TEXTOS DO AUTOR

PAPAI NOEL E ODEBRECHT, A REVIRAVOLTA NATALINA

Papai Noel ser convocado para depor tremeu as bases do grupo internacional de papais noéis no whatsapp. E o elfo pego com a boca na botija complicou a situação. Indignadas, as pessoas gritaram em uníssono: — Queremos um Natal de verdade!

O novo vazamento das delações premiadas da Odebrecht no Brasil caiu como uma bomba em Papai Noel, seus adeptos e simpatizantes. Ser levado para depor em pleno dezembro, época de Natal, então, nem se fala.

Já há alguns anos a queda de popularidade do bom velhinho está mais que evidente no Brasil. Pior mesmo só a taxa de aceitação de Michel Temer. Os que mais têm estado atentos à situação crítica do Papai Noel brasileiro são Santa Clauss (EUA), Father Christmas (Inglaterra), Weihnachtsmann (Alemanha)  e Sinterklaas (Holanda). Mas Dedo Mraz (Macedônia), Viejito Pascuero (Chile), Babbo Natale (Itália), Joulupukki (Finlândia) e Julemanden (Dinamarca) também já se manifestaram preocupados.  Quando Père Noël (França),  Jultomte (Suécia), Santa Kurosu (Japão), Kerstman (Países Baixos) e Pai Natal (Portugal) se integraram ao grupo no whatsapp, o poderoso Santa Clauss fez um ligeiro apanhado da situação aos novatos. Em suma: o que as delações premiadas da Odebrecht poderiam acarretar para a equipe como um todo. Respingos são inevitáveis. Quem sempre ficou mais retraído e cauteloso foi São Nicolau de Mira (antiga Lícia, hoje Turquia). O grupo  tem se preocupado sobremaneira com a situação, cada um com sua ênfase. E, lá de seus rincões, muitos têm mandado vídeos e áudios que direta e às vezes subliminarmente deveriam fazer com que o Papai Noel brasileiro repensasse a sua postura. Esses alertas acontecem desde 1930, quando a Coca-Cola deu uns retoques na imagem do velhinho gorducho.

Na mesma hora em que a Polícia Federal confiscava o computador de Noel tupiniquim, pelo menos cinco participantes do grupo de whatsapp caíram fora sem nem explicar o porquê. Mas a gente sabe. É que as notícias hoje em dia correm rápido. São mais velozes que qualquer trenó.

Longe de emitir juízos de valor, sabe-se que o grupo de bons velhinhos não tem muito a ver com santidade. Santo oficial mesmo só São Nicolau. Por incrível que pareça, ele é hoje o menos popular dentre todos, a não ser na Rússia e na família de Donald Trump. A santificação, aliás, de São Nicolau tem sofrido críticas da parte de personagens expressivos do Ministério Público e de vários teólogos — diz-se que as ações do bispo Nicolau no bem não teriam sido suficientes para a beatificação. E se hoje nem São Nicolau consegue imprimir justeza e igualdade na distribuição de presentes, algo está errado!

Mas voltemos às sucessivas derrotas de Papai Noel verde-amarelo. A capacidade seletiva total e descaradamente parcial de Papai Noel, convenhamos, tem assustado até os mais incautos. Doze milhões de desempregados brasileiros foram simplesmente banidos das intenções do velhinho de barbas brancas. E isso não é justo! O que muito abalou a população foi Noel ter sido visto em Monte Carlo numa Mercedes limusine, e saindo de um restaurante dos mais renomados — e caros —, enquanto se falava em arrocho e em falta de verba para consertar o trenó e para a compra de presentes a serem distribuídos à criançada. A filmagem de um elfo da maior confiança de PN recebendo propina entornou o caldo de vez.

A investida do comércio para tirar Papai Noel do cenário natalino deu no que deu. Todos já sabem. Apresentar Jesus como figura máxima de dezembro, em contrapartida, só fez caírem as vendas.  Um erro de marketing. Ora, o total desapego às coisas materiais — proposta bem conhecida do Divino Mestre, chamado Aniversariante Sublime — quase liquidou com o comércio. Nem o slogan "dê a quem nunca teve" serviu para alavancar qualquer tipo de venda.  Um problemaço para a indústria de sonhos, o mundo dos negócios, o comércio. E mais — o que fazer com dezenas de milhares de sósias de Papai Noel, gordos, magros, imberbes, empalhados e espalhados, infiltrados pelo país? Mais desemprego?

Foi aí que o mundo comercial fez a clara opção do lucro. Que voltasse o Papai Noel, mesmo sem popularidade, mesmo ficha dúbia, para salvar os comerciantes da falência e do desemprego. E Papai Noel sentou-se à mesa de negociação. Negociata pura. O dinheiro falou mais alto.

Mas as tentativas de trazer Papai Noel de volta às campanhas de fim de ano esbarram agora nos sucessivos golpes que o "bom" velhinho sofre no MP, na Justiça, na ala cristã progressista — inspirada no Papa Francisco, um revolucionário do Bem — e na mídia.

Sem o resultado final das investigações, paira imprecisão sobre a idoneidade do Papai Noel. E nessa hora a força do exemplo de Jesus de Nazaré aflora, se sobressai como sempre nesta época, embora muitas vezes esquecida de janeiro em diante.

Nesse vendaval, com quem a gente fica? Jesus ou Papai Noel? Assim como a constatação de que dois mais dois são quatro, e de que renas têm chifres, eu particularmente não tenho qualquer sombra de dúvida! Sinceramente falando, querem saber mais? O Papai Noel nunca me enganou.

Aristides Coelho Neto, 23.12.2016

Comentários (3)

Voltar