TEXTOS DO AUTOR

CÃO DE GUARDA SEM HÍFEN, PRA CONTRARIAR O VOLP

Cão de guarda tem hífen? E a translineação moderninha da ISTOÉ, é nova tendência? Josué Machado, da revista Língua Portuguesa, responde. E quanto ao assunto do uso do hífen, é enfático: "Com o Acordo não melhora nada".

 

De: ari
Para: luizcosta@editorasegmento.com.br

Enviada em: terça-feira, 16 set. 2008 17:36

Assunto: P. 32 (Revista Língua Portuguesa)

 

Prezado Luiz Costa

Editor da revista Língua Portuguesa

 

Gostaria de tocar em dois assuntos, deixando claro que não é minha intenção ver estes apontamentos publicados na revista Língua Portuguesa:

 

1) Matéria "Hora de remarcar os dicionários", de Josué Machado, p. 32 — Parabéns ao Josué Machado! Muito elucidativo o texto. Quando o autor se reporta num box de pé de página a hífen em locuções, inferimos esteja ele se referindo a situação atual, e que permanecerá, mesmo com o Novo Acordo:

 

Não se usa hífen nas locuções (substantivas, adjetivas, pronominais, verbais, adverbiais, prepositivas ou conjuntivas), como em: cão de guarda, fim de semana, café com leite, pão de mel, pão com manteiga, sala de jantar, cor de vinho, à vontade, abaixo de, acerca de, a fim de que. São exceções algumas locuções consagradas pelo uso. É o caso de expressões como: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao-deus-dará, à queima-roupa.

 

A grafia de "cão de guarda" deu pano pra manga dia desses numa comunidade de revisores no Orkut. Eduardo Martins, Houaiss e Aurélio (e agora Josué) em defesa de "cão de guarda". VOLP e Michaelis afirmando que a grafia correta é com hífen: "cão-de-guarda".

Eu pessoalmente, fico com o termo assim mesmo, sem hífen, embora referendado pelo VOLP. Mas não vejo problemas em aceitar o termo com hífen, já que existe amparo do VOLP e Michaelis. Nós, revisores, a meu ver, se encontramos algum tipo de menção, em fonte fidedigna, a determinada forma de grafar, isso basta para dar credibilidade e sustentação ao partido adotado perante o cliente. Afinal, o raciocínio com nossa língua muitas vezes não é matemático.

Sempre corrigi de "sócio-econômico, sócio-político, sócio-ambiental" para "socioeconômico, sociopolítico, socioambiental". Mas deparei em "Só Palavras Compostas", de M. T. Piacentini, com argumentação para as primeiras formas, ou seja, com acento e hífen. Embora eu não as aceite, pode existir cliente que sustente a utilização com hífen dentro do seu texto.

 

Josué Machado teria algo a dizer? principalmente sobre "cão de guarda"?

 

2) A penúltima edição da ISTOÉ traz problemas de translineação seriíssimos a meu ver. Coisas como "ex-emplo, leg-islativo" sugerem tenham os revisores sido despedidos em massa. Alguém, no entanto, me diz que essas inovações refletem uma tendência, ou seja, uma hifenização mais solta, sem qualquer tipo de regra, para as palavras que não cabem na linha.

 

Eis a questão: descuido de revisor para com matérias de vários autores na ISTOÉ? ou tendência maluca mesmo? [ver Hi-fe-ni-zan-do ou infernizando a vida dos leitores]

 

Atenciosamente,

Aristides

 

De: Edgard Murano
Para: ari

Enviada em: segunda-feira, 29 set. 2008 10:45

Assunto: Re: Vcs se comunicam por e-mail, prezada Rachel Bonino?

 

Caro Aristides,
segue abaixo a resposta de Josué Machado às suas interrogações:

 

 

Caro Aristides:

 

Sim. Assim são e assim serão as locuções. O Acordo alinhou "cão de guarda" entre as locuções substantivas que devem ser grafadas sem hífen. As outras substantivas citadas: “fim de semana” e “sala de jantar”. De todo modo, como escrevi, o problema do hífen sempre foi pessimamente resolvido. Com o Acordo, não melhora nada. Perguntei brincando ao Bechara por que não acabavam com o hífen. Ele respondeu sério que havia muitas implicações.

Nem adianta tentar justificar certas formas, como faz a Maria Tereza Piacentini. Nas questões de grafia, o jeito é seguir o VOLP e os melhores dicionários. Que, aliás, discordarão de algumas das formas do VOLP por muito irracionais. E o VOLP tem de se basear nas ralas especificações do Acordo.

A propósito, o Bechara lançará livro com sugestões para corrigir as contradições do Acordo; elas só foram verificadas quando os lexicógrafos contratados pela ABL examinaram detidamente o rol de todas as palavras. Por exemplo: "bico-de-papagaio", com hífen, será o nome da planta; a doença da coluna vertebral será "bico de papagaio", sem hífen – solução que me parece sem sentido. Como se houvesse o bico legítimo da ave na lomba da criatura dolorida.

Quanto às divisões silábicas da IstoÉ, trata-se de grosso descuido.

 

Abraço

Josué Machado

 

 

AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO

De: Edgard Murano
Para: ari
Enviada em:segunda-feira, 29 set. 2008 14:42

Assunto: Re: Obrigado Edgard. Segue pedido autorização divulgação...

Pode sim, Aristides.
Um abraço,
Edgard

De: ari
Para:Edgard Murano
Enviada em:segunda-feira, 29 set. 2008 12:33

Assunto:Obrigado Edgard. Segue pedido autorização divulgação...

Prezado Edgard,

Obrigado a você e ao Josué.

O assunto ventilado aqui tem relação com meu artigo http://www.aristidescoelho.com.br/ver_revisor10_conteudos.php?codigo_revisor10_conteudos=123 em meu site.

Gostaria de saber se posso divulgar a ponderação do Josué em meu site, e no orkut, onde surgiu a discussão sobre "cão de guarda".

Aguardo sua resposta

Ari

Comentários (3)

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