TEXTOS DO AUTOR

ENTULHOS DO SUBCONSCIENTE (ou a farra da pós-graduação sem esquentar a cadeira)

Você pega os seus recalques e os verbaliza. Se dá certo? Pode ser que sim! Esta é a primeira experiência, em que o tema foi pós-graduação em picaretagem.

 

Minha terapeuta havia dito e reprisado — coloque no papel tudo o que lhe vier à cabeça. Frustrações, raivas, desilusões, vontade de bater, vontade de falar, de chutar, de esbravejar, tudo sem censura, tudo que estiver reprimido. Entulhos. Não precisa trazer nada escrito. Escrever vai funcionar apenas para você se lembrar...

Repassei o que poderia estar mal resolvido. Mas naquela hora só me vinha à cabeça o curso de especialização em Gestão Pública. Foi em agosto de 2010. Nossa! Já se passou um ano e meio! Esse entulho atravanca a minha vida.

Pesquisando inconsciente

Alguns colegas haviam tomado informações sobre o famigerado curso. Preço: mil reais. Cinco dias de aula à noite, que se transformavam num certificado de pós-graduação de 480 horas.

Alguns colegas, porém,  lá estiveram e perceberam a picaretagem. E caíram fora. Não sem antes comentar, cada um a seu modo. Uns, inconformados. Outros, só desiludidos. Outros mais, acostumados.

E comecei a sentir baixar aquele meu espírito investigativo. Liguei. Havia um telefone. O local do evento pirata era ali no Setor Hoteleiro Norte.

Tratava-se da super Faculdade de Tecnologia Equipe Darwin. Com sede, quem sabe (nunca se pode confiar em quem está sendo investigado pela polícia), em Cocalzinho. Campus avançado em Taguatinga, afirmam.

Disse eu por telefone para o Edelson, filho da diretora Edilene de Paula Cunha, que, dos cinco dias propostos para o curso, só poderia assistir a dois dias de aula. Sim, eu disse dois! E fui aceito. Desde que pagasse, obviamente. Como eu declino o nome completo dela? Ora, está nas reportagens sobre o assunto, tanto na internet como no Correio Braziliense.

Soube também que o curso teria começado em fevereiro, seis meses antes. Se teria mesmo, raciocinem comigo, não faz a menor diferença. Estávamos em agosto de 2010. As aulas daqueles cinco (ou dois, ou um) dias eram a título de "reposição". Se foram assinadas listas de presença anteriores? Ai, ai, ai, será? Falsidade ideológica, esse o nome?

Não, minha gente, nada de apostila, mas um CD. Um artifício mágico que permitiria ao aluno escrever, depois de quinze dias, um artigo. Nada de monografia. Um artigo, quem sabe de uma lauda, ou menos. Pronto! Feito isso, agora era pegar o seu diploma.

A maioria dos alunos dessa turma pegou mesmo rapidamente os certificados fajutos e os entregou na Secretaria de Governo. E passaram a receber adicional no salário. Soube que,  exatamente no dia 1.12.2011, um amigo comentou esse caso en passant na Gerência de Desenvolvimento e Avaliação de Pessoal da SEG. Eles ficaram assim, assim, olhando, olhando...

Esse foi o meu desabafo para a terapeuta. Sim, era um entulho pra mim. Será que tinha sido válido?

— Quer dizer algo mais? — perguntou a analista.

— Nem pensar, já chega. Quanto mais eu falo nisso, mais me dá gastura.

— Fiz dois cursos nessa faculdade... — emendou a terapeuta.

Ouviu-se um silêncio. Como? se silêncio não se ouve?! Aquele silêncio, no entanto, tinha peso. Mesmo com cara de indefinido, era bem definido e revelador...

— Bem, seu tempo acabou. Vamos marcar o retorno?

— Não, não! Obrigado — disse eu, me levantando de um pulo.

— ...

— Estou me dando alta a partir de hoje. Fui.

Enquanto isso, Charles Darwin se coçava lá na tumba. Por que se utilizam do meu nome dessa forma tão vulgar?

Aristides Coelho Neto, 16.3.2012

Ainda sobre esse assunto, atentar para o segundo caso, dentre os três que estão em: http://www.revisor10.com.br/sys/conteudo/visualiza_lo22.php?pag=;revisor10A;paginas;visualiza_lo22&cod=1100&secao=9.

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