TEXTOS DO AUTOR

AGEFIS E INTELIGÊNCIA

Que tipo de inteligência há de se adotar para salvar a AGEFIS da frustração, e o Distrito Federal do caos? A emocional ou a tradicional?

O que me chamou mais atenção na palestra daquela segunda-feira de setembro, que versou sobre Inteligência Emocional, foi a necessidade de não reclamar. E fazer as tarefas com o que se tem disponível.

A palestra se seguiu a um rol de coisas classificadas de boas que aconteciam à nossa AGEFIS – Agência de Fiscalização do Distrito Federal.  Ninguém disse das coisas ruins.

Para quem não sabe, o termo Inteligência Emocional  está ligado ao conceito da chamada Inteligência Social, presente na psicologia e criado pelo psicólogo americano Daniel Goleman. "Um indivíduo emocionalmente inteligente é aquele que consegue identificar as suas emoções com mais facilidade. Uma das grandes vantagens das pessoas com inteligência emocional seria a capacidade de se automotivar e seguir em frente, mesmo diante de frustrações e desilusões."  

Entre as características da inteligência emocional está a "capacidade de controlar impulsos, canalizar emoções para situações adequadas, praticar a gratidão e motivar as pessoas, além de outras qualidades que possam ajudar a encorajar outros indivíduos".

Saí do evento entusiasmado com o conceito novo para mim de inteligência.  E seguir em frente — na minha vida pessoal, é bom frisar —  apesar das frustrações e desilusões.  Mas saí matutando quanto à vida profissional.

E pensei nas outras acepções de inteligência. Será que nossos dirigentes e o nosso governador estariam sendo inteligentes no trato da grilagem de terras e das invasões em curso no Distrito Federal?  Ou será que alguém subestimava a minha inteligência? Fiquei meditando ainda sobre os conceitos que eu tinha de inteligência, passando até pela expressão "trocar olhares de inteligência", que neste caso tem a ver com "entendimento".  Assim, desinteligência é o mesmo que desentendimento...

Ao contrário de outras pessoas, saí convicto que não me cabe trabalhar feliz com os meios de que disponho na vida profissional.  Saí totalmente persuadido (por mim mesmo e não por outrem) de que a AGEFIS não pode se contentar em fazer o máximo com o mínimo de condições. E tapar sol com peneira só porque uma minoria entusiasta decidiu isso.

Acho mesmo que se inteligência emocional é também autoconhecimento, a AGEFIS deveria se conhecer melhor, ouvindo estas e outras opiniões, de quem está vislumbrando um futuro não muito agradável em face da política atual de combate ao mau uso do território.

Não sei se sabem, mas a Agência de Fiscalização do DF é tanto amada como odiada. Odiada pelos ambulantes, pelos quiosqueiros abusados, pelos grileiros de terras, pelos invasores de terra pública, por aqueles que constroem sem responsável técnico, sem projeto aprovado, sem alvará de construção. É amada pelos vizinhos em conflito, e pelos políticos, que a usam para empregar afilhados, favorecendo interesses que não são públicos, mas seus, particularmente.

Ora, a falta de inteligência de nossos governantes para com o Distrito Federal é notória. Uns dizem que não é falta de inteligência, mas falta de vontade de resolver problemas, já que todo político acha que deve ter olhos bem abertos para a repercussão de suas ações. O que repercute mal, então, é evitado por aqueles que têm de governar, de legislar, pensando mais na sua reeleição e na locupletação em bens, poder ou prestígio.

A dinâmica das irregularidades do DF cresce de forma inversamente proporcional à capacidade dos agentes fiscais. A dinâmica do malfeito é muitas vezes superior à capacidade de resposta da agência fiscalizadora.  Assim, no que tange a obras e parcelamentos irregulares, decidiu-se — sabe lá por quê — dar-se prioridade ao combate a ilícitos que surgiram a partir de julho de 2014.  Outro governante já havia feito isso em 2008.  Com base em quê? Não me pergunte.  Isso é válido? Na cabeça de alguns é. Dizem que temos de ter um parâmetro, caso contrário a frustração será maior. Bem, essa postura se traduz em reconhecer a própria incapacidade. Melhor, obviamente, diminuir as metas, jogando o que é passado para baixo do tapete.

A incapacidade de agir já é patente. Imagino que para dez edificações irregulares erradicadas, possivelmente surjam quinhentas novas. Essa talvez a proporção. Isso faz com que o Distrito Federal em breve se equipare à favelização de que se ouve sempre falar no Rio de Janeiro. Aqui é bem mais fácil, pela ausência de morros. Ao pensarmos nas áreas de preservação que estão sendo aniquiladas, possivelmente, pode faltar água muito antes do que se pensa.

Quais as políticas governamentais para conter o deterioração das condições de vida no DF? Quem pensa nisso com inteligência?  Imagine você dizer aos bombeiros que só devem apagar incêndios iniciados nos últimos 10 minutos. Os de 15 ou 20 ou 30 minutos, deixem queimar. Dessa forma, é de se concluir que, de forma absurda e parcial, temos de ser eficientes só em alguns casos, em função das nossas limitações. E com as quais temos de nos contentar.  Minimizam-se os problemas, adéqua-se a máquina a 20% da realidade, embaça-se a visão de futuro, e maximizam-se as coisas boas que acontecem, pinçadas com muita dificuldade já que são minúsculas. 

Pois é, pelos adoráveis conceitos de inteligência emocional — que os palestrantes nos passam com incrível humor —, vamos, nós da Fiscalização, enxugando gelo. Alegres e contentes com a própria penúria, como prevê a Inteligência Emocional, de nos contentarmos com o que temos.

Acho mesmo que, com isso, o grande problema nosso é perder aquele outro tipo de inteligência — o tradicional.

Aristides Coelho Neto, 9 de setembro de 2016

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