TEXTOS DO AUTOR

AGEFIS E OS HOLOFOTES QUE NINGUÉM QUERIA

Sem receios, sem juízos de valor, sem sofrer pela instituição AGEFIS, um convite a promover uma análise custo-benefício de tudo isso — talvez um preparo para o ajuste de contas com o Criador. Ou com a própria consciência.

Era quarta, 29 de abril. O telefonema a cada um de nós, convocando para reunião urgente naquele exato momento, denunciava a gravidade da situação. O choro da presidente, então, selou definitivamente o peso do problema. Investigação policial em curso apontava para três de nossos agentes fiscais. Mas chumbo grosso ainda estava por vir, à guisa de consolo. Holofotes indesejáveis.

Alguém ponderou sobre as ameaças e perseguições que já sofrera. Outro aventou que a instituição não se empenha em dar apoio a investigados, relegando-os à solidão. Outro ainda falou da ação a que respondia por invasão de domicílio, ao promover vistoria. Foram criticados os métodos da polícia, que dá guarida a acusações despidas de provas.

Mas todos se calaram quando se disse que as acusações estavam fundamentadas também em escuta telefônica. E alguns pensaram em chorar, não por seguir a presidente, mas pelo sentimento frustrante que aflorava nas mentes e corações.

Na cabeça dos presentes, uma dicotomia se delineava — Por quem ponho a mão no fogo? por fulano? por cicrano? por todos? ou mão no fogo por nenhum?.

E o receio de juízos de valor precipitados tomou conta do ambiente... De mim para comigo, indaguei — onde estaria a verdade?

Lembrei de meu texto AGEFIS, de fiscal a fiscalizada. Mesmo com data de 2011, acho que ainda é atual. Falo da necessária separação do joio e do trigo. Noutro texto, de 2012 (Sabe com quem está falando? ), preocupado com os inocentes, falo ainda das injustiças cometidas com quem foi comparado a joio sem sê-lo. Nas ponderações vou agora em direção diversa.

Voltemos à reunião de 29 de abril. Passei os olhos pelos colegas e dirigentes, tentando perscrutar suas personalidades. Identifiquei pessoas que adoram holofotes (não os recentes, que ninguém quer), outros, seduzidos pelo poder — efêmero, momentâneo —, outros, nem seduzidos, mas abduzidos por ele. Outros colegas, conhecia a sua índole, seu caráter, além de seu profissionalismo. Sabia ainda de outros, que ali não estavam, alçados a postos que exigem experiência, mas sem tê-la. Fascinados por momentos, para si, de glória nunca dantes vividos, usam seu posto deixando transparecer a arrogância, inebriados pela endorfina do cargo. Outros há que estão tentando entender o que acontece nesses novos tempos de mudanças, de empreitadas empíricas e planejamentos atabalhoados, à luz de holofotes de suposto prestígio, e também de holofotes que ninguém queria.

Isso mesmo, volto a dizer, quero tomar direção diversa.  

Quero muito me esforçar para despir o traje de paladino. Quero deixar de lado quaisquer análises de fatos desagradáveis, intenções nefastas, mudanças com ou sem rumo. Cada ser é um universo. Não quero me esmerar em entender as fraquezas das pessoas e seu reflexo nas instituições. Desejo, sim, assimilar a tese de que as diferenças estão aí. Em resumo, simplesmente aceitá-las.  E vislumbrar com máxima clareza que não me cabe transformar ninguém. A mim compete preparar-me para a tal porta estreita, onde passo eu, somente eu e mais ninguém. Nem procuradores posso nomear.

Não me sai da cabeça um trecho da carta de Paulo aos romanos (14:12), que sabiamente nos diz que cada um de nós dará conta de si...

Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, afirma, sobre essa fala de Paulo: “Inquieta-se a maioria das criaturas com o destino dos outros, descuidadas de si mesmas. Homens existem que se desesperam pela impossibilidade de operar a melhoria de companheiros ou de determinadas instituições”.

Mais claro não poderia ser...

Se ninguém prestará contas ao Criador por mim, só me resta trabalhar o modo como gostaria de ser lembrado pelos que me rodeiam — essa é que vai valer como senha de passagem. Isso exige uma séria e urgente reestruturação interna, de cunho estritamente pessoal. Outras reestruturações... não me cabem. Melhor sair de cena, preservando os últimos neurônios que estão ilesos. E bem longe dos holofotes. De qualquer espécie.

Aristides Coelho Neto, 11.5.2015

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