TEXTOS DO AUTOR

PAPAI NOEL É CRISTÃO OU NÃO É?

No fundo, no fundo, Papai Noel é vítima da conjuntura...

Noite de Natal. A música Silent Night nos embala. E faz com que, ao superpormos  nossas  vozes amadoras, tenhamos a impressão de que todos cantamos bem. Músicas assim são refrigério para nossas almas, que parecem flutuar na busca de lugares outros, em que nossas metas não sejam vãs. Há quem rotule essas músicas de tristes, desgastadas. É que às vezes bate mesmo uma nostalgia nessa época.   

Mas que ninguém duvide: Papai Noel geralmente é o dono da festa na véspera de Natal. À meia-noite todos se abraçam e desejam um Feliz Natal.  Evento bonito, momento de congraçamento, união da família, inspirada por um sentimento fraterno que todos almejam dure para sempre. Isso é gostoso, nos enleva, nos faz bem.

Eu muitas vezes já matutei sobre isso... e penso cá comigo — quais seriam as convicções doutrinárias do bom velhinho? O que se vê com frequência é a figura do Papai Noel insinuar-se com veemência nas festas do natalício do nosso Mestre e Modelo Jesus. O simpático velhinho chega, e não tem pra ninguém. Jesus fica em segundo plano ou sem nenhuma menção...

Penso na mensagem do poeta Jarbas Junior, que há pouco me chegou pela web. A tônica da mensagem de Jarbas é de que o Natal tem interessado mais à vaidade do luxo. Entraram os empresários no Natal, com sua lógica mercantilista, acrescentando novos personagens ao presépio que conhecíamos. Criaram uma ilusão lucrativa, nas luzes e embrulhos coloridos...  As crianças, pescando de sono, lutam para ficar em vigília, olhos nas cores e tamanhos dos pacotes ao pé da árvore reluzente.

Para Jarbas a fixação em presentes é ilusão materialista que se contrapõe ao apelo às mudanças internas inadiáveis que Jesus inspira. Vai além: “A expressão ‘Feliz Natal’ é vaga, oca, banal... nada diz. Eco que se repete de ego em ego, vã saudação alienada bastante condicional e chã.”. Sua rima fecha a mensagem assim: “Também, Papai Noel não tem alma cristã...”.

Esse juízo de valor me martela a mente. Papai Noel seria ou não seria cristão? Pode ser muçulmano? budista? materialista? ou mesmo agnóstico, sem crenças de qualquer tipo, acreditando somente no ser humano?

Cheguei à conclusão que até pode, sim!

Os valores do Papai Noel, teoricamente, são sólidos. Seus intentos têm, à primeira vista, um embasamento ético e moral inequívoco. Sabemos que, para ser assim, reto e digno, não há necessidade de  vínculo com religiosidade.

No entanto, esse Papai Noel que incentiva as crianças a serem boas, que as premia por isso, só tem uma falha. Falha, porém, que compromete muito a sua fama de bondoso: ele comete injustiças! Quero crer que não porque queira, mas por absoluta falta de adoção de políticas voltadas para o bem comum. 

Ou seja, Papai Noel, por não atender a uma demanda reprimida (ele não satisfaz a todas as crianças, certo?), chega no fim de ano e, onipresente – na tevê, nas lojas, nas praças, na nossa casa –, faz um jogo de cena que parece ter aprendido nos livros de sobrevivência na selva. Quem o orientou? Sei lá, livros de autoajuda, de psicologia, de administração. Talvez tenha aprendido com empresários, políticos, governantes. Estes últimos, quando sem escrúpulos, aproveitam qualquer oportunidade para dar coisas que seriam direito de todos, como se fossem benesses, dificultando o acesso a vida digna e a presentes de fim de ano para crianças e adultos.  

Sem divagações, voltemos ao Papai Noel. O de hoje, com essa carinha rechonchuda, é produto de marketing da Coca-Cola. Surgiu nos anos 1930. É cópia mal feita, arremedo do que foi Nicolau na antiga Lícia. Só aparece no fim do ano. Depois some. Passa, de forma rápida e fugaz, como se tivesse vergonha de encontrar Jesus de repente, em plena noite de Natal, com aquele olhar manso, mas percuciente, a lhe dizer: “Eu sei tudo sobre você, meu filho. Sobre o que faz. Sobre o que deixa de fazer”. No fundo, no fundo, sabemos que Papai Noel é vítima de uma conjuntura. Se é cristão? Bem, ele se esforça.

Aristides Coelho Neto, 25 dez. 2012

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