TEXTOS DO AUTOR

PADRINHOS SUI GENERIS E VOLTAS QUE A VIDA DÁ

No organizadíssimo casamento, a mobilização dos padrinhos foi surpreendente. E os resultados também.

Alberto & Penélope estavam prestes a realizar o sonho do casamento. E tudo seguia nos conformes, programado com cuidado e em tempo hábil. 

Sessenta dias antes do casório, o jovem casal reuniu os dezesseis casais de padrinhos — eram oito de cada lado — em uma festinha acolhedora. E as mulheres afinaram os ponteiros na cor das roupas. Harmonizaram todas as escolhas com as cores que as mães dos noivos usariam. Tudo muito bem resolvido. 

Sofia, noiva de Antonio, das madrinhas era a mais desenvolta. Tanto é que anotou os e-mails de todas as madrinhas e padrinhos. Diferentemente do que ocorre nos casamentos, iniciou-se um contato estreito entre as trinta e duas pessoas, padrinhos e madrinhas escolhidos a dedo. Eram tempos de facilidades na web, incluindo-se orkut, msn. E passaram também a se encontrar nos fins de semana. 

Naturalmente, pelo seu desempenho, Sofia e Antonio foram eleitos coordenadores do Grupo de Padrinhos de Alberto & Penélope. Os padrinhos também falariam algo na cerimônia. Uma madrinha cantaria uma canção, no intervalo de um jogral. Outra declamaria uma poesia. Um poodle faria uma evolução. Na saída, arroz com pétalas jogado de ultraleve — um prato, digo, um show. Uma faixa esvoaçante com o nome dos noivos, outra com os nomes dos padrinhos nas alturas. Coisas inéditas em casamento, aquelas reuniões, ensaios, e, vejam só, até programação de viagens juntos.

Foi quando surgiu a ideia do cruzeiro marítimo. Os planos e os descontos cativaram a todos. A dificuldade maior seria conciliar as datas possíveis, conforme a agenda de todos. Mas Sofia e Antonio eram competentes nisso. No entanto, a data do cruzeiro foi marcada para apenas quinze dias antes do casamento de Alberto & Penélope. Todos acharam arriscado, um cruzeiro de dez dias de duração. Voltariam apenas a cinco dias do casamento... ai, ai, ai. Mas Sofia e Antonio tinham argumentos convincentes.

E lá se foram os dezesseis casais para a experiência inesquecível do passeio no cruzeiro. Que projeto maravilhoso aquele dos coordenadores do grupo de padrinhos, quanta criatividade! Como valeu a pena!

Mas o cenário veio a mudar no penúltimo dia da viagem. Logo de manhã o capitão Ademar comunicou aos passageiros que havia um problema técnico. Foi o início de uma aventura sui generis de desespero e de incertezas. Até a água foi racionada. E o incidente, lá pros lados da ilha de Fernando de Noronha, levou a um atraso de seis dias. Vocês nem imaginam o que ocorreu na cerimônia de casamento. Foi o primeiro evento na cidade em que a noiva chegou na hora certa. Mas os padrinhos... nenhum deles compareceu.

Um ano mais tarde, Penélope descobriu — descobriu, porque ninguém contava — que Sofia, a organizadora do cruzeiro, estava já num segundo casamento. Se engraçara com Pedro, um outro padrinho do grupo, de tanto trocar e-mails. Aliás, o golpe que Sofia sofrera, tadinha, não tinha sido fácil de assimilar — Antonio a havia abandonado por um capitão de navio. Não sei o nome do sujeito, mas tenho quase certeza de que era Ademar.

Penélope não se conformava mesmo era com a lacuna dos padrinhos no álbum de casamento. As fotos pareciam totalmente desequilibradas, um desfalque na composição visual. Cada vez que Penélope folheava o álbum, repetia para Alberto: "Nossa filha vai se casar sem nem um padrinho, eu juro! Afinal, pra que servem os padrinhos?"

Aristides Coelho Neto, 17 mar. 2009       

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