TEXTOS DO AUTOR

FALSOS REVISORES

Revisores complicados, clientes encrencados e por aí vai.

Finzinho de agosto, recebo um e-mail singular. Me veio pelo site novo, que o meu querido webmaster Márcio Marcelino vai finalizando em doses homeopáticas. Ele disse que não posso e nem devo "escancarar de uma vez para o internauta. Este tem de ir saboreando o crescimento da homepage". Danadinho esse webmaster, virou meu amigo. Passados dez anos, entendo que algo mudou — a maioria das pessoas se cansa ao ler mais de 200 caracteres. Daí a nova tendência da mídia digital: a condensação dos textos. Mas a página já andou apresentando resultados interessantes. Segue um deles.

Pessoa do interior da Bahia, quando fez contato, trouxe algo de inédito. Não me mandou logo de cara um texto para revisar: queria primeiro que eu informasse quantos textos e livros eu já havia revisado. E justificou a pergunta — ele já teria sido vítima de falsos revisores. Bem, nunca me preocupei com quantos textos já revisei. Apenas informei que havia um currículo meu no site. Falei dos livros com os quais tive muito gosto de trabalhar.

E fiquei pensando, pensando... falso revisor poderia ser um montão de coisas. Um indivíduo que se faria passar por revisor para pegar o dinheiro do cliente. E não apresentar absolutamente nada de produto. E sumiria do mapa. Um golpe. Ou um sujeito que se apresentaria como revisor, mexeria no texto, e o resultado... um horror.

Poxa vida! O que seria mesmo um falso revisor? Quem sabe um cara perverso, que em vez de sanear o texto do cliente, acrescentaria muitos erros, e destruiria a única versão original do trabalho. E o cliente seria levado em camisa de força para o hospital ao perder um texto que levara vinte anos para escrever. E do qual não fizera backup. O revisor, sádico, assistiria a tudo pela tevê: internação do cliente em grande estilo. Na mão esquerda, uma cerveja long neck; na mão direita, um punhado de tremoço. Esse revisor mastigaria sempre com a boca aberta e não usaria guardanapo, mas a manga da camisa. Como nos filmes. Adoraria cuspir no chão e principalmente em textos. Dos best-sellers e clássicos, ele arrancaria as folhas e usaria para forrar o chão no lugar em que o gato costuma fazer cocô. Só a bíblia ele respeitaria, calçando o pé da cama com ela.

Um falso revisor não teria princípios, só fins, e os mais torpes. Dentre os revisores de verdade, seria o único com carteirinha, claro que falsa. E vocês sabem como é difícil ver revisor de carteirinha.

Só fui parar com essas elucubrações às três da manhã. Encerrei quando me pareceu ter ouvido uma vozinha: "A tal pessoa só lhe mandou arquivos pps e de vídeo, entupindo sua caixa de e-mails, nada de textos para revisar. Quando se tratar de falso cliente, pare de ficar pensando em falso revisor".

Pronto, aí eu dormi.

Aristides Coelho Neto, 5 set. 2009

Comentários (3)

Voltar