TEXTOS DO AUTOR

O AVIÃO QUE TINHA MOTORISTA...

Nunca atormente motorista nem piloto de avião. Ele tem você na gaveta, está no comando da nave carregada de gente. E com você dentro. Ele tem de estar bem calminho e sereno. Um caso da Viação São Raphael e outro da Passaredo Linhas Aéreas...

Quando a gente viaja tem de estar preparado para qualquer percalço. E relaxar. Caso contrário a viagem, que tinha o fito de amenizar seu estresse do dia a dia, passa a ser um tormento. E a gente relaxa, relaxa... mas às vezes não há como.

Imagine você não poder usufruir dos lugares marcados que comprou com muito mais antecedência do que todos naquele ônibus. Compramos três lugares enfileiradinhos para dar mais assistência à neta de cinco anos. Mas naquele dia havia dado uma pane no sistema de vendas da Viação São Raphael. E foi um salve-se quem puder.

E o motorista, comandante da nave, que reina naquela comunidade transitória, ainda me pede para “colaborar”. E a gente tenta. Leva tudo na esportiva, como se costuma dizer. Quando a gente quer sossegar, lá vem um filme escolhido a dedo. Cenas de sexo, gemidos mil, sexo oral para completar. Não era explícito como os filmes pornôs, mas era quase. Diga-se de passagem, não apareceu nenhum órgão genital, pelo menos isso... Pra completar, uma cena com detalhes de um aborto clandestino.

Passeei pelo corredor. Se alguma criança – havia muitas – estivesse acordada, eu ia me indispor com o “comandante”. Relevei. Faria uma queixa depois, com mais calma. Nunca reclame de um prato se vai permanecer no mesmo restaurante. O cozinheiro vai cuspir na sua comida. E você não vai nem perceber. E jamais atormente um motorista. Ele tem você na gaveta, está dirigindo um ônibus carregado de gente. E com você dentro. Ele tem de estar bem calminho e sereno.

Esse fato se deve à falta de sensibilidade no planejamento, nas seleções. Colocar pessoas despreparadas em determinados cargos dá nisso. Quem escolheu o filme? Sei lá. Alguém que não tem o mínimo bom senso.

E avião? Você tem medo de avião? Se tem não gostaria de saber que todas as portas dos maleiros internos de umas seis fileiras da frente da aeronave ATR 72 da Passaredo estavam quebradas naquela viagem do começo de janeiro. Não havendo tampas nos maleiros, os passageiros tinham de acomodar seus pertences em outros maleiros que fechassem. A impressão de desmazelo enseja desconforto e desconfiança,  não é mesmo?  Se falta uma tampa, será que não falta um parafuso importante no sistema que mantém o avião no ar? Sei lá...

Sabia que pouso e decolagem são os momentos mais críticos de um voo? Se você é medroso mesmo, não gostaria de ouvir o que foi dito pelo microfone na hora do pouso em Ribeirão Preto. Claro, pra todo mundo ouvir, isso mesmo! “Esse negócio aqui está meio maluco, não é, cara?” Qual negócio estaria maluco? O controle de flaps? os computadores de bordo? ou aquela peça-chave do motor? Nunca saberemos. O jeito é relaxar.

A comissária, posicionada para a aterrissagem, sentada de costas para a cabine do piloto, olhando para nós todos, esboçou um leve sorriso ao ouvir o disparate que todos ouviram. No fundo deve ter ficado também com o coração apertado. Passaredo passamedo...

Em suma, não tenho muitas sugestões para a Passaredo Linhas Aéreas e nem para a Viação Raphael, a não ser algo que me ocorreu neste instante.

A Viação São Raphael, já que vive “no ar” (o sistema é que é fora do ar), poderia lançar-se em viagens aéreas. E a Passaredo, pelos problemas relatados, devia lançar-se no ramo de transporte terrestre. Falta de manutenção e cuidado, melhor que seja ao nível do solo.

Aristides Coelho Neto, 13.1.2013

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NotaOs fatos aqui narrados são verossímeis, a saber:

1) SÃO RAPHAEL (ônibus), trajeto Campinas-S.J.Rio Preto, horário 12h20, dia 5.1.2013, sábado – Bilhetes 23900 a 23902, comprados com 5 dias de antecedência pela web; 

2) PASSAREDO – voo  2205, trajeto S.J.Rio Preto-Ribeirão Preto, horário 5h20, dia 8.1.2013.

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