TEXTOS DO AUTOR

AOS HOMENS O QUE É DOS HOMENS

Retomando a questão de assalto a ônibus, um apelo para que em 2009 os homens da Terra, principalmente os governantes, entendam que as coisas possíveis cabem a nós mesmos. Aos Céus, as causas dificílimas ou impossíveis.

Andaram me perguntando, com sorriso maroto, se o panfleto que eu distribuía ensinava a assaltar ônibus. Era, na verdade, texto meu de utilidade pública, baseado em experiência recente em viagem de Brasília a S. J. do Rio Preto. Se fosse pra ensinar a assaltar, com certeza, conceber e executar o plano seriam as coisas mais fáceis. Difíceis, depois, as andanças.

Para assaltar um ônibus, basta entrar armado, como passageiro. Ninguém verifica, não é como aeroporto. Ou então juntar alguns amigos, conseguir armas, improvisar máscaras. Ir para local ermo da rodovia, em final de noite, início de madrugada. Jogar galhos na pista. E aguardar a vítima. Tomar o veículo com muitos berros e agressões. Um tiro ajuda, impõe  moral. E faz-se o limpa. Mas melhor mesmo é seqüestrar ônibus e tirá-lo da rodovia. Boa chance de sucesso se for a BR-050, entre Cristalina e Catalão, em Goiás. Lá o problema é recorrente, a fiscalização, deficiente, a investigação, displicente. Quem sabe, muita gente conivente. E a situação, claro, deprimente. Foi por lá que se deu minha primeira experiência de assaltado. Meu lugar era o 27, do ônibus da Real Transporte e Turismo. Em casos assim, as empresas de ônibus não nos ressarcem valores roubados. Dizem-se igualmente vítimas. E querem dar a impressão de que quase levam prejuízo nessa missão sacrificial de transportar passageiros.  Anda-se sem sistemas de rastreamento. Motoristas viajam sozinhos por locais ermos. Mesmo sabendo dos perigos do trecho, nada de comboios. Empresas, como a Real, se omitem de forma dolosa, por não dizer ao passageiro que ele enfrentará região de alta periculosidade. E não o orientam pelo menos quanto ao seguro, quanto a não deixar todo o dinheiro em um local só, quanto a não reagir, coisas assim.

É curiosa a reação de cada pessoa ao receber um panfleto que denuncia e fala de precauções. Houve quem me sugerisse encampar também a causa da volta do transporte ferroviário. E apareceu também um motorista de ônibus que já havia levado oito tiros. Minha situação era até confortável, sem grandes ferimentos, sem seqüelas.

Pior mesmo é o depois, as andanças pelos órgãos públicos, na busca de providências. Polícias civil e rodoviária desafinadas, Agência Nacional de Transportes Terrestres — ANTT sem grandes rumos. Há países em que as agências reguladoras são constituídas pela sociedade civil e não pelo governo.

Em autêntica via-sacra, ouvi da Promotoria de Defesa do Consumidor que esse caso não tem relevância social... No entanto, o que nos entristece sobremaneira é deparar, em grande parte dos órgãos, com reclamos dos funcionários sobre a falta de condições. E a gente só pensa na falência das instituições governamentais. Polícia Civil de Cristalina sem pessoal de plantão, se esquivando, encaminhando o caso à Polícia Rodoviária, sem efetivo suficiente para fiscalizar, quanto mais para investigar. Polícia de Luziânia, que recebeu meliantes que assaltam nas paradas de ônibus, mas desconhece a recorrência de assaltos a veículos na região. Isso afeta a linha investigativa.  A ANTT, afirmando que não pode interferir no processo, citando apenas uma famigerada resolução 233 que, andam dizendo, está com os dias contados. Restam então os meios judiciais.

Sempre há extremistas a afirmar que a solução mesmo é eliminar de vez os bandidos. Nós cristãos sabemos que agindo assim estaríamos em processo de involução, na contramão da racionalidade. Outros acham que apenas rezar vai resolver. Calma lá! Rezar é fundamental, importantíssimo pedir a intervenção divina para que os bandidos se iluminem e voltem sua atenção aos bens espirituais. Ou para que diminuam seu ritmo malvado, pelo menos. Vale pedir ainda para que a eficiência prevaleça sobre a incompetência generalizada, e que as pessoas sejam tomadas de respeito pelo semelhante...

Mas, fundamental mesmo é que, em 2009, peçamos muito pelos nossos governantes, para que cuidem de nós, pois há muita coisa, como segurança e educação, que é com os homens mesmo! Não é com Deus, já muito assoberbado com o que é de Sua onisciente alçada.

Aristides Coelho Neto, 31.12.2008
Arquiteto, professor, morador de Brasília

Eis aqui outros textos do autor relacionados ao assunto

"Assalto ao ônibus da Real Reunidas":

Meu primeiro assalto — a parte péssima

Meu primeiro assalto — a parte boa

Roubo e seqüestro de ônibus perto de Brasília

Peripécias de panfletagem

Todos com planos para 2009

Assalto a ônibus — Diário de um passageiro sem máscara

Doutora, sugira alguma coisa...

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