— Comprei algo para você – disse Valter com voz melosa.
— Hummm...
— Você vai adorar. Um amassador de lata de cerveja.
— O que eu vou fazer com isso? – indagou Daisy, sem levantar a cabeça. Apenas os olhos se desviavam da revista para encontrar os de Valter.
— Ora, Daisy, o que se faz com um amassador?! Amassa-se.
— Sei. Onde vai fixar?
— Ao lado da cama. Do seu lado.
— E por quê?
— Por causa do abajur.
— Acho que não estou entendendo.
— Perto do abajur garante a você amassar latinhas durante a noite, se tiver vontade, quando tiver insônia, quando está escuro.
— Você pensa em tudo. E como!
— Como assim? Elogio?
— ... como tudo o que você pensa é descartável! como as latas. E como você pensa que pensa... Incrível! Fico besta!
— O que acha? sinceramente...
— Acho que você devia dar o amassador de latas para sua mãe. Seria bem mais útil.
— Ela não amassaria. Se diz preservacionista. As latas, inteiras, costuma guardar num quartinho dos fundos como se fosse uma poupança para os netos.
— Então instale perto da sua cama.
— Minha cama é esta! Só mudaria o lado então...
— Sua cama era esta. Vai usar a partir de agora a cama do quarto da empregada.
— Puxa, Daisy, eu estava brincando. Era só um preparo, um recurso, motivação, pra dizer que quero me casar com você.
— Agora não, obrigada.
— Mama mia! Não acredito.
— Pode acreditar. Vou tirar licença-prêmio e não vou torrar com casamento.
— Ufa, mas que humor, Daisy, foi só uma estratégia. Eu falaria de uma coisa que você não gostaria, para logo entrar com outra que você amaria.
— Disse bem, Valter, disse bem: amaria. Não sou mais aquela Daisy. Agora sou a Maria. Durma. E não fale mais nada nos próximos três dias. Boa noite.
Valter se levantou, tomou um iogurte e ficou até o dia amanhecer sentado na cozinha olhando para uma lata de água tônica.
Aristides Coelho Neto, 7.1.2012
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