráfico-formal do livro é original e atraente. Eu só não teria falado em prefixos.  A lista pequena que você oferece não ajuda nem faz falta; seria mais válida uma listagem completa, como tem na gramática de Pasquale&Ulisses. [Não é puxão de orelha, de modo algum; talvez oportunidade de mostrar que compulsei o volume com atenção J]

A outra surpresa foi a nossa correspondência na quarta capa! Quando acusei o recebimento eu ainda não a tinha visto. Você estava em dúvida se a colocava, lembra-se? Ficou ótimo, adorei.

Gostei também do autógrafo, que agradeço. A sua foto me faz achar que já o conheço, Ari. Você é diferente do que eu teria imaginado, mas muito familiar!

Então, obrigada pelo presente e, mais uma vez, boa sorte! Maria Tereza”

E fico aqui refletindo sobre as alegrias que a internet – às vezes bandida, mas muitas vezes mocinha –  pode trazer a nós que aprendemos a usá-la como ferramenta de crescimento.

A foice foi criada para um tipo de corte de mato, cereais, ervas. Muitos a usam como instrumento para ceifar vidas embora não tenha sido criada para tal. Um carro também não foi feito para matar. A internet não foi criada para ser instrumento do mal.

Coisa maravilhosa você poder enviar um arquivo de texto, da forma exata que foi criado, para um ponto distante do planeta.

Houve caso de um cliente, cientista político, que não conheci até hoje. Ele me enviava o texto da Suíça, antes de viajar para os Estados Unidos. Eu opinava, corrigia. Ele submetia ao orientador de sua tese nesse intervalo. Quando chegava ao Brasil, os problemas estavam sanados, num trabalho profícuo a três, que independia de tempo e lugar.

Como é fantástico você receber um arquivo de imagem, ou outro qualquer, íntegro. Quanto trabalho se poupa, quanto tempo é economizado! É claro que lamentavelmente muitos estão perdendo tempo precioso, se enclausurando na solidão, diante do monitor, aprendendo pouco e perdendo ótimas oportunidades de exercitar o relacionamento pessoal.

Assim, foi pela internet que obtive as autorizações para publicações dos textos complementares em “Além da Revisão”. Foi o caso de Ana Paula Franzoia, de Antonio Gonçalves Filho, de Carlos Eduardo Novaes, Dad Squarisi, Luis Fernando Verissimo, Luiz Antonio da Silva, Mario Prata, João Ubaldo Ribeiro. Pela internet que contatamos Sérgio Rodrigues, Jaime Pinsky e a esposa de Paulo Leminski.

Com Danilo Barbosa, Edelson Nascimento e Geraldo Campetti, tivemos a oportunidade, num ir-e-vir virtual, de lapidarmos textos, trocarmos idéias.

Fica claro então que o livro de revisão textual chamado “Além da Revisão” se concretizou numa realidade eminentemente nova, em que a internet e o computador foram peças-chaves no processo. Textos foram captados por meio magnético, digitados, digitalizados, trabalhados com a utilização da web, este ambiente poderoso em que transitaram textos, artes-finais e idéias.  

Essa surpreendente realidade afeta não só a concepção e a realização de um livro, mas o trabalho do revisor textual.

Este, atualmente, em determinados casos, só tem a oportunidade de tocar materialmente na obra, na qual exaustivamente interferiu, quando esta está impressa, pronta e acabada. Nada de sinais de revisão sobre o papel. Nada de viagens. Só a realidade virtual, para atingir o concreto. E viva a tecnologia!

Aristides Coelho Neto, 14 abr. 2008

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