TEXTOS DO AUTOR

CAIXA DE PANDORA E A BRASÍLIA DE TODOS NÓS

Um campo movediço se espalha pelo Planalto Central, diante do novo escândalo que mexe com nossos brios, nosso dinheiro e nossas esperanças. O que eu e você podemos fazer?

 “[...] Uma gente sem poder que segue compondo, tocando, escrevendo, estudando, interpretando, pintando, pesquisando, praticando a genuína solidariedade, sobrevivendo exclusivamente com o resultado de seu trabalho, inventando um jeito de viver sem se deixar contaminar pela lama. É essa Brasília que vale a pena, que me tira do luto, por quem eu espero.” — Conceição Freitas, em ‘Luto Prolongado’ (Correio Braziliense, Crônica da Cidade, p. 32, 4 dez. 2009) 

A Operação Caixa de Pandora deflagrada no último dia 27 pela Polícia Federal, e o arrazoado de Conceição Freitas, logo acima, nos levam a pensar, a pensar e a pensar quanto à nossa atuação numa hora dessas tão crítica da história de Brasília, prestes a completar 50 anos.

Nada nos parece novidade quanto aos nomes envolvidos no escândalo. Nada é novidade quanto à delação, já que sempre há um insatisfeito dentre os beneficiados que vira a mesa.  Ora, senhores, até a quadrilha que assaltou o ônibus em que eu viajava, há um ano, foi pega porque os integrantes se desentenderam.

Ao ter notícias das falcatruas, agora filmadas, minha preocupação primeira foi com minha imagem de brasiliense já tão desgastada. As pessoas de fora, queiramos ou não, sempre veem os habitantes do Distrito Federal como coadjuvantes. Para elas, em defesa própria, entoo sempre a mesma ladainha: “Vocês é quem mandam pessoas desclassificadas para Brasília, pela força do seu voto impensado”.

Agora a cena começa a mudar, infelizmente. Brasília começa a produzir seus políticos e governantes, pela idade que tem. Começam a despontar pessoas que detêm certa liderança, formadas ou malformadas aqui mesmo. Não sabemos em que lar foram criadas, sob que condições, sob a égide de qual doutrina. Só sabemos que alguns representantes nossos, produzidos no cerrado do Planalto Central, começam a se portar com a desonestidade de tantos outros desses brasis afora.

O que Conceição Freitas tão bem aborda em sua Crônica da Cidade — tão bem finalizada com as palavras que transcrevi no início — é que os verdadeiros habitantes desta terra, são pessoas de bem, longe do poder, pessoas normais, que querem sobreviver em bases de equilíbrio e respeito uns pelos outros. E que estão longe das falcatruas que envolvem até o nome de Deus, em prece disparatada, desferida por falso representante de divinos desígnios, como mostra famigerado vídeo.

Muitos de nós, hoje brasilienses, não somos filiados a partidos políticos, não somos do MST, não somos da CUT, não somos petistas nem rorizistas, não somos adeptos de regimes autoritários, não somos ativistas de carteirinha. Somos apenas brasilienses, cidadãos comuns, adeptos da liberdade de escolha.

É a esses comuns que me dirijo agora.  O que podemos, eu e você, fazer para mostrar a nossa insatisfação quanto a esse estado de coisas?

A impunidade pode grassar de novo, diante de uma Câmara Legislativa contaminada, e diante de uma situação de letargia nossa. Reclamar não é só um direito no estado democrático de direito. É dever também.

Urge, então, que nos tomemos da mesma solidaridade diante de uma catástrofe como a de Santa Catarina, por exemplo. Só que em vez de mandarmos colchões, mantimentos, roupas, dinheiro, no caso de Brasília, temos de mostrar presença de alguma forma.

Convoco todos os cidadãos de bem a passar pela Câmara Legislativa do Distrito Federal e,  por breves cinco minutos, observar a nova comunidade que ocupa o plenário daquela Casa. Observem o que se está fazendo por lá, palestras, debates, em torno de temas que passam pelos destinos de Brasília, pela ética, pela moral, pelo saneamento inadiável das esferas políticas e governamentais.

Basta a sua presença, não é necessário fazer nada que não queira. Nem precisa levar seu colchão. Basta refletir. O local é apropriado. É um dos palcos. Talvez lá você tenha um insight quanto a possível contribuição sua, pequenina que seja. Para que fique bem claro que eu e você não queremos nos contaminar pelo lodo que toma conta do cerrado candango. E não queremos nem lama nem lodo.

De minha parte, fui lá, e resolvi escrever.

Aristides Coelho Neto, 6.12.2009 

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