TEXTOS DO AUTOR

Quem escreve

Carmen Cinira (1902-1933), em poema de rara beleza, leva-nos a meditar sobre a força da palavra, sobre seu efeito multiplicador e sobre a responsabilidade que pesa sobre o emissor. E é Clarice Bury que nos brinda com traços biográficos de Carmen.

QUEM ESCREVE

 

Quem escreve no mundo

É como quem semeia

Sobre o solo fecundo...

 

A inteligência brilha sempre cheia

De possibilidades infinitas.

 

Planta

Uma ideia qualquer onde te agitas,

Semeia essa ideia pecadora ou santa,

E vê-la-ás, a todos extensiva,

Multiplicar-se milagrosa e viva.

 

Sem tanger as feridas e as arestas,

Conduze com cuidado

A pena pequenina em que te manifestas!

Foge à volúpia das maldades nuas,

Não condenes, não firas, não destruas...

Porque o verbo falado

Muita vez é disperso

Pelo vento que flui da Fonte do Universo.

 

Mas a palavra escrita

Guarda a força infinita,

Que traz resposta a toda a sementeira,

Em frutos de beleza e de alegria

Ou de mágoa sombria,

Para os caminhos de uma vida inteira.

 

Carmen Cinira

COELHO NETO, Aristides. Além da revisão – Critérios para revisão textual. Brasília: Senac-DF, 2008, p. 90

GAMA, Ramiro. Lindos casos de Chico Xavier. São Paulo: Lake, 1981. 12. ed., p. 103

___________________________________________________________ 

 

Carmen Cinira (1902-1933) era o pseudônimo da  poetisa brasileira  que nasceu Cinira do Carmo Bordini.

Sua primeira obra foi Crisálida (1925). Em seguida nos brindou com Primeiros voos (1927), que trouxe prefácio de Osório Duque Estrada. Em 1929 surgiu Grinalda de violetas. Após sua morte, os amigos reuniram os últimos versos que ela havia escrito. E foi Paulo Gustavo que cuidou de publicar em 1934  o volume Sensibilidade. Foi considerada, num concurso promovido pela revista “O Malho”, como a maior das poetisas daquela época.

Os versos de Cinira, coloridos e vibrantes, consagraram-se nos meios literários brasileiros, o que levou Mário Linhares, da Academia Carioca de Letras, a afirmar: "Em sua lira tudo era vibração, amorosa como um epitalâmio (canto ou poema nupcial) anacreôntico (composição poética no estilo de Anacreonte). Foi uma inteligência irrequieta que se desabrochou em florações esplêndidas como uma rubra flor de luz aberta aos ósculos das manhãs festivas”. Sobre Cinira, escreveu Humberto de Campos: "Felizes os mortos que, uma semana depois de sepultados, ainda têm amigos na Terra!”

Clarice Bury, biógrafa e amiga da poetisa

Comentários (3)

Voltar