TEXTOS DO AUTOR

RIO PRETO, NA ROTA DOS ASTEROIDES... vale a pena reeditar?

Se eu fosse reeditar a obra "Rio Preto — na rota dos Asteróides", apresentaria algumas notas dos bastidores... e algumas palavras de leitores especiais, como os rio-pretenses Marconi, Altino Marques, Márcio Berti, Nilce Lodi, feitos à época do lançamento.

Eis alguns comentários dos rio-pretenses Olinda Marconi, Milton Marconi, Altino Bessa Marques Filho, José Márcio Berti e Nilce Lodi, feitos à época do lançamento de Rio Preto – Na Rota dos Asteróides. Eles estão inseridos ao final deste texto. Se eu fosse reimprimir o livro Rio Preto – Na Rota dos Asteróides, lá na página 283 da primeira edição de (Em tempo), o novo texto seria mais ou menos como se segue. Como não vou reimprimi-lo, contento-me com a edição virtual que está na web. É uma carta ao jornalista Lelé Arantes que inicia a página 283. Nela eu me reportava a março daquele ano de 2000, quando apresentara os originais ao então prefeito de Rio Preto. O objetivo seria conseguir patrocínio, parcerias com empresários. Comento que Liberato Caboclo folheara interessado os meus originais e massageara-me o ego. Mas não conseguira me ajudar concretamente. Dizia eu ainda na carta ter procurado o então deputado Edinho Araújo em Brasília, mas que ele não pudera me atender.

Na carta ao Lelé, constante da primeira edição, falo de queima de neurônios na empreitada de fazer o livro, de noites maldormidas, de frustrações na busca de patrocínio. E que sou teimoso, que me virei, vendi rifas, e o livro se materializou às minhas expensas, com a ajuda de muitos personagens, amigos de verdade. E que haja personagens no livro, parece lista telefônica.

Ainda nessa carta, dei ênfase ao Dicionário Rio-Pretense, de autoria de Lelé, porque me foi muito útil. Mas todos sabem que Lelé não é cara de uma obra só. Tem dado uma inestimável contribuição a Rio Preto – são dezenas de obras de valor que estão sendo materializadas com a ajuda desse dinâmico jornalista e editor. Se encalham nas livrarias é porque o rio-pretense, e todo mundo hoje em dia por sinal, lê pouco mesmo. Andei mencionando na primeira edição que o metrô de Brasília não inaugurava nunca. Errei. Ele já foi inaugurado umas três vezes. Quando saiu o livro, já o fora duas vezes. A terceira ocorreu em abril de 2001. Em matéria do Diário da Região entenderam que leciono na UnB. Apenas me formei lá. Com uma nova edição, acho comum – e muito pertinente – aos autores sentirem comichões de corrigir falhas, de atualizar. Com esse preciosismo sadio, de principalmente querer eliminar as detestáveis erratas – sinônimos de que falhamos em algumas partes –, quem lucra é o leitor. Fiz o que pude para melhorar esta segunda edição (imaginando uma reedição que não haverá...). Mas quanto a atualizações, senti que seria impossível. Muita coisa (ou tudo?) muda a cada minuto que passa. E isso é muito natural. As páginas 41, 42, 51 de Rio Preto – Na Rota dos Asteróides exigiriam novas pesquisas para atualizar datas de falecimento de muitos artistas de cinema. Havia um erro na página 43 que me incomodava muito – foi obviamente o Cine Rio Preto, e não o Praça Shopping, que foi inaugurado em 24.12.1940. Quando falamos (p. 32) de “balangar, virar cambota, pegar beira”, regionalismos do interior, esquecemo-nos de citar que pinga com limão era “chiboca” e lagarta era “bigato”.

Hoje quando leio (p. 62) sobre os meus contorcionismos para saber o nome da música Quarto Centenário, de Mário Zan, fico achando que é muita falta de cultura musical de minha parte.

Duas notas de rodapé, 157 (p. 92) e 194 (p. 106), dizem de Helaine Munia. Deixemos assim, em duplicidade. Imaginem, com a supressão de uma, ter de renumerar o resto. Helaine é especial. Nilce Lodi merecia duas também, nessa abundância de notas.

Às páginas 18, 20 e 22, as considerações do personagem Abílio serão mais bem entendidas se o leitor folhear o Álbum Ilustrado da Comarca de Rio Preto (1927-1929). Se ele realmente dialogou com Armando Coelho, meu pai? Ora, mas que pergunta! Claro que sim! ou claro que não? Bem, vale o conteúdo da conversa.O leitor pode observar no livro muitas fotos de minha autoria. As fotos antigas de Rio Preto e região são de autoria de Theodoro Demonte, exceto a da Catedral de São José, de 1949 (ou seria dele?). As mais de mil fotos contidas no Álbum da Comarca – quando não era costume o crédito acompanhar cada foto – são de Demonte. Ele passa a ser então, neste livro meu, o ilustre companheiro no ofício de registrar imagens. Como “colega”, agora, tenho de revelar que sei algo sobre ele. Morava, em 1928 (vinte e um anos antes de eu nascer), ali na rua Plínio de Godoy, nº 19, perto do vigário da paróquia, perto do José Pedrosa, perto do Rio Preto Esporte Clube. Plínio de Godoy era a rua do Ponto Rio Preto, do Romeu Ferrari... Nosso fotógrafo, nascido na Itália, também era cineasta e engenheiro. O telefone de Demonte era o 245 e, na lista telefônica inserida no Álbum, seu nome está em caixa-alta. As fotos dele são preciosidades, principalmente pelos recursos disponíveis naqueles tempos idos. Sua competência está exaustivamente demonstrada no Álbum, o mais volumoso e o mais detalhado documento já editado sobre São José do Rio Preto, que teve por organizadores Abílio Augusto Abrunhosa Cavalheiro (português, jornalista) e Paulo Laurito (nascido em Franca, jornalista).

Em poucas linhas, passo a discorrer sobre aquilo de que tomei conhecimento desde os lançamentos do livro em julho/2000, em Rio Preto – no Café Vereda Cultural, do Carlos Eduardo e Sandra. E em agosto/2000, em Brasília – no restaurante Carpe Diem.

Em Rio Preto, segunda quinzena de julho de 2000, fizemos um pré-lançamento. Poucas pessoas apareceram. Já em 29 de julho, tivemos mais sucesso, graças à então candidata a prefeita Ivani. Não sem antes surgirem murmúrios de que o que eu havia escrito sobre Aloysio Nunes não fora apropriado. O deputado José Carlos Vaz de Lima julgou que tais cismas não vinham ao caso. Isso soou-me como respeito à obra e à minha liberdade de expressão. Quando escrevemos, convenhamos, a vez é nossa. E além de patrocinar o coquetel no Café Vereda, ainda comprou cinqüenta exemplares, uma significativa parcela do que eu devia na gráfica. A casa lotou e até o ministro Aloysio compareceu. Apenas uma gafe no evento patrocinado pelos tucanos – minha filha Aline vendeu um livro ao ministro. E ele, gentil, pagou direitinho.

As repercussões de Rio Preto – Na Rota dos Asteróides foram interessantíssimas. Tony Jalikji (p. 150), quando eu lhe disse que meu livro estava editado, insistiu na mesma tecla da autoria: “Aquelas fotos não são minhas”... Ufa! Confio mais nos meus apontamentos. Poderia descrever a roupa que ele usava em julho de 64, em seu estúdio adaptado em uma casa da Coronel Spínola, quando clicou a sua câmera e registrou a imagem dos Asteróides. Dinorath do Valle me ligou após ler o livro. Eu já estava em Brasília. Usou uma alternância esquerda–direita ao conversar comigo por telefone. Com a mão direita ela me afagou, disse que sou um escritor, que administrei bem os vaivéns de minha viagem pelo tempo. Um elogio valioso, vindo dela. Com a mão esquerda me bateu, por causa da página 235. Não me lembro se foi nessa ordem de mão. A página 235 contém comentários sobre a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Eu deixo no ar se Dinorath teria sido ou não uma “marchadeira”. E ela não gostou. Mal sabia ela que eu tinha informações seguras da sua participação, por meio de uma pessoa que estava caminhando ao lado dela no famigerado evento na época. Na verdade, muita gente que participou pensava estar cumprindo com um dever cívico. E não imaginavam que estariam corroborando para a instalação de um período negro na nossa história – vinte anos de ditadura militar. Imaginem, com o decorrer do tempo, falar em democracia para quem quer que fosse, tendo participado da marcha... Dava um mal-estar, com certeza. Mas isso ocorreu com muita gente. Coisa natural.Voltando a julho de 2000, a segunda quinzena em Rio Preto foi movimentada. A mídia prestigiou o lançamento, e fui entrevistado na TV Record e no Canal 16 e em várias rádios. Roberto Souza, da Brasil Novo, empolgado que fazia gosto, falou sobre o livro em seu programa durante uma semana. A matéria feita pelo SBT contou com imagens externas. E optamos por ir à casa do Zezão, um dos músicos mais antigos de Rio Preto, lá na Boa Vista. Na oportunidade, ele falou do livro, da Jazz Paratodos, e do passado rico e distante. Prestigiado, declamou suas poesias diante da câmera profissional. Ao fundo, um rádio a válvula. Foi a glória para ele. Lia-se no semblante.

Menções ao lançamento, de meu conhecimento, foram feitas pelo Diário da Região (29.7.2000 e 1º.8.2000) e pela Folha de Rio Preto (23.7.2000). Algumas, em Brasília. Com a disseminação do livro, apareceram colegas e amigos de longe, pelas vias da internet, por telefone, às vezes ao vivo. “Você não imagina como seu livro me fez bem. (...) poder mostrar fotos e comentar com meus filhos e parentes os bons tempos de música que tivemos . O único detalhe é que a saudade dói”, afirmou José Márcio Berti, que acrescentou a escaleta aos Cometas. Foi ele quem solou Czardas, no concurso Guitarra de Ouro, mencionado pelo Toninho à p. 122.

Muitos outros, como Gilberto Borges, Cláudio Penteado, William Corrêa de Andrade, como Bernardo de Felipe Júnior (este, hoje em Brasília), teriam a acrescentar aos nossos relatos. Bernardo sabe de muitas e boas do velho Instituto de Educação. Infelizmente, o nosso encontro foi extemporâneo, como a maioria. Não faltarão oportunidades de alguém valer-se desse imenso material que jaz somente na memória das pessoas.

Em Brasília, encontrei pessoas que conviveram na infância com o radialista Petrônio de Ávila e que poderiam enriquecer as minhas pobres referências a ele (págs. 85, 163, 184 etc.). Mas chegaram tarde.

Pena não encontrar antes o Pedro Bonilha para falar das agruras do Golpe de 1964. Quanto a Amaury Júnior, mesmo após ter recebido meu livro em mão por pessoa de sua família, manteve-se em silêncio. Ou será que não recebeu? Ana Maria Braga, por ter vivido em Rio Preto, também recebeu um exemplar. Não se manifestou. E nem seu parceiro, o papagaio Louro José.

Bem, falemos de coisas agradáveis – as manifestações de julho de 2000 que não saíram em jornais, mas que peço licença para reprisar.

Irmãos Marconi, Olinda e Milton – ela artista plástica, ele bibliófilo: “É um livro para ler-se de um só fôlego e foi como o lemos. Como se folheássemos o diário de qualquer um de nós, pessoas simples, que no seu cotidiano, fizeram uma parte da história da nossa querida Rio Preto”, disse ela. “Aristides, em seu despretensioso resgate, e na vontade de homenagear pessoas, algumas delas relegadas ao anonimato, nos emociona, fazendo voltar a nossa memória fatos que deixaram marcas no cenário de Rio Preto”, acrescentou Milton, em meio à sua coleção de primeiras edições, de inestimável valor.

Nilce Lodi, historiadora, então presidenta do Comdephact:
“É um livro de relembranças – as lembranças mais fortemente arraigadas na memória do autor. Lembranças da infância, dos jogos e das brincadeiras; da juventude, da música e dos músicos; da cidade. Boas lembranças de um tempo que ficou registrado na memória de todos aqueles que viveram experiências semelhantes. Revela aos mais novos, uma cidade simples, ingênua, cheia de encantos, através dos olhos de uma criança, e resgatada, agora, pelo autor. Começa contando sobre um tempo das conversas, das histórias, no quintal, na cozinha, na calçada (p. 36) e vai muito mais além. Ari está de parabéns pelo belo trabalho com que nos presenteia e enriquece a bibliografia sobre nossa cidade e região. Só alguém capaz de amar sua terra natal, sem constrangimentos, é capaz de revelar o dia-a-dia vivido com intensidade, em todos os detalhes e significados pessoais. Memorialista por vocação, ele nos dá a sua visão da história da cidade em que viveu, cidade que cresce a cada dia e vai desaparecendo pouco a pouco, dando lugar a uma metrópole com novos encantos, mas sem o sabor dos anos 50 e 60. Décadas em que cantar fazia parte integrante do viver com intensidade, seus ideais e suas esperanças. Recomendo o livro Rio Preto – Na Rota dos Asteróides (Fragmentos da História de Rio Preto) de Aristides Coelho Neto, especialmente aos jovens de ontem, de hoje e de amanhã.”

Altino Bessa Marques Filho, psiquiatra e músico, também protagonista do livro, rápido e rasteiro nos comentários:

“O que dizer sobre a essência de nossas vidas reportada magistralmente nas trezentas páginas de Rio Preto – Na Rota dos Asteróides? Só apelando para a alta prosopopéia: ‘É simplesmente inefável! Ou para a saborosa fala da nossa região: – Ê, esperto Aristides! Achemo é poco! Queremo ôto! Nóis é chique no úrtimo...’”

Sou grato a todos que me doaram o seu tempo e atenção de alguma forma. Com base na lei da oferta e da demanda, é o que as pessoas têm de mais precioso em tempo de correrias. Muita paz a todos.

Aristides Coelho Neto

Brasília, 25 de março de 2006

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