TEXTOS DO AUTOR

AS CRUZADAS E O CASTELO DE SÃO JORGE

O dominadores de Portugal, romanos, visigodos, mouros, todos usaram o castelo como ponto de observação e defesa, porque estava situado estrategicamente na colina mais alta da região.

"Cruzadas eram expedições militares ditas cristãs, surgidas entre 1095 e 1291, para libertar a Terra Santa do domínio islâmico (muçulmano), na ânsia de reconquistar Jerusalém e outros lugares por onde Jesus teria passado em vida. Eram patrocinadas pela Igreja Católica e pelas grandes potências cristãs europeias.

"A empreitada constituía uma mistura de guerra, peregrinação e penitência: os guerreiros cruzados, conhecidos também como 'peregrinos penitentes', acreditavam que seus pecados seriam perdoados caso completassem a jornada e cumprissem a missão divina de libertar locais sagrados, como a Igreja do Santo Sepulcro. O nome Cruzadas surgiu em função da cruz que os cristãos teciam nas suas roupas, simbolizando o voto prestado à Igreja. Seus motivos não eram, porém, exclusivamente religiosos. Mercadores emergentes viram nas Cruzadas uma oportunidade de ampliar seus negócios, abrindo novos mercados e obtendo lucro ao abastecer os exércitos que atravessavam a Europa a caminho do Oriente.

"Outro objetivo era unificar as forças da cristandade ocidental, divididas por guerras internas, e concentrar suas energias contra um inimigo comum, os chamados 'muçulmanos'. Nesse período de quase dois séculos, oito Cruzadas foram lançadas (alguns falam em nove), embora duas delas jamais tenham chegado a Jerusalém. A Quarta desviou-se do seu objetivo original para atacar os cristãos ortodoxos de Constantinopla — que não reconheciam a autoridade do papa —, saqueando a cidade no ano de 1203. Já a Quinta conseguiu conquistar partes do Egito, mas bateu em retirada sob a pressão do inimigo antes de atingir a Palestina.

"Após a Primeira Cruzada, quatro reinos foram criados na região da Palestina: o Condado de Edessa, o Principado de Antióquia, o Condado de Trípoli e o Reino de Jerusalém. A Segunda Cruzada foi uma expedição dos cristãos europeus, proclamada pelo papa Eugênio III e pregada por São Bernardo de Claraval em resposta à conquista de Edessa em 1144 pelos muçulmanos. A cruzada liderada pelos monarcas Luís VII de França e Conrado III da Germânia ocorreu entre 1147 e 1149 e foi um fracasso, já que os cruzados não reconquistaram Edessa e deixaram o Reino de Jerusalém politicamente mais fraco na região, ou seja, a expedição acabou por complicar a relação entre os reinos cruzados, bizantinos e governantes muçulmanos. O condado de Edessa estava definitivamente perdido e o principado de Antioquia ficou reduzida à metade do seu antigo território.

"O único ponto positivo da Segunda Cruzada foi a recuperação de Lisboa em 1147, sob a solicitação de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. Nenhuma nova cruzada foi lançada até a conquista de Jerusalém pelos muçulmanos em 1187." — montagem de textos retirados de vários sítios da internet

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O Castelo de São Jorge

Castelo de S. Jorge - out. 2010Ao se caminhar pelo centro de Lisboa é fácil perceber no alto de uma das sete colinas da cidade a presença da fortaleza chamada Castelo de São Jorge. Primando pela imponência e sobriedade, é considerado o próprio berço da cidade de Lisboa.

Na subida para o castelo nos impressionou sobremaneira a vista. E a forma de subir também, os bondes, deliciosos de se ver, o que levou à minha infância, dos bondes de São Paulo e Santos, nas viagens que eu fazia à capital com meu pai. Lá em cima, a vista encantadora e surpreendente dos telhados terracotas de várias nuances.

Em nosso passeio, o virtuose violonista João Bastos preencheu suavemente os espaços do pátio e as muralhas com sua música suave, o que nos faz lembrar sempre que, permeando a história de violência que os muros contam, se escreve uma outra história de romantismo, de momentos delicados de enlevo, já que o mundo não é feito só de agruras.

A história do castelo se mistura à história de Lisboa e de Portugal. Todos os dominadores que se instalaram na região, estrategicamente se valeram da fortaleza para ali se instalar. Sua localização privilegiada era ideal como ponto de observação e defesa.

Quando os exércitos da Roma imperial dominaram a península Ibérica, ali fizeram seu forte militar. No século V, termina o domínio de Roma, e grande parte da Europa é tomada pelos visigodos, tribos de origem germânica.  Assim, o Castelo de São Jorge foi adaptado para servir aos novos senhores. Sua dominação se estende por alguns séculos, dando lugar dessa vez aos árabes.

"A dominação dos mouros nos territórios que hoje correspondem a Portugal e Espanha foi uma das mais longas e marcantes, e até hoje são diversos os exemplos de sua influência por todo o país. É graças a eles, que um dos bairros mais conhecidos da cidade chama-se Mouraria, próximo a essa colina."  E os mouros, como não poderia deixar de ser, também aproveitam o forte já existente ampliando-o. Assim, o período entre os séculos X e XI marca o nascimento do castelo de São Jorge, que ainda que viria a ter esse nome bem mais tarde.

"Em 1147, novos e importantes eventos mudam mais uma vez o rumo e a história do castelo. Dom Afonso Henrique expulsa os árabes (mouros e sarracenos) de Portugal, e tem início o período nobre da edificação. Mesmo antes de Lisboa ser elevada à condição de capital do País, ele passa a ser utilizado como residência real. A denominação Castelo de São Jorge é adotada apenas a partir de 1371, por determinação do rei João I, como comemoração a um pacto militar e político assinado entre Portugal e Inglaterra. O nome escolhido homenageava o conhecido Santo Guerreiro, sempre combatendo um dragão, e que já na época era um dos nomes mais venerados por ambos os países. Até o reinado de Dom Manuel I,  em 1511, época marcada pelo início das grandes navegações e descobertas, o castelo permanece como residência real e um dos principais centros da vida política e social da cidade.

"Com a chegada do próspero período das grandes navegações, aumenta a fortuna do país, assim como o enriquecimento da família real, graças em grande parte às descobertas e ao ouro trazidos das novas colônias, inclusive do Brasil. Um local mais nobre e adequado é providenciado para abrigar a família real, fazendo com que o castelo assuma agora novas funções e passe a ser utilizado como prisão e quartel militar. Ao todo ele dispõe de 6 mil metros quadrados de área, distribuídos em forma de quadrilátero. Sua longa muralha é intercalada por dez torres, sendo a principal a existente no centro da muralha sul. Dentre todos os atrativos do castelo, o principal talvez seja a magnífica vista de Lisboa, já que é exatamente daqui que se tem o melhor ponto de observação da cidade." (ver http://www.viagensimagens.com/cast_saojorge.htm, acessado em 19 dez. 2010)

O que se segue é um texto sobre o Castelo retirado de um livro escolar português de 1957, a mim emprestado pelo amigo João Carlos Martins da Fonseca. Ele usou esse livro na infância, nos Açores. João tem os pés definitivamente fincados no Brasil, mas sonha sempre com sua infância no outro lado do Atlântico.

Aristides Coelho Neto, 19.12.2010

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O Castelo de S. Jorge (um texto da rede escolar portuguesa de 1957)

Livro escolar 1957Quem visitar a cidade de Lisboa deve subir ao castelo de S. Jorge, se quiser admirar um dos mais belos panoramas que nos oferece a capital do nosso País. Do alto das suas torres, vê-se o curso do Tejo em grande extensão, descobrem-se os montes e povoados da margem esquerda e domina-se a maior parte da cidade, com os seus edifícios e monumentos mais importantes.

Lisboa orgulha-se da velha fortaleza, ao redor da qual foi crescendo de século em século.

O castelo recorda-lhe a todo o momento que ela nasceu naquela colina cheia de sol, a contemplar o Tejo que, no seu curso constante para o mar, parecia convidá-la para o caminho da grandeza.

No tempo dos mouros a cidade, muito menor do que hoje, aninhava-se toda à sombra da fortaleza. Conquistar o castelo era dominar Lisboa. Compreende-se, por isso, que os moradores o defendessem com todas as suas forças.

Quando D. Afonso Henriques resolveu tomar Lisboa aos mouros, no ano de 1147, os combates mais duros travaram-se junto às muralhas do castelo. Era preciso rasgar uma brecha por onde os portugueses entrassem, ou então arrombar as portas.

Conta a tradição que, depois de longos meses de cerco, os mouros abriram uma porta para saírem a atacar os portugueses. Vendo isso, um dos valentes guerreiros de D. Afonso Henriques, chamado Martim Moniz, atirou-se a eles à espadeirada e conseguiu aproximar-se da porta.

Os de dentro intentaram fechá-la, mas ele procurou impedi-los até que chegassem os seus companheiros. Travou-se luta feroz. Por fim, já ferido mortalmente, com o sangue a correr de muitas feridas, Martim Moniz deixou-se cair atravessado nos batentes, para que a porta se não fechasse.

Enquanto os mouros tentavam remover-lhe o corpo, acudiram os portugueses em chusma. Trocaram-se lançadas e cutiladas sobre o corpo do herói, mas a porta não se fechou. Os mouros recuaram em desordem, e os portugueses avançaram cheios de entusiasmo.

O bravo Martim Moniz, se ainda então conservava algum alento de vida, morreu contente por ver que os cristãos o calcavam aos pés para entrarem vitoriosos na cidade.

Não esqueceu através dos séculos a memória deste feito. Essa entrada do castelo ainda hoje é chamada "Porta de Martim Moniz".

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Livro de Leitura da 3ª. Classe, 2. ed., p. 25-26. Ministério da Educação Nacional. Lisboa: Papelaria e Livraria Fernandes, 1957.

Publicação adquirida na Casa de Utilidades — Manuel Magalhães, Lda. — Angra, Açores. Já a Papelaria e Livraria Fernandes funcionava no Largo do Rato e na Rua do Ouro, em Lisboa.

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