TEXTOS DO AUTOR

Vagas especiais: direitos e travessuras

Um puxão de orelha nos espaçosos e folgados que não respeitam os direitos dos idosos e portadores de necessidades especiais.

Há um tema recorrente na questão das vagas para idosos ou portadores de necessidades especiais (PNE) — o desrespeito aos direitos conquistados pelas vagas especiais nos estacionamentos por aí. Geralmente as vagas para idosos estão ali bem perto das vagas das pessoas com mobilidade reduzida. É que no fundo as duas questões se equivalem. O idoso tem limitações, um cadeirante, também, em gradação diferente. Quando idosos, todos seremos portadores de necessidades especiais. Ou seja, estaremos com muitas possibilidades reduzidas. Uns mais, outros menos.

Só que estamos cansados de ver pessoas que não dão a mínima a esses direitos. Botam o carro nas vagas dos idosos ou deficientes sem qualquer cerimônia. Dizem sempre: “É só por um minutinho”.

É louvável a iniciativa do Coddede, com apoio do GDF e Secretaria de Justiça, de lançar a “multa cidadã”, um puxão de orelha nos motoristas espaçosos, que não respeitam os PNE. Deixada no para-brisa, eis a mensagem ao motorista: “Infração cometida: estacionar em uma vaga reservada a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Por favor, sinta-se obrigado a doar R$ 50,00 para uma instituição de caridade de sua escolha. E prometa nunca mais fazer travessuras”. Ao final: “Seja a mudança que você quer para o mundo (Mahatma Gandhi)”. Excelente, adorei!

Dia desses, no estacionamento do hipermercado Extra da Asa Norte, em Brasília, fiquei observando os mais variados espécimes, cheios de saúde e vitalidade, a deixar seus carros nas vagas destinadas a idosos. Se o Detran for acionado, sempre chegará depois do carro ter ido embora.

Na hora me veio a ideia de anotar as placas. Em seguida, fui ao serviço de alto-falante da Administração do mercado. Pedi que declinassem os números das placas ao microfone, informando da necessidade de os proprietários dos veículos comparecerem com urgência ao estacionamento. Eu não disse para quê. E o pessoal também não perguntou para quê...

De longe, tive oportunidade de ver os donos dos carros chegarem ao estacionamento e ficarem com cara de bobos, sem saber o que havia acontecido... Primeiro andavam ao redor do carro. Andavam de novo. Depois ficavam com expressão de quem implora por uma explicação. Outros ficavam indignados.

E eu fiquei parcialmente satisfeito, pelo menos por ter causado algum incômodo aos folgados proprietários dos carros. Devem ter levado algum susto, coração bateu  mais rápido. Pelo menos isso.

Mas ontem o que aconteceu foi sui generis. Estava com a câmera, perto do Banco de Brasília do Lago Norte. E deparei com um carro em vaga de estacionamento de idoso sem a devida autorização, aquela que a gente põe no painel, perto do para-brisa, para que fique visível.

Antes da terceira foto chegou o dono do carro. Era idoso. Ufa!  A missão se encerrava naquele instante.

O que eu fazia, porém, de câmera na mão, o deixou alterado. Apressado, abriu a porta do carro, mostrou a autorização que não havia deixado no lugar certo, e saiu nervoso, esbravejando...

E eu não tive tempo de dizer que estava trabalhando para ele, ou por ele, pelos seus direitos...

E esse senhor talvez nunca vá saber disso, a não ser que alguém ponderado e lúcido se sente com ele e explique.

Antes de encerrar, sabem vocês o que a gente faz com as fotos de flagrantes de desrespeito a direitos de idosos e portadores de necessidades especiais nas vagas também especiais? Nada! O Detran não aceita esse tipo de denúncia, feita por quem não é agente público da área. As fotos servem só como desabafo mesmo.

E vamos tocando em frente...

Aristides Coelho Neto, 6 nov. 2011

coddede@sejus.df.gov.br e coddede.sejusdhc@gmail.com (Conselho de Defesa dos Direitos de Pessoas com Deficiência)

Fones (61) 3905-1264, 3905-1255 e 0800 644 1255

 

Comentários (3)

Voltar