TEXTOS DO AUTOR

MEU AMIGO BENEDITO (mas será o Benedito?!)

A única coisa boa do dia 31 de março para mim é o seu nascimento, sabia? É que a data sempre me lembra o danado do golpe de 64, início dos anos de chumbo no Brasil.

Mas que banho de água fria! Ligo para cumprimentá-lo pelo seu aniversário, e você se revela, logo de cara, magoado comigo há mais de ano!...

A única coisa boa do 31 de março, para mim, é o seu nascimento, sabia? É que a data me lembra o danado do golpe de 64, início dos anos de chumbo no Brasil, me lembra a morte do Kardec em 1869. Se bem que o santo italiano Benedito também nasceu em 31 de março, lá pelos idos de 1526. O René Descartes também, só que em 1596. Imagine só, a Torre Eiffel foi inaugurada no seu dia também, em 1889. Quanto soube que a primeira vez que vigorou o horário de verão nos EUA foi em 31 de março de 1918, lembrei-me do calor aí de Salvador, onde é verão sempre, e que você elegeu definitivamente como sua cidade.

Abobrinha, abobrinhas, abobrinhas...Mas será o Benedito?! Lembra-se dessa expressão? Quando a gente era pequeno, e aprontava alguma, lá vinha nossa mãe ou avó com cara de desapontamento e irritação: "mas será o Benedito?!". Lembra que acompanhava a expressão uma batida das mãos espalmadas, as duas juntas,  na lateral da perna? O barulho das batidas era em uníssono. Às vezes – se lembra? – acompanhavam o desabafo as mãos na cintura, com os braços em forma de asa de bule... Lembra do pé, um só, calcanhar funcionando como mola, batendo compassada e impacientemente no chão? Denotava aborrecimento. E lá vinha: “mas será o Benedito?!”.

Hoje, logo que desliguei, deixei escapar em voz alta: "mas será o Benedito?!".  Benedito magoado por mais de ano sem que eu saiba? Dizendo que me ligou para botar a conversa em dia, e que eu, sem paciência, descartando você, lhe pedi para mandar um e-mail? Ainda mais eu, que tenho usado o e-mail quase que em função do meu trabalho... Admiro e-mails para envio de arquivos importantes, principalmente das revisões textuais que faço. Acho fantástica a facilidade que os e-mails oferecem para envio de fotos. Mas abomino as tantas bobagens que vêm pelas vias da web e lotam as nossas caixas de entrada. Sem falar da escrita quase incompreensível das pessoas que têm pressa, e o texto é rápido, descuidado, como se o tempo fosse a sua maior riqueza. E guardam o tempo para si, como joia rara, sem usufruto.  

Na realidade, convenhamos, a tradução para isso é que eu lhe bati o telefone. No entanto, saiba você, não tenho feito isso nem com o pessoal do Itaú, de obstinados e devotados funcionários que oferecem cartão de crédito. Nem com o pessoal da LBV, que liga e liga e liga pedindo ajuda.  Nem com as trapalhadas da OI, que chega a oferecer o que você já tem há muito tempo, mas que nunca funcionou direito...

Para ser claro, não tenho feito isso, dispensar pessoas, nem com inimigos, quanto mais com amigos que moram tão longe.

Será que em nossa conversa você estaria querendo me mandar algo e eu sugeri usar o e-mail? Não é possível, não é sua praia – você não conseguiu nem me mandar aquelas fotos que tirou lá em Lauro de Freitas, quando eu, em visita à Bahia, esqueci a câmera em Brasília.

Mas sabe o que estou achando mesmo? Que você não conversou comigo. Isso! Se enganou de número de telefone e falou com algum gaiato. Acredita que uma vez eu liguei errado para um determinado número perguntando por um amigo, e quem atendeu me informou que esse amigo estava no banho? Alguém deve ter feito isso com você. Acho que tiraram um sarro, esticando a conversa pra ver onde você ia chegar. Não estou dizendo indiretamente que você é ingênuo. Na verdade, você sempre foi ingênuo. Mas a sua ingenuidade, aliada à sua autenticidade, sempre lhe deu charme.

Outra possibilidade, você mencionando a necessidade de me enviar algo por carta, por fax... Bem, nesse caso, pra você ou qualquer outro eu sugeriria digitalizar e mandar por e-mail. É mais rápido e mais eficiente.

Escute agora. Você, magoado comigo há mais de ano? Enviando abobrinhas mentais para mim? Comentando sobre esse caso fantasioso com amigos?... Curtindo no vinagre? Aliás, você sempre andou curtindo muito essa de ser espezinhado. Haveria algum proveito nisso, realmente? Talvez seja assunto para conversas com os amigos baianos, detalhar o quanto foi pisoteado. Quando acaba em riso leve e solto, tudo bem. Mas, pensando bem, isso pode fazer mal para você. E, claro, para quem recebe os dardos mentais. Quando optamos por nutrir pensamentos negativos, somos os primeiros prejudicados. Quando acendemos luz, também somos os primeiros a nos iluminar.

Andei com umas indisposições inexplicáveis tempos atrás. Dor de barriga, enxaqueca. Será que foi essa mágoa sua? de alcance interestadual?  Pode ser, pode ser, sei lá.

Mas a razão desta carta é dizer que, haja o que houver, sou um admirador inveterado seu. Espero que logo-logo possamos rir juntos dessa malograda comunicação que extrapolou a marca de um ano.

E já que você é o Benedito e mora em Salvador, que o nosso Salvador, amigo de todas as horas, lhe traga muitas alegrias no seu aniversário. Que Benedito seja bendito hoje e sempre. Eu diria a sua mãe que bendito foi o fruto. Ela sabe do filho que teve. E eu sei  do amigo que tenho, mesmo que ele esteja avinagrado.

Aristides Coelho Neto, 31.3.2011

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