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Sinal vermelho para Roriz

Nas cruzadas rorizistas a cruz passa a ser azul. Os infiéis seriam todos aqueles que usam o vermelho. Esses inimigos estariam, portanto, na contramão do Bem.

Recentemente, Joaquim Roriz, candidato azul impugnado pelo TRE e TSE ao governo do Distrito Federal, demonizou o PT, que é vermelho. Disse nada mais nada menos que “vermelho é cor do satanás”. E foi além. “No governo deles [dos vermelhos] pode matar, roubar, estuprar; com a bandeira azul, não”, complementou Roriz, no seu estilo filosófico-popular.

Pelo que se sabe, Roriz é católico. Deve ignorar, no entanto, que os cardeais se vestem de vermelho.

Cruzadas - A Cruz VermelhaO símbolo da cruz estampou os uniformes das Cruzadas, que duraram do final do séc. XI a meados do XIII. Essas expedições de caráter militar organizadas pela Igreja tinham por objetivo combater os inimigos do Cristianismo e libertar a Terra Santa (Palestina), à época dominada pelos turcos muçulmanos. O derramamento de sangue era em nome de Deus.  E tanto o sangue derramado como a cruz dos uniformes eram vermelhos. Alguém já deve ter dito isso para Joaquim Roriz. Era a Guerra Santa. Os movimentos em direção a Jerusalém, assim como as lutas travadas contra os muçulmanos na Península Ibérica e contra os chamados hereges (inimigos do Cristianismo) em toda a Europa Ocidental, foram justificadas e legitimadas pela Igreja — uma guerra divinamente autorizada para combater os infiéis. Lamentavelmente “a cruz simbolizava o contrato estabelecido entre o indivíduo e Deus. Era o testemunho visível e público de engajamento individual e particular na empreitada divina”.

Nas Cruzadas Rorizistas a cruz passa a ser azul. Os infiéis seriam todos aqueles que usam o vermelho. Esses inimigos estariam, portanto, na contramão do Bem.

Dizem os especialistas, porém, que é difícil demonizar o vermelho. Para Maria Isabel de Oliveira, em seu artigo “Vermelhoterapia”, dentre outras características, o vermelho “é revitalizante, excitante... ligação básica nossa  com a Terra. Na aurora do dia surge o vermelho no horizonte, rasgando os céus, anunciando a chegada da luz. É o vermelho anunciando a vida, o Sol”.

Depois de coisas assim, difícil saber a cor que o capeta ostenta. E se o seu ambiente é azul, vermelho ou de outra cor. Nem rabo a gente sabe se ele tem, se tem chifre, se se torna azul de raiva quando no destempero... Dizem que o inferno é um estado consciencial. Nessa linha, parece óbvio que ele terá a cor que nossa mente determinar.

Mas vamos ao que interessa, que é um pedido — não sei se sério ou jocoso — que meu filho me fez. Contratado como ator profissional para a campanha de Agnelo Queiroz no rádio e na tevê, ele confidenciou: “Pai, torça para o Roriz ir para o segundo turno”. Sem entender o porquê do pedido, ele em seguida elucidou a dúvida: “Assim, meu contrato será mais longo”.

A gente costuma pedir para que não chova em determinado momento para não sujarmos o sapato. Esquecemo-nos daqueles que esperam chuva para a sua própria sobrevivência.

Que o meu filho me perdoe. Infelizmente não posso torcer para que Roriz se instale mesmo que provisoriamente no pódio nem que a vaca tussa.

Todos nós, moradores e eleitores do Distrito Federal, estamos cansados e desiludidos. Roriz já recebeu o cartão vermelho. Isso já é um passo para que tudo comece a ficar azul por aqui. Azul, no sentido tradicional, de tudo em ordem.

Aristides Coelho Neto, 8 set. 2010

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