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ARRUDA, PLANETA PANDORA

Anuncia-se uma produção candanga estrelada por José Roberto Arruda que se contrapõe ao sucesso de AVATAR, de James Cameron. Se para os americanos é Planeta Pandora, para os brasilienses é Caixa de Pandora.

Você já pode apreciar os bastidores da produção de Avatar e algo mais sobre o filme no youtube. Lá no making of é que a gente tem uma noção do trabalho e do tempo demandado para que tivéssemos uma animação diferente de tudo que já se fez até hoje nessa área, com imagens capturadas de humanos, devidamente monitorados, para imprimir expressividade nas atuações não humanas.

James Cameron, o diretor, é exemplo de persistência e criatividade nessa superprodução de 500 milhões de dólares que reúne ação, aventura, fantasia.

Desconheço a autoria da imagemNão há como deixar de perceber a relação entre a história idealizada no distante planeta Pandora com a realidade americana. Alguns críticos têm chamado a mensagem contra o imperialismo americano contida no filme de velada. Mas não a vi como velada.  Achei-a, nesse aspecto, escancarada. Americanos invadindo e destruindo até em outro sistema planetário. Não que os espanhóis, ingleses e portugueses não tenham invadido (e tripudiado em) terras alheias, só para lembrar situações bem próximas. Mas os americanos fazem isso ainda nos tempos atuais. E falando inglês. Com os nativos de Pandora também, obviamente.  Outros críticos também chamam a produção de propaganda política de esquerda contra a ambição capitalista. Por essas e outras gostei da aventura de Jake Sully, o cara que preferiu ficar azul para sempre, e Neytiri, a indígena na%u2019vi pandoriana que viu em Jake mais do que um avatar sintético de rabo grande e solto.

Em meio a essa empolgação com o filme de Cameron, que sugiro assistir em 3D, me chega a propaganda, pelas vias da web, de outra produção: Abafar, um sucesso produzido pela Câmara Legislativa de Brasília. Abafar predende ofuscar a superprodução Avatar.

Se Avatar foi feito em 3 dimensões, Abafar teria muitas outras dimensões. Abafar não só aproveitaria todas as películas produzidas por Durval Barbosa, mas teria ainda a vantagem de mostrar evidências de mau-caratismo, detalhes de vandalismo com o dinheiro público, e, ao final, o caminho a seguir para se sair ileso e limpo disso tudo. Uma cartilha do mal, quem sabe até uma jurisprudência na área da bandidagem.  Por essas razões, o filme será proibido para menores de 21 anos. E mesmo assim, os adultos só entrarão nas salas de cinema acompanhados de um sociólogo e um psicólogo.

Abafar abordaria a questão da droga não diretamente, mas de forma sutil, já que menciona o grau de dependência de dinheiro que parlamentares e governantes adquirem com o tempo.

Se em Avatar as câmeras utilizadas nas filmagens foram revolucionárias, em 3D e 2D, e mais leves que as atuais, em Abafar todas as filmagens obedeceriam a critérios de extrema simplicidade. Câmera parada, atores usando de toda a sua autenticidade. Nenhuma cena regravada. Nada ensaiado. Nenhum eletrodo colocado nos personagens, todos reais. E muita gente chegaria a pensar que os atores Brunelli, Prudente e outros são sintéticos. Nada disso! Eles são, no entanto, animados. Bem animados.

Dizem que há cenas interessantes em que Arruda, originalmente azul, passa por uma mutação para verde, por meio de combinação de DNA humano e alienígena. Mas, mesmo verde, ele passa a ter pesadelos totalmente azuis.  São imagens fortes, em que Joaquim Roriz apareceria continuadamente em seus sonhos.

Assim a grande vantagem que apresentaria  a produção candanga da Câmara Distrital seria o custo extremamente baixo das gravações. No entanto, Abafar, o filme mais barato (e rasteiro) produzido em Brasília,  vai trazer uma história de um rombo que pode ultrapassar em muito o custo de Avatar, ou seja, de 500 milhões de dólares. E o rombo pode ainda não estar estancado. Mas isso será objeto de outro filme chamado Impunidade, o Retorno. Abafar não apresentaria ninguém de rabo solto, como os na'vi, de Pandora.  No novo filme, todos têm o rabo preso.


Aristides Coelho Neto, 8.1.2010

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