TEXTOS DO AUTOR

MAMONAS ASSASSINAS SÃO REPATRIADOS E DEIXAM SAUDADES

Na alegria que espalharam até aquele dia de março de 1996, será que os rapazes agora são santos? ou estão cheios de dificuldades do lado de lá?

 

Escrevo ainda sob o impacto da queda do avião de ontem – sábado, 2  de março de 1996 –,  quando os cinco integrantes do grupo musical Mamonas Assassinas foram drasticamente reconduzidos à verdadeira pátria: a espiritual.  Após o show em Brasília, o fim de uma viagem e o início de outra.  Parentes, amigos, milhares de fãs saudosos aqui.   Certamente, alegria de reencontros no Mais Além...   Nós, que somos espíritas, sabemos que temos pessoas queridas também do lado de lá.  E que nos aguardam com alegria, principalmente quando fomos vitoriosos em nossa estada na Terra, cumprindo a programação previamente estabelecida para a atual existência.

Mas, os Mamonas  foram vitoriosos?  Ou não?  Ora, quem sou eu para julgar!  Se no decorrer destas linhas arriscar-me a isso, desconfiem.   Não sei nada a respeito da vida privada de cada um dos cinco, nem de como se relacionavam com as pessoas.  Só sei que meus filhos vibravam com as suas músicas malucas, de letras irreverentes.  Sei também que, certa feita,  ouvi minha mãe, de 76 anos, cantando Mamonas no banheiro.  Em outras oportunidades arriscou alguns passos ao som do Vira-Vira e da Brasília Amarela.   Eu, pessoalmente, tirei duas músicas do famigerado repertório no violão.  No mesmo violão que toco também hinos cristãos e outras músicas que nos enlevam e nos fazem sintonizar com Deus.  Sou espírita, sim, mas tento não ser chato.  Não me condenem ainda.  Vamos até o final.

Polêmicos, os Mamonas?  Debochados? Usavam de vocabulário chulo?  Isso eu posso afirmar que sim, haja vista a proibição de suas músicas em algumas rádios, aliás, o que não impede que as pessoas escutem.  E se algum espírita proibiu seus filhos de ouvir os Mamonas, podem acreditar, eles foram ouvir as  maluquices na casa dos amigos...  Suas músicas eram eletrizantes?  Sim, eram.  Fácil de comprovar.  Se alguma vez você parou em frente à tevê para assistir ao Dinho fantasiado, correndo pelo palco, então a música e a coreografia – mesmo  sendo besteirol –  eletrizaram você também. 

O  leitor chegou a notar, pelas reportagens na televisão, a quantidade de crianças que veneravam os rapazes?  Repararam nas carinhas de tristeza com a sua partida?   Bem, daí podemos tirar algumas conclusões.   Em menos de um ano de sucesso o quinteto aloprado promoveu a alegria de milhares e milhares de crianças, jovens e adultos.  Para condenar os rapazes por divulgar futilidades, antes precisamos nos lembrar:  “atire a primeira pedra aquele que não tiver pecado”.   Nosso cultivo às futilidades podem estar em outra escala, podem acontecer de outra forma, no nosso dia-a-dia.

E quanto à disseminação da alegria?  Quantos de nós temos  promovido alegria para os que nos cercam?  Se promovemos, mas não contamos com os meios de comunicação a nosso dispor,  a prodigalização da alegria  acontecerá de forma bem restrita, vocês hão de concordar.   No caso dos Mamonas  eles inundaram as casas de alegria, numa proporção que só o meio televisivo proporciona, paralelamente à forte penetração  das rádios AM e FM.

Vem a pergunta: como pesar os méritos e deméritos dos Mamonas?  Quantos pontos contra e a favor na balança divina?  Quantos bônus-hora, se tiverem?   Será  que a justiça de Deus os levou “para barrar uma escalada” que em nada contribuiria para a elevação moral das criaturas?  Por favor, isso nem pensar.  Estiveram na crista da onda por muito pouco tempo.  O que passavam era até ingênuo, diante do quadro que nos apresentam os noticiários.  Ou são agora santos, pela nossa hipocrisia, que entroniza aqueles que já passaram desta para outra?  Não nos preocupemos.  Os rapazes não são “espíritos de luz, que passam a tocar em outra esfera”, como ouvimos  na tevê, da boca de uma médium vidente que fez previsões sobre o desencarne coletivo do grupo.  Mas, temos certeza, o quanto de bem os Mamonas fizeram, só Deus sabe. E  levará em conta tintim por tintim.

Usando as mesmas palavras do desbocado mamona Dinho, perto do Natal, no Programa do Faustão: “Fiquem com Deus, rapazes”.   E como disse Valéria, a sua namorada:  “Vamos orar por eles”.    

Aristides Coelho Neto (3.3.1996)

Comentários (3)

Voltar