TEXTOS DO AUTOR

A BALANÇA DA ESQUERDA E A PESAGEM DE RORIZ

Pavarino nos fala da satanização própria da esquerda de tudo que não vem de São Lula. Chama Roriz de Odorico Paraguaçu do cerrado, mas não o vê como alguém de "direita" — está mais para um coronel corrupto e populista, que está de um lado, mas poderia estar de outro. Aliás, como Sarney, o primeiro padrinho de Roriz, que hoje apoia a "esquerda".

Salve, Ari! Li seu artigo Sinal vermelho para Roriz, cuja chamada é: "Nas cruzadas rorizistas a cruz passa a ser azul. Os infiéis seriam todos aqueles que usam o vermelho. Esses inimigos estariam, portanto, na contramão do Bem".

Como não perco a chance de provocar meus colegas — você sabe que trabalho em um reduto tradicionalmente "esquerdista" —, pergunto, sem disfarçar certo cinismo: por que não devo votar no Roriz? porque ele é analfabeto, populista? passa por cima dos partidos e faz coligações espúrias? Conheço outras lideranças que se encaixam nessa descrição...

Que cor dar às vestes do inquisitorNa verdade a "esquerda" vem — em nível nacional e local — satanizando tudo que não vem de São Lula, lembrando as trevas do governo FHC, condenando o "mal" encarnado na direita privatista (que não inclui, obviamente, Collor, Sarney ou Filippelli...). Não me parece, em essência, algo muito diferente do que faz Roriz. A diferença é que Roriz é tosco. Caricato. Folclórico.

Não preciso dizer que não me afino com o Odorico Paraguaçu do cerrado. Diferentemente do que dizem meus amigos de "esquerda", não vejo Roriz como alguém de "direita" — ele ainda não ascendeu a essa condição. Não é mais que um velho coronel populista e inculto. Mas se é para ser preconceituoso, não deveríamos ter votado em um torneiro mecânico — eis o eterno paradoxo da "esquerda" brasiliense...

Aliás, meus colegas esquerdistas, com ou sem aspas, é que parecem mais cruzados da fé petista. Me lembram mais devotos de umas igreja$ que, não obstante as evidências, fecham os olhos para toda a bandalheira. Ou tudo  relativizam, sem a menor cerimônia.

Vou torcer para um segundo turno aqui em Brasília, também na improvável eleição para presidente. Não só pelo contrato do Leandro — o que já justificaria! —, mas porque temo as unanimidades ou maiorias esmagadoras. Seja a da direitona velha de guerra, seja a dessa teocracia sindical personalista. Precisamos de mais contraditórios!

O Roriz também me dá náuseas, assim como a ideia de vê-lo novamente no Buriti. A diferença é que, hoje, já não vejo tanta diferença em seus opositores. E daí, para eu ser classificado como "de direita" pelos meus colegas "de esquerda", é fácil fácil. Nisso acabo virando satanás para os dois lados.

Melhor assim. Quem manda querer ser gauche (ou, nesse caso, droit) na vida?...

Aliás, como diria Oscar Wilde, "quando todo mundo concorda comigo, começo a desconfiar que estou errado...".

Roberto Victor Pavarino, 11 set. 2010 

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