TEXTOS DO AUTOR

ELA VEIO PRA FICAR

A falta d´água que sempre assombrou o Nordeste agora assombra o resto do país. A crise, ao se alastrar, pode trazer soluções. Esperamos.

Menino bebendo água sujaFalta de chuva, mudanças climáticas globais. Ausência de pudor e falta de punição quanto ao desmatamento crescente. Desperdício. Falta de planejamento e de visão de futuro por parte dos governantes. Tudo levou ao que estamos vendo hoje no Brasil — falta de água que atinge a maior cidade da América Latina, e muitas outras, claro. Resultado: racionamento. E também, quem sabe, de energia elétrica logo logo...

O momento em que a primeira usina hidrelétrica para de gerar energia, e em que as pessoas falam em reúso, não dispensando o esgoto, é motivo para refletir e rever hábitos. Sem alardes, como imaginar as pessoas num futuro apocalíptico se matando por causa do precioso e raríssimo líquido (embora seja possível um dia, convenhamos).

A gente se impressiona ao saber que uma torneira pingando pode jogar pelo ralo 46 litros por dia. E se assusta ao saber que uma torneira fluindo em filete pode desperdiçar de 180 a 750 litros por dia. Imagine dar descarga a toda hora — às vezes sem necessidade —, o que consome de 7 a 10 litros a cada vez que apertamos o botão.  Uma lavadinha de calçada pode significar 120 litros. Pegue sua lata e vá você buscar 120 litros de água lá no “corgo” em quatro, cinco ou dez viagens, pra sentir o volume... E o pior é que usamos água tratada, cara, preciosa.

Tenho olhado a lavação de louça imaginando sempre que abrindo e fechando a torneira consomem-se uns 70 litros. Sem fechar, são 240 litros. O simples ato de escovar os dentes (o tempo médio é de 3 minutos) com a torneira aberta continuamente implica 18 litros. No ato de abrir e fechar, dá pra economizar 16 litros.

Meus banhos têm sido diferentes. Não consigo mais deixar o chuveiro ligado direto, ao saber que outros estão tomando banho de caneca. Um banho de 20 minutos, com o chuveiro ligado ininterruptamente, consome 120 litros de água. Pensando sempre no banho ideal, aquele de 5 minutos, que consome apenas 30 litros de água, tenho tido alguns lampejos com ares de sustentáveis. Bem, para serem plenamente sustentáveis, sei que deveriam passar por um sério estudo de viabilidade.

Por incrível que pareça, ideias mirabolantes têm surgido durante o meu banho. Por exemplo, ando pensando seriamente em mandar nosso lixo, um dos grandes problemas da humanidade num futuro próximo, para o centro da Terra, para derreter a 6 mil graus centígrados. Como fazer? Exequível? Os técnicos é que dariam a palavra final. Bem, isso seria mais fácil com a Marina Silva, convenhamos.  Ou o pessoal do Google.

Ando pensando também em fazer um super-reservatório para águas pluviais. Armazenar a água servida, tanto da máquina de lavar como do tanque.  Mas acabo pensando que é medida individualista e desprovida do efeito multiplicador.

Enquanto estou me enxugando, estendo um pouco mais a reflexão e chego a pensar na famosa corrente do bem — como a do filme com Kevin Spacey e Helen Hunt.  Em vez de começar essas obras de infraestrutura mais racional em minha casa, seria melhor, antes, sensibilizar 10 pessoas para o ato de cortar sua conta de água pela metade tão somente pela atitude. Cada uma dessas 10  disseminaria a ideia para outras 10 pessoas.  Imaginem o resultado em progressão geométrica.

Não, não pensem que essa reflexão mais seca — porque menos molhada — durante o banho tenha prejudicado minha higiene pessoal.

Os banhos têm sido mais rápidos, mas continuo limpinho do mesmo jeito. Então, pense nisso — cortar o consumo de água pela metade. Que tal?

 

Aristides Coelho Neto, 11.11.2014

Comentários (3)

Voltar