TEXTOS DO AUTOR

A DINASTIA COELHO

Coelho, Lapin, Conejo, uma dinastia? Saiba por que Nicolau Coelho era sortudo e por que Al-Khalili Coelho não assumiu como faraó.

Nicolau Coelho foi o primeiro Coelho a pisar as Terras de Santa Cruz. No curriculum de navegador desse fidalgo português constava ter participado da expedição que descobriu o caminho marítimo para as Índias. Evidente que a sua experiência contou muito para acompanhar Cabral na viagem para as bandas de cá, mas acho que o que pesou mais foi o sobrenome. Um coelho, para fugir do inimigo, (raciocinei como "Um coelho pode...") pode atingir até 100 km/h. Coelho, então, é célere (rapidinho em tudo, até na procriação). Esse atributo, é de se pensar, poderia dar um novo impulso às caravelas. Estas, como sabem, são movidas a vento. E não chegam a essa velocidade nunca. Aliás, uma caravela viaja a 12 nós. Se Cabral insistiu para que Nicolau pisasse primeiro as terras que se chamariam Brasil é porque provavelmente ele sabia que a presença de Nicolau dava sorte, já que por onde andasse tinha dois pés de coelho. Naturais, claro. E naquela época os navegadores precisavam, além de experiência e coragem, de muita sorte. Haja sorte! Conjecturas, essa questão do pé de coelho...

Chopperia Toca dos Coelhos, na QL 5 do Lago Norte

A origem do sobrenome Coelho, acho um tanto incerta. Há notícias de conversões de sobrenome forçadas há muito tempo na Espanha e em Portugal — muitos judeus teriam se convertido e adotado novos sobrenomes para despistar a sua origem, em função das perseguições que sofriam. As paróquias escolhiam tais sobrenomes para os cristãos-novos, sem contar os que recebiam o sobrenome de seus padrinhos cristãos. Num processo inverso, mais tarde, reassumindo a religião judaica, muitos mantiveram o novo sobrenome que haviam adquirido. Assim, surgiram sobrenomes como Diaz ou Dias, Errera ou Herrera, Rocas ou Rocha, Fernandez ou Fernandes, Lopez ou Lopes, e uma gama de denominações de árvores frutíferas (Macieira, Laranjeira, Oliveira). Ou ainda de animais, como Carneiro, Bezerra, Lobo, Coelho, Pinto.

Outra mudança de sobrenomes foi causada pelas guerras. “As pessoas perderam, ou quiseram perder, seus documentos, e se ‘conseguiam’ um passaporte com sobrenome que não denunciava sua origem, para cruzar a salvo uma fronteira, ou escapar do serviço militar.” (ver lá na web em Coisas Judaicas)

Brasão da Família Coelho

Outra corrente diz que Coelho nada tem a ver com judeus.

Lê-se abundantemente na internet que Soeiro Viegas Coelho teria sido o primeiro Coelho, lá em Portugal, no séc. 12. Diz-se, porém, que esse apelido ele conseguira por haver tomado as terras de Coneja. Outros defendem que o seu pai já tinha esse cognome, tirado da Quinta da Coelha. Segundo Diogo das Chagas, “D. Soeiro Viegas ganhou o apelido na guerra que fazia aos mouros”, em função de uma habilidade peculiar — era mestre em cavar canais subterrâneos, chamados “minas”. Por meio desses canais os sitiadores penetravam sob as muralhas ou trincheiras de uma cidade sitiada. Nessa técnica de escarafunchar, Soeiro parecia um coelho. Daí o nome. Sei que coelho é cavucador. Mas há outros animais que melhor representariam a arte de cavar. Tatu, toupeira, por exemplo. Se bem que eu jamais gostaria hoje de me chamar Toupeira.

Há surpresas maiores ainda na internet. A origem da família Coelho remontaria à antiga Roma. Marcus Coelho Rufo era discípulo de Marcos Túlio Cícero, famoso orador, um dos maiores vultos da história da eloquência no mundo. Os Coelhos, da Itália passaram para a Espanha, onde o nome “Coelius’’ mudou para “Cello’’, e daí para Portugal. Quem defende essa tese fala em Soeiro Veigas como tendo vivido no séc. 14 e não 12, como já falamos. O sobrenome, então, passou a ser difundido em Évora, Barcelos, Viseu, Arantes e em outras terras da antiga Lusitânia. “Também a família de Egas Moniz, fidalgo medievo (séc. 12), perpetuou o nome castelhano ‘Coello’ em vários de seus descendentes, aportuguesando-o para ‘Coelho’, tendo sido o solar de Filgueiras entre o Douro e o Minho o antigo senhorio da casa fundada pelo legendário Egas Moniz. Desde então, os Coelhos se firmaram no Reino de Portugal, com seus brasões e foros de fidalguia.”

Eis aqui então um pouco da saga dos Coelhos. Agora vou finalizar com uma pequena surpresa para os senhores.

Coelho Nerd no computador / http://www.papodebar.com/a-historia-etilica-do-coelho-da-pascoa/

Nos idos de 2.550 a.C., Ramsés Al-Khalili Coelho era amicíssimo de Quéfren, o quarto faraó da IV Dinastia do Egito. Vizinhos de porta na adolescência, esses amigos inseparáveis, certa vez, saíram para uma balada no sábado em Mênfis. Registre-se que Quéfren já havia sido empossado no cargo de faraó, ao som do hino nacional egípcio, desfilando numa liteira chiquérrima, precursora do Rolls-Royce. Tomaram muito vinho naquela noite. Quéfren soltava o verbo nessas condições de excesso etílico. Foi assim que Al-Khalili Coelho foi convidado para ser faraó por um mês, nas férias de Quéfren. Coelho não aceitou, por estar empenhado em estudar para as provas finais de um curso de especialização em mumificação que estava fazendo. Se ele tivesse dito sim, a história registraria o faraó Coelho, embora por pouco tempo.

Ao ler esta última parte, um amigo muito sincero apenas disse que não havia dúvidas — eu era mesmo uma múmia.

Aristides Coelho Neto, 7 set. 2011

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