TEXTOS DO AUTOR

O QUE SE QUER DE RODRIGO ROLLEMBERG

Será que o que queremos é o mesmo que Rollemberg quer? Tomara que sim. E tomara que ele se oriente bem diante dos atuais problemas do Distrito Federal.

Nesta época, sempre nos vemos impelidos a fazer balanços de fim de ano. E, claro,  planejamentos para o ano que se inicia. Improvisamos um subtotal do que foi o ano, e por isso corremos tanto nos últimos dias de dezembro, na ânsia de cumprir metas não atingidas. E projetamos o futuro, nos colóquios silenciosos com a nossa consciência e com o Pai Criador, a este manifestando nossas aspirações, nossos sonhos, nossos receios e nossas  conquistas.

O ensejo do balanço pessoal, no entanto, neste conturbado final de 2014 (e final de governo), se estende também pela avaliação da gestão do Governo do Distrito Federal – GDF. Depois das complicadas passagens de Arruda, Paulo Octavio, Wilsom Lima e Rosso, difícil imaginar que voltaríamos mais uma vez ao fundo do poço com Agnelo, desta vez, quero crer, mais por má gestão do que por roubalheira.

Diante da delicada situação em que se coloca o governo, somos inclinados a manifestar o que queremos de Rollemberg, governador eleito do Distrito Federal, que toma posse em 1º de janeiro de 2015.

Se fizermos uma pesquisa na rua, ninguém vai deixar de falar de Educação, Saúde, Segurança e Transporte Público. São setores que necessitam da atenção de sempre, diante dos problemas que se avolumam, parecendo não ter fim.

Assim, me limito a falar um pouco do que quero (e muita gente quer). Isso passa pelos temas do combate à corrupção, do respeito às coisas públicas, do planejamento urbano, da fiscalização, dos concursos públicos.

Sabia, Rollemberg? que o complexo administrativo do DF depende de cargos comissionados e artifícios de contratação por meio de empresas terceirizadas para suprir a falta de gente? Sabia que, a exemplo do Instituto Candango de Solidariedade — do qual os políticos se valiam para contratar mão de obra e, obviamente, seus pupilos  —, contratações são feitas por meio de empresas terceirizadas de limpeza e segurança? Como acabar com isso? Concurso público, governador, concurso público. Os agentes fiscais, para se ter uma ideia, estão se aposentando. E não se fala em reposição, e não se fala em concurso público. O que será do Distrito Federal se alguém não abrir os olhos para essa questão?

As invasões crescentes no Distrito Federal, ocupações desordenadas do território, muitas em áreas de preservação ambiental, têm várias causas. Uma delas é a cultura já cristalizada de que basta invadir — o GDF acaba regularizando mais cedo ou mais tarde. Isso continua atraindo mais e mais pessoas para cá. Outra causa é a impunidade.

A indústria das invasões (quando a invasão gera lucro) se faz presente e com o aval dos deputados distritais e/ou candidatos que veem nisso a possibilidade de angariarem um próspero curral eleitoral. Nos discursos, então, nada mais lógico que promessas eleitoreiras de regularização e de (pasmem) acabar com o órgão fiscalizador. Arruda e Frejat bateram exaustivamente nessa tecla.

E ninguém fala em fortalecer esse órgão fiscalizador, engessado por liminares, por influências mil, pela falta de condições físicas para conter as irregularidades — estas avançam de forma desproporcional e no sentido inverso à capacidade da fiscalização. E vem a falta de vontade política, sempre o governo pisando em ovos diante da eventual repercussão quanto aos atos duros e necessários para preservar o ordenamento territorial.  Não queremos isso, Rollemberg.  Estamos na capital da República. Há de se fomentar programas sociais e habitacionais, parcerias com os governos vizinhos, de forma a conter esse fluxo migratório insano na direção do Distrito Federal.

Os planejadores têm estado numa saia justa ao planejar cidades depois que elas já existem — com seus milhares de habitantes — instaladas com diretrizes próprias e empíricas. Haja vista o caso da Estrutural, do Itapoã, do Sol Nascente, do Pôr do Sol.

Nós, da fiscalização, queremos agilidade e apoio para conter o crescimento desordenado da cidade. Queremos uma Procuradoria interna forte e ágil, para dar suporte nas emergências. Queremos liminares derrubadas de imediato, para não frustrar operações que custam dinheiro, já que envolvem a mobilização de muitos agentes públicos.  

E queremos igualdade de tratamento para invasores pobres e ricos, já que o poder do dinheiro, o poder político e o poder de  pessoas do Judiciário se fazem presentes sempre, inibindo ações fiscalizatórias e criando embaraços às erradicações.  Ou seja, obstando o coroamento almejado das ações fiscais.

Queremos a polícia empenhada em combater a ação de malfeitores, sejam grileiros, sejam agentes públicos, como na área de Vicente Pires, em que todos são vítimas da imprecisão da cadeia dominial e da ação de aproveitadores. Queremos mecanismos rápidos do Estado diante do desrespeito à coisa pública. Hoje, por exemplo, não há como fazer uma pessoa que emporcalha os postes e muros da cidade ser obrigada a limpar e reconstituir o patrimônio público à sua condição original. 

Todo invasor se arvora a cobrar a chegada de infraestrutura. E se sabe perfeitamente que o Estado não consegue atender —  estamos diante de uma dinâmica de crescimento incompatível com a estrutura de planejamento, fiscalização e implantação de serviços públicos. 

Não queremos descompromisso e ausência de vontade política nesse sentido. Queremos um governo decidido, isento, imparcial, preocupado com o bem-estar da população. E população não é só quem chega. População é quem aqui está, preocupado com os destinos de nossos filhos e netos.

Falar do que queremos vai encher páginas e páginas. Resta saber agora, Rollemberg — o que você quer coincide com nossos anseios?

Espero que sim. E espero que vá além do básico, atento ao fato de que, nesses quatro anos da gestão que se inicia, você, Rollemberg,  estará escrevendo a sua história. E parte da nossa.

Aristides Coelho Neto, 20.12.2014

NOTA — Sobre a realidade que Rollemberg vai encontrar nos órgãos públicos do Distrito Federal, ver Eleição, tudo vai melhorar ou piorar mais ainda?

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