TEXTOS DO AUTOR

O PESO DO CONGRESSO

Congresso brasileiro: custo exorbitante, muitos escândalos e pouco resultado. Uma rápida análise custo-benefício, comparando com o resto do mundo.

Tenho pensado muito na minha aposentadoria. Quanto mais percebo que coisas erradas que andam por aí são muito mais difíceis de mudar do que sonha a nossa vã filosofia, fico sonhando com o lenitivo da aposentadoria.  E vêm as somas constantes de tempo de serviço daqui e dali, cômputos mil, cálculos apertados, receio de eventuais mudanças na legislação... Mas penso também na situação daqueles que são CLT. Nessa hora me vejo como um privilegiado. E a tristeza se afasta. Só volta quando me lembro que parlamentar se aposenta com 8 anos de “trabalho”.

É aí que o assunto toma um inevitável rumo, emergindo uma quase-fixação de  refletir sobre o peso do Congresso. Não falo da capacidade de exercer influência, prestígio, autoridade. Falo aqui do peso no sentido trivial, peso, aquele que nos oprime os ombros, que nos dá dor nas costas, ou que nos faz cair de cara no chão.

O peso do Congresso não se restringe a salário de deputado ou senador. É o desavergonhado custo final por parlamentar, agressão ética acintosa, num país de tanta miséria e desigualdade. Esse o peso que deveria interessar a todos, o do Houaiss, que nos diz, entre outros sentidos, que peso é “força exercida por um corpo sobre qualquer superfície que se oponha à sua queda”. Nada de prestígio: peso no sentido restrito e não lato. Peso na nossa cacunda.  E por falar em queda, “queda nos gastos do Congresso e queda da corrupção, com mais cadeia para os corruptos”, é uma das bandeiras dos levantes de junho de 2013 nas ruas. 

Quem já leu ou assistiu a reportagens sobre os congressistas suecos fica perplexo. Extratos bancários de parlamentares na internet. Transparência total, ausência de nepotismo, mesmo sem haver determinações quanto a isso. Gabinete de 20 m², apartamentos funcionais de 50 m², com lavanderia comunitária. Nada de carro com motorista, nada de assessor e secretária particular. Parece um sonho, mas é realidade lá pras bandas das ilhas de Estocolmo e adjacências. A Suécia é comprovadamente um país de políticos sem mordomia...

Semana passada, dentre vários exames médicos que tinha de fazer, soube que um deles (tomografia de coerência óptica) não era coberto pelo meu plano de saúde, a Golden Cross. O atendente declinou alguns outros planos que cobriam. Dentre eles, só me fixei em um — o plano do Senado cobria... Será que as regalias dos parlamentares não têm limites? Por que eles não pagam seus próprios planos? Melhor mesmo (quem sabe a solução para o problema da saúde no Brasil) seria congressistas e governantes serem obrigados a usar o SUS. E fim!

Dessa forma, entre as palavras de ordem como “Saúde padrão FIFA”, “Deputado corrupto na cadeia”, “Abaixo os gastos exorbitantes no Congresso”, “Mais educação, menos futebol”, poderíamos acrescentar: “Deputados e senadores padrão Suécia”... E tentem imaginar os suecos ouvindo falar de Renan Calheiros viajando em avião da FAB para comparecer a um casamento... Bem, no islã passaria de deputado a amputado...

Estou com um pé atrás com o tal do plebiscito que a Dilma propõe. Se não tiver jeito mesmo, espero que se pergunte ao povo brasileiro se ele está satisfeito com o peso que esse Congresso exerce nos nossos ombros, digo, nos nossos bolsos. "Eu acredito muito na inteligência, na sagacidade, na esperteza do povo brasileiro”, disse Dilma, em defesa do plebiscito. Deveria pensar que nós brasileiros podemos até ser espertos ou expertos... Mas “esperteza” é mais próprio de políticos e governantes, como a história tem demonstrado.

Aristides Coelho Neto, 6.7.2013

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