TEXTOS DO AUTOR

GRACINHAS COM DINHEIRO PÚBLICO

São muitas as formas de escoamento do dinheiro público. Às vezes ele vai para o ralo, às vezes vai para o bolso. Às vezes sabe-se de quem. Às vezes, um mistério. Quem aguenta tantas gracinhas e/ou falcatruas? Enquanto isso, a impunidade grassa. E isso não tem graça.

A principal via do Lago Norte, no Distrito Federal, é a chamada Estrada Parque Península Norte (EPPN). Por ela vai passar uma nova rede de distribuição de água potável. O processo de implantação já teve início, com vistas à substituição de todo o sistema de abastecimento da chamada Península Norte.

A EPPN é via com a qual os dirigentes têm muito cuidado quanto a corte no pavimento asfáltico. Isso porque toda recuperação de corte de pista não apresenta bons resultados, propiciando indesejáveis degraus ou afundamentos no pavimento. Principalmente porque as recuperações são feitas geralmente de forma bem irresponsável, não-técnica, como o nariz dos empreiteiros, para ser bem rasteiro.

No entanto os retornos da EPPN já estão, praticamente todos, cortados por passagens mais antigas de outras redes, como as de iluminação pública. Mas são apenas retornos – as chamadas vias de regresso de que os carros se utilizam para passar a trafegar em sentido contrário, porém sem cortar a mão de direção. Por ali os veículos nunca trafegam em alta velocidade. Não devem e nem podem. Não há problema numa pequena irregularidade na pista.

Mesmo os tais retornos já estando retalhados, dirigentes e administradores não permitiram cortes tradicionais de pistas nesses da Estrada Parque Península Norte, para as travessias das mencionadas redes de água.

Exigiram o chamado método não-destrutivo, sistema que permite a passagem subterrânea da tubulação sem o corte, por meio de um processo de cravação por sistema hidráulico. Sofisticado. Mas o que é sofisticado tem seu custo. E não é barato.  Doze metros de travessia por MND (método não-destrutivo) custam mais ou menos doze mil reais. Já imaginaram em cada retorno pagar o preço de um carro, só pra não cortar uma pista que já não é mais virgem?

Decisões como essa, pelo MND – nesses casos relatados – podem ser chamadas de gracinhas com dinheiro público. E quem decide por essas gracinhas não é técnico, percebem? É dirigente, é  administrador público, geralmente político.

É aquele mesmo administrador público que pode decidir por dar ou não uma indenização de transporte a um funcionário pelos seus belos olhos. O escuso critério de conceder coisas que não são suas chega ao ponto de se facultar indenização de transporte para um funcionário de protocolo (já houve casos absurdos assim), que não usa seu carro para exercer as atividades, ou às vezes nem tem carro. Essa ajuda de custo para transporte pode ser negada a um gerente de obras, por exemplo, pasmem. Ou se facultar o benefício a um gerente e a outro não, mesmo que ambos lidem com obras. Está na mão do administrador, arbítrio, prerrogativa totalmente sua.

Duro de conceber também, quando se vê uma empregada doméstica sendo paga com verba de gabinete... dinheiro público.

Me ocorreram esses três exemplos, mas ilustração desse tipo de coisa é o que não falta. É público e notório que tanto o legislativo, como o executivo e o judiciário estão eivados de casos de malversação dos recursos do governo. Assistam aos telejornais. Contabilizem. Analisem. Façam uma estatística. É desanimador.

O dinheiro público se esvai de todas as maneiras, pelos mais variados motivos. Por incompetência, por inexperiência, por desonestidade, que gera falcatruas de pequeno porte ou megafalcatruas (aquelas em que se enfileirássemos as cédulas, preencheríamos a distância Terra–Lua). Muitas vezes também por ausência de sensibilidade e preocupação com o interesse comum – a famigerada incapacidade de lidar com dinheiro público como se fosse um bem de todos e não seu.

E os políticos... como eles mentem... como cuidam de si mesmos... como prometem o que não podem cumprir...

Dia desses, contrariado com a atual conjuntura, entrei num elevador e disse ao ascensorista: “No dia em que  eu for governador ou deputado, vou mandar colocar janelas em todos os elevadores”. E saí.

O homem que pilotava o elevador nem ligou. Só deu um sorriso. Ele não é burro.  

E nem nós, claro.

 

Aristides Coelho Neto, 1º.4.2009

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