A NOBREZA DO ESPIRITISMO

O egrégio Codificador definiu o Espiritismo como uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos e das relações que existem entre o mundo espiritual e o corporal.

Não se trata de uma ciência comum (*) — aduziu com sabedoria —  porque o elemento com que trabalha não se submete aos caprichos dos investigadores, como ocorre em outros ramos das ciências convencionais. Trata-se de um vasto campo de observações, graças às quais são demonstrados os fatos que lhe servem de patamar científico para a estruturação dos paradigmas em que se sustenta.

Portador de uma filosofia lógica e otimista, mantém como suporte de segurança dos ensinamentos a experiência de laboratório através da mediunidade, e utilizando-se da insuperável contribuição das reencarnações, explica o ser, o seu destino e as ocorrências que lhe dizem respeito no transcurso da evolução.

Desvelando e atualizando os ensinamentos de Jesus, alicerça-se na ética moral preconizada e vivida pelo Mestre de Nazaré, assim como pelos seus primeiros apóstolos, que se tornaram o adubo de vitalização da mensagem inconfundível do amor.

Possuidor de uma lógica de bronze, dispensa todos e quaisquer tipos de superstições e exterioridades muito ao agrado das personalidades fúteis e irresponsáveis que pretendem conseguir a paz interior através dos cultos externos frívolos e das promessas vãs, em vez do esforço que deve ser empreendido em favor da própria transformação moral, condição indispensável à harmonia pessoal.

Em consequência, é uma doutrina de comportamento interior voltado para o Bem através do qual o Espírito exercita-se na edificação de si mesmo, trabalhando contra as más inclinações que nele remanescem como efeito do processo de evolução antropológica, pela qual passou nas sucessivas experiências, quando em busca da iluminação.

Caracterizado pela simplicidade, proporciona tranquilidade de consciência, sem o patrulhamento dos seus atos por outrem, mesmo que em situação superior de conduta, ensejando a cada  qual viver conforme as possibilidades de que dispõe, esforçando-se sempre para ser melhor do que nos dias do passado.

As lições que procedem dos Espíritos devem ser examinadas com o rigor necessário à aceitação ou não, em face do estágio em que os mesmos se encontram, porque a morte a ninguém confere o grau de santidade que não possuía na Terra, nem de angelitude conforme se desejaria, sem o esforço pela autoiluminação.

Os seus postulados não facultam apoios em bengalas psicológicas saudosistas ou miraculosas, que favorecem uns indivíduos em detrimento de outros.

Embora a transparência e limpidez dos seus ensinamentos, a ignorância aureolou-o de mistérios compatíveis com as doutrinas salvacionistas de ocasião, apresentando-o como solucionador dos problemas que competem ao indivíduo equacionar.

Como inevitável consequência, muitos daqueles que se acercam das sociedades espíritas trazem embutidas na mente as informações equivocadas, esperando encontrar respostas miraculosas para os problemas em que se envolvem, aguardando que os Guias espirituais se encarreguem de resolver todas as questões que lhes dizem respeito, bastando-lhes apenas comparecer a uma que outra reunião, disso desobrigando-se como quem se liberta de um fardo desagradável e de peso exaustivo.

Tal comportamento é mantido de maneira inconsequente por inúmeros frequentadores que esperam desfrutar de privilégios que não existem, considerando-se defraudados quando os seus interesses mesquinhos e imediatistas não são resolvidos conforme desejam.

Sem fazerem esforço para o estudar, penetrando nos seus conteúdos filosóficos profundos e esclarecedores, mesmo quando conhecendo os postulados da reencarnação, ficam surpresos quando acometidos por desafios e dificuldades que são normais no processo de crescimento de todas as criaturas.

Reclamando ou interrogando se teriam sido tão maus quanto aos efeitos que ora experienciam, teimam em justificar-se, como se isso alterasse as ocorrências defluentes dos comportamentos extravagantes que se permitiram no passado e ainda se facultam.

Convidados à contínua transformação moral para melhor, sentem-se fracos diante daqueles que o logram, buscando escapar da responsabilidade através de mecanismos de fuga, enganando-se e supondo que iludem a Consciência Cósmica, enquanto a própria se encontra anestesiada.

Resmungam com mau humor quando os seus caprichos não são atendidos imediatamente e esperam que os familiares e amigos desencarnados estejam sempre às suas ordens, a fim de atender-lhes as infantilidades em que se comprazem e gostariam de permanecer.

A aura de milagres e sobrenatural com que vestem a doutrina, constitui-lhes motivo para não resolver os próprios conflitos, na expectativa de que a bondade de Deus se encarregue sempre de tudo quanto lhes diz respeito.

Se a enfermidade os alcança, logo aguardam medicação especial para a cura do corpo sem a preocupação da saúde interior.

Se a obsessão os envolve, reclamam, informando que esperavam estar protegidos pelos Mentores, embora a conduta não seja condizente com a assistência de que gostariam de desfrutar.

Se o desemprego lhes bate à porta, reclamam a falta de apoio espiritual, que lhes facultou a situação embaraçosa, sem dar-se conta da própria responsabilidade.

Se a solidão é o seu estado natural, evitam a solidariedade, considerando-se abandonados pela Misericórdia Divina, ou desejando seres eleitos especialmente para os acompanhar com bondade e paciência, embora não as exerçam em relação ao próximo.

Se convidados à contribuição em favor da instituição ou do próximo, interrogam pela necessidade de tudo ser grátis, sem preocupar-se que alguém está contribuindo em seu lugar...

Se a desencarnação toma-lhes um ser querido, desejam notícias imediatas, naturalmente esperando que o afeto se encontre renovado e feliz, embora haja mantido, quando na Terra, uma existência de disparates ou de indiferença perante os Divinos Códigos.

Não se tornam espíritas verdadeiros, permanecendo como frequentadores das atividades doutrinárias, distanciados da vivência e dos sentimentos de autoiluminação.

Alguns outros, porém, arvoram-se, muitas vezes, em defensores da sua pureza doutrinária, arrogantes e agressivos, como se o Espiritismo deles necessitasse, ficando ao abandono quando forem colhidos pela desencarnação.

Fiscais do comportamento do próximo vivem nos seus gabinetes teorizando sem vincular-se a qualquer sociedade doutrinária, onde o trabalho aguarda a cooperação de todos, sempre donos da verdade, com saudades dos tempos em que, noutras religiões, se reservavam o direito de pensar pelos seus paroquianos...

O Espiritismo é doutrina de foro íntimo, de conduta pessoal, que não necessita dos oportunistas que desejam sobressair no conjunto, mediante comportamentos e exigências que têm apenas o valor que eles próprios lhes atribuem.

Preocupados em vigiar os outros, esquecem-se de trabalhar o caráter, modificando o temperamento para melhor e respeitando os direitos do seu próximo, que responderá perante as Divinas Leis conforme o seu nível de consciência e o esforço empreendido para tornar-se mais saudável no processo de crescimento pessoal.

O Espiritismo dispensa uns e outros, porque a doutrina é incorruptível e ninguém a consegue macular ou distorcer os seus paradigmas excelentemente expostos pelo egrégio Codificador na obra com que enriqueceu a Humanidade.

O Espiritismo avançando com o progresso jamais será ultrapassado, elucidou Allan Kardec, porquanto se for comprovado que está em erro em algum ponto, o mesmo será abandonado, seguindo com a Ciência, o que ainda não ocorreu, porquanto, a cada momento, a Ciência nas suas diversas doutrinas confirma-lhe a superior qualidade dos ensinamentos, porque ele estuda as causas, enquanto a Ciência estuda os efeitos.

Estudar, portanto, o Espiritismo, para vivê-lo com segurança e harmonia, é o grande desafio para todos aqueles que desejam encontrar as respostas para as interrogações existenciais e a harmonia interior.

 

Fonte: livro Espiritismo e Vida, pelo Espírito Vianna de Carvalho, psicografia de Divaldo Franco, Editora Leal

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(*) O QUE É O ESPIRITISMO – Preâmbulo – Allan Kardec – 54ª edição da FEB.

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