TEXTOS DO AUTOR

JESUS E CONCHAVOS POLÍTICOS

Sua perseverança e Sua convicção nos ideais que abraçara desestabilizariam o sistema de então. Mas alianças políticas como as de Lula, jamais!

Estou ainda aturdido com a afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (em 22.10.2009) de que Jesus, na política brasileira, teria de fazer supostas alianças espúrias em nome da governabilidade. Vou deixar de lado a constatação escancarada quanto à dupla personalidade do governo, já evidenciada até as tampas no caso Sarney e em outros.

Vou deixar de lado também minhas lamúrias quanto à esperança que depositei em Lula na primeira eleição — vestindo até camisa vermelha sem ser fã de carteirinha do partido —, e a minha descrença atual em estratégias condenáveis para se manter no poder.

Acho que Lula, se piloto fosse, no ano passado também lançaria o carro da Renault no muro de proteção, lá em Cingapura, em nome da governabilidade. Acho mais. Lula, se dentista fosse, também arrancaria os 28 dentes de César Ferreira — o garoto deficiente que deu entrada nesta semana num hospital de Brasília para tirar apenas dois e teve a boca devassada. Tudo em nome da governabilidade. Mas vamos deixar isso de lado.

Quero falar inicialmente de mensagem que apareceu em minha caixa de e-mails. Trata-se de apresentação em powerpoint que traz uma visão profético-pessimista de que tudo acaba mal para quem zomba das coisas divinas — Paulo aos Gálatas (6:7), por volta de 55-60 d.C. É alusão à Lei de Causa e Efeito, aquela que rege as coisas físicas e também as impalpáveis.

No entanto a listagem de casos de desrespeito ao que é divino revela uma tradução simplória do autor quanto ao “tudo o que o homem semear, isso também ceifará”. E a gente equivocadamente acaba por resgatar aquela imagem do Deus punitivo da época de Moisés.

Nessa linha, no arquivo em powerpoint afirma-se que John Lennon, após dizer em 1966 que o cristianismo iria se acabar, encolher, até desaparecer... Após dizer que a doutrina de Jesus era simplória, e que os Beatles eram mais populares que Mestre dos Mestres, teria sido “punido” por meio de cinco tiros de um fã. Tancredo Neves, na época da campanha presidencial, teria afirmado que se tivesse 500 votos do seu partido nem Deus o tiraria da presidência da República. E “Deus o tirou” bem na hora de assumir.

Brizola, em 1990, em outra campanha presidencial, disse aceitar até o apoio do demônio para se tornar presidente. A história registra a sua frustração. Cazuza, por ter oferecido a Deus uma baforada de cigarro de maconha, também teria sido “punido” da forma que passou para o lado de lá. Marilyn Monroe, diante do pastor Billy Graham, teria dito, por sua vez, não precisar do seu (dele) Jesus. E deu no que deu.

Em Campinas, vendo que a filha iria para a balada com uma turma já alcoolizada, a mãe teria dito um “Deus lhe acompanhe”. A filha, jocosamente, teria dito que só se fosse no porta-malas, pois o carro estava cheio. Resultado: um acidente em que morreram todos, um carro totalmente destruído, com exceção do porta-malas...

Não dou uma semana para que tal apresentação em powerpoint inclua o presidente Lula em um vaticínio desanimador quanto ao seu futuro.

Mas as coisas não são bem assim. Todo plantio vai determinar um tipo de colheita, e Deus não se preocuparia em punir de forma tão rápida, com essa didática direta e sem alegorias, as besteiras que falamos. Ele é muito ocupado para se chatear com coisas assim pequenas.

Lula se esquece (ou não sabe) que no caso de Jesus, o maior representante divino na Terra — carpinteiro, médico de almas, pedagogo, filósofo —, a mensagem legada à humanidade foi principalmente educacional. O impacto da sua mensagem foi tão grande que dividiu a história em duas — antes e depois Dele. Não há dúvida que seu ministério influenciou sobremaneira a política vigente, já que no séc. I quem detinha o poder político detinha também o religioso.

A mensagem do Mestre, na sua prática evangelizadora, estabeleceu-se num determinado contexto social, político, econômico e ideológico. Segundo frei Betto, “sua aliança com os oprimidos, seu projeto de vida para todos (João 10:10), tiveram objetivas implicações políticas. Por isso ele não morreu na cama, mas na cruz, condenado à pena de morte”. De acordo com frei Betto, a figura de Jesus e de sua doutrina desestabilizaram de tal modo o sistema ideológico e os interesses políticos vigentes, que levaram dois partidos inimigos — o dos fariseus e o dos herodianos — a fazerem aliança para conspirar em torno de planos para eliminar Jesus.

Jesus, que não tinha ambição alguma de poder temporal, foi portanto uma ameaça à ordem constituída. E a ordem daquela época não apresenta grandes diferenças, se cotejada com falta de ética e de princípios morais hoje reinante. No entanto, Jesus foi fiel às suas convicções, do bem, do amor incondicional. E foi enérgico e peremptório em defesa dos seus ideais. Alianças espúrias? Jamais!

Que o leitor amigo não espere de forma alguma que Lula tenha o mesmo fim de Lennon, de Marilyn, de Tancredo, de Cazuza. Mas sim imagine o que Jesus diria, se chamado fosse a opinar na questão. No meu modo de entender diria que o poder de Lula é efêmero. E firmado muitas vezes em bases errôneas, em improvisos infelizes, eu ousaria complementar.

No que tange ao voto, já não sou mais o fã ardoroso do operário que revolucionaria na forma de governar. E minhas opções ficam cada vez mais claras. Aliás, sempre escrevi presidente com minúscula e Mestre dos Mestres com maiúscula.

Aristides Coelho Neto, 23.10.2009 

 

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