TEXTOS DO AUTOR

MEUS GAMBÁS, MEUS VIZINHOS

Conjecturas sobre gambás, cobras-cipó e política de boa vizinhança

Tenho feito de tudo para ser correto, cortês e racional para com meus vizinhos. E tentado ser racional até com os irracionais.

É o caso da cobra-cipó, que invadiu o viveiro onde vivem meus calafates, mandarins, manons e diamantes-de-gould. E que foi poupada por duas vezes, mesmo depois de ingerir dois indefesos e coitadinhos mandarins de bico vermelho.

Na última vez, o insensato réptil foi transladado para um parque vivencial. Foi o que me disse o jardineiro. Bem, tudo pode ter acontecido. Até um ato de violência. Eu estava fora.

É o caso dos gambás também. Tenho sido um gentleman. E olhem que eles já aprontaram várias. Depois de uma algazarra sem-fim de madrugada na área de serviço descoberta, ontem eu mesmo os acordei de manhã. É que dormiam, barriga cheia, dentro da lata de lixo. Usei de educação e muito respeito. Um deles me olhou, um olho aberto, outro fechado, se espreguiçando. Aliás, percebi que gambá acorda tarde. Com cautela e discrição, direcionei-os para o muro. Empurrei-os com a vassoura. E de lá os três seguiram a boroeste, em direção a novas aventuras. Como vocês podem perceber, estou falando de vizinhos, uns mais eventuais que outros.

Dia desses, meu portão foi amassado por uma vizinha aloprada. Mais preocupada com uma possível avaria em seu carro, simplesmente nem me deu satisfação. Eu soube por quem testemunhou o fato. Se estou pasmo por ela não ter avisado quanto ao ocorrido? Acho que não, e cada vez menos, diga-se de passagem. Homens, mulheres, gambás, têm agido assim leves e soltos. Enquanto espero que ela, a vizinha, se retrate, tenho orientado minhas visitas a tomarem cuidado ao estacionar nas imediações.

Quanto à tal da espera da retratação, já me disseram pra esperar sentado...

Pior mesmo é o vizinho lindeiro, que joga os gases enfumaçados de seu exaustor de cozinha em direção à minha casa. Isso mesmo, a chaminé é para o lado, apontada pra mim! E ele não acredita que me enche a sala, o escritório, de fumaça e cheiro de hambúrguer, camarão, pastel e outros quitutes. Me disse até que "estranha muito o fato de não ter fumaça na casa dele e a minha estar assim, invadida...". Ora, isso é obviamente sinal de que o exaustor dele está funcionando muito bem.  Quando lhe pedi para vir à minha casa sentir os odores e a fumaça, em pleno funcionamento de seu exaustor, ele alegou que estava com visitas. Significa que ele pode ter visitas e eu não!

E assim a gente vai tocando. Mas, querem saber, sinceramente? Posso manifestar minha preferência nessa questão de relacionamento? Não levem a mal, mas tenho me dado muito bem é com os gambás. Nada pessoal.

Aristides Coelho Neto, 17.3.2013

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