TEXTOS DO AUTOR

AFINAL, QUEM É O MEU PÚBLICO EM "ESTÁGIO NO PLANETA TERRA"?

Passados onze anos do lançamento de Estágio no Planeta Terra, paro para refletir sobre o seu público-alvo. Se a obra atinge mais os jovens, fica a esperança de que ela contribua um tiquinho para mudança de paradigmas, na busca de uma sociedade melhor. Nesse processo, cada um tem o dever de fazer a sua parte.

 

“Vou lhe dar meu feedback sobre o livro seu que me passou. Como eu não tinha nenhuma referência, pensei em encontrar uma estória para adultos, sem muito misticismo, pra não dizer religiosidade, que não é minha praia (mas garanto que reconheci todos os personagens e locais terrestres, até o delegado). Posso garantir a você que o livro fez sucesso aqui com o público infanto-juvenil. Passei para uma amiga, com a qual faço troca/empréstimos de livros e, depois da resenha dela, entendi que o público para o 'Estágio no Planeta Terra' seria os jovens. E acertei. No meu departamento, dei um exemplar a uma menor aprendiz de 15 anos que leu em três dias. Emprestou e disse que todos que leram gostaram. E ainda me pediu outro, para a biblioteca da comunidade dela. Dei um também para a filha de uma pessoa que trabalha comigo, 16 anos, e o retorno também foi positivo. Então, na Bahia dos jovens (mais ou menos 60% são evangélicos) fez sucesso. Perante os adultos, nem tanto. Abração.” — Tonhão, de Salvador, em 16.12.2008

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O livro a que Tonhão se refere é um livrinho lançado em 1998, do qual foi feita uma segunda edição dois anos mais tarde. Fala de um extraterrestre especialíssimo, que teria vindo de um planeta muito evoluído. Esse planeta, chamado Zênidon, seria bem diferente então da Terra, que ainda não conseguiu um equilíbrio harmônico entre o desenvolvimento científico e o moral. Haja vista o que vemos nos noticiários. O ET, que se chamava Rovi, teria passado por aqui e deixado marcas nos corações de todos. Sua ausência provocaria muitas saudades. A obra relata as experiências de Rovi, com humor. Mas em meio a coisas engraçadas, muitas mensagens seriíssimas sobre a nossa inadiável transformação interior. Na quarta capa a observação de que o enredo flutua por fronteiras sutis, entre a realidade e a fantasia. Uma intrigante frase faz uma provocação: “Alguns dizem que de fantasia não tem nada...”.

Vilela, um personagem - foto acn - Mirassol-SPQuem não é muito ligado nas coisas espirituais, já estranha logo de cara que a nossa reforma íntima seja um impositivo e a meta de todos nós. E não só os cristãos assim pensam.

Nunca estive bem certo quanto ao público-alvo do livrinho. Jovens? Adultos? Existem conceitos ali que nada tem a ver com adolescentes, por serem fundamentados em pontos-chave da Doutrina Espírita e que são complexos... Às vezes os jovens não atinam pra isso – pensam que estão lendo uma ficção... Mas a intenção era essa mesmo. Quem tivesse conhecimento reconheceria que o livro guarda os princípios básicos da Doutrina Espírita — lei de causa e efeito, reencarnação, pluralidade das existências, comunicabilidade entre os mundos físico e espiritual, Jesus como o Mestre e Modelo Maior, necessidade premente de melhoria interna que se refletirá na sociedade. E quem não tivesse conhecimento pensaria na criatividade do autor pendendo para a ficção.

O ET, protagonista do livro, vê todo mundo, mas não é visto. Só algumas pessoas teriam esse poder de enxergar o extraterrestre. Acham ficção? Nem tanto, nem tanto... A coexistência de dois mundos paralelos (o físico e o espiritual) é realidade pura. Há muita gente que não é vista mas está nos vendo.

O amigo Tonhão falou em misticismo lá no início. Bem, se for no sentido de “atitude mental que busca a união íntima e direta do homem com a divindade”, o livro é místico. Quanto a ser “baseado mais na intuição e no sentimento do que no conhecimento racional, na busca da ponte com a força a que damos o nome de Deus”, entraremos num campo um tanto difícil de se chegar a um senso comum. O que é conhecimento racional para mim pode não ser para alguns. Digamos que Estágio no Planeta Terra é impregnado de um conteúdo ético, moral e espiritual, melhor assim.

Tonhão fala também que reconheceu personagens. Claro, ele conviveu com todos, amigo que é de muito tempo. Adotei esse partido naquela época. Não deixaria hoje as coisas tão explícitas. Ah!... essa mania autobiográfica e de homenagear pessoas... Há de se ressaltar, porém, que em determinados momentos o personagem que se refere a mim tem tudo a ver comigo. Em outros momentos, revela o caráter que eu gostaria de ter e não o que tenho.

Quanto ao fato de ter tido boa repercussão entre os baianos jovens, se eu fosse refazer o livro hoje, mudaria um pouco a linguagem, pensando também nos jovens. Eu imprimiria mais objetividade. A forma de expressão, como está no livro, soa prolixa às vezes – quem sabe pedante –, embora um vocabulário um pouquinho afastado da linguagem do cotidiano seja de difícil compreensão para os dois públicos — os mais vividos e os pouco vividos de cultura mediana.

Foi mencionada uma estatística. Dos jovens baianos, Tonhão acha que 60% são evangélicos. Acho que o livro pode até ser lido por evangélicos jovens. Quando se trata  porém de evangélicos mais maduros, eles possivelmente vão execrar... Pudera, até de reencarnação o livro fala!

Dia desses dei um livro desses para uma auxiliar de portaria que notei ser inteligente e que lia muito. Ela me afirmou que lia todo tipo de assunto. Presenteada com minha humilde obra, ela simplesmente começou a me tratar secamente. De afável, passou a lacônica. Quase parou de falar comigo... Era evangélica. Sabe-se que para alguns segmentos evangélicos que primam pela ortodoxia até extraterrestres são coisa do demônio. Penso que os nossos irmãos velho-testamentistas também não teriam muita paciência com minha “ficção” espiritualista.

Quem se mete a escrever, como eu, deve estar preparado para tudo. Reações diversas e adversas.  E aliás, fiquei sem saber se Tonhão leu ou não leu até o fim. Se não leu, pelo menos disseminou. E isso já valeu muito. Tonhão, um grande abraço.  

Aristides Coelho Neto, 17.12.2008

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