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A TRISTE CENA DA MAÇANETA QUE GIRA

Este texto de Leandro Coelho sugere que, entra governo, sai governo, a questão da segurança no Distrito Federal e Entorno se configura como uma realidade caótica.

Entra governo, sai governo, e a questão da segurança no DF e entorno parece não ser um tema, mas apenas uma realidade caótica — nossos índices de violência estão equiparados aos maiores do mundo. Casos cada vez mais perto de nós vêm reforçar as estatísticas. Agora foi a vez de um casal de amigos moradores do setor Sudoeste Econômico, em Brasília, os quais vou chamar aqui de Paulo e Juliana. O episódio recente (28.7.2011) traz cenas de um bom clássico de suspense.

Cenas de pânico no DFNa madrugada daquela quinta-feira, Juliana, sem sono, se levanta e vai para a sala de seu apartamento para assistir televisão. Passados alguns minutos ouve um barulho. Nota que a maçaneta da porta da sala se mexe. Pelo olho mágico a surpresa — um homem encapuzado tenta romper a fechadura. Pânico. Juliana grita. Verbaliza que está chamando a polícia. Paulo acorda com os gritos. Felizmente não tem o ímpeto comum a tantos de improvisar uma arma para enfrentar o bandido. Do outro lado da porta o homem insiste na empreitada e ainda retruca: "Calma, senhora. Não é nada disso. É porque fui assaltado. Estava buscando ajuda". Finalmente o audacioso bandido desiste. Vale dizer que as tentativas de contatar a polícia não tiveram êxito. E sequer uma luz da vizinhança foi acesa. Mas isso fica para um estudo comportamental numa próxima oportunidade...

Uma viatura foi para o local somente quando Juliana conseguiu ligar para o celular de uma amiga policial militar. É claro que nada mais encontraram. A amiga policial orientou o casal que se antecipasse na mudança para o apartamento comprado em Águas Claras, prevista somente para setembro. Hoje o casal está provisoriamente na casa de familiares tomando as providências para a mudança.

Lembro-me que, no ano de 2009, quando eu e minha esposa buscávamos um apartamento para alugar, percorremos o Sudoeste Econômico. Nossa busca naquela região não se prolongou por conta de um retrato falado pregado nas portarias de alguns dos prédios,um alerta sobre um bandido que já tinha entrado em alguns apartamentos e assaltado pessoas nas imediações.

Aqui pela Asa Norte já temos um bom acervo de ocorrências recentes. Um estupro aqui,um porteiro amordaçado ali... Acolá, a lanchonete de um amigo arrombada e saqueada na 110 norte, na sequência de outros estabelecimentos comerciais assaltados, inclusive à mão armada, na mesma semana. Em prédios sem garagem, como na 314 norte, sair do carro quando se chega à noite é sempre uma tensão. Já passamos por alguns sustos.

Nesse rápido e micropanorama da falta de segurança pública, com base em experiências envolvendo amigos, vejo o conhecido 190 como um serviço terceirizado que está longe de ser eficiente. Em situações críticas, as chamadas da comunidade para o telefone da polícia não são completadas. É desesperador! O 190 é um "caso de polícia"! No que diz respeito aos postos policiais espalhados "estrategicamente" pelo DF, mais me parecem elefantes brancos, ou melhor, "elefantinhos verdes", que pouco intimidam e nada funcionam. "Não posso abandonar o meu posto para o atendimento." Assim como eu, é o que você, muito provavelmente, vai ouvir de um policial num desses postos.

No nosso país o número de homicídios só não é maior porque somos instruídos e reinstruídos quanto a maneira mais adequada de lidar com os bandidos. São cartilhas que, a cada edição, ganham mais páginas. Enquanto isso, as políticas públicas de segurança caem em descrédito. E surtem efeito contrário — nos deixam cada vez mais apavorados.

Nossa jovem Brasília, que nos tempos de "eu menino" era tão tranquila, agora está prestes a estrelar num filme estilo Tropa de Elite. A Força Nacional já está por aqui. Salve-sequem puder! Ou melhor, façam como Juliana e gritem bem alto, mas não somente para o bandido sair da porta de sua casa — gritem sua indignação ao Poder Público, à imprensa. Em algum momento uma luz vai se acender. E que isso aconteça antes que sua maçaneta se mexa.

Leandro Coelho, em 31.7.2011, de Brasília
http://www.leandrocoelho.com/

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